Quinta-Feira, 25 de Abril de 2024
Brasil
26/03/2020 14:09:00
Bares e restaurantes pressionam bancos e estimam 6 milhões desempregados
Setor pede linhas de crédito e prazos longos para capital de giro

VEJA/PCS

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Bares e restaurantes estão com salões fechados; alguns ainda operam em sistema de delivery para tentar pagar as contas Ligia Skowronski/VEJA (Foto: Ligia Skowronski/VEJA)

Desesperados com a situação de fechamento dos estabelecimentos, os donos de bares e restaurantes fizeram um apelo a bancos brasileiros para que concedam créditos e condições de pagamentos especiais do setor, um dos mais afetados pelo distanciamento social e determinações de diversos estados e municípios para o fechamento dos salões como medida de evitar a transmissão do novo coronavírus.

Em uma carta entregue a instituições financeiras nesta quinta-feira, 26, durante uma reunião dos setores, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) afirma que, sem ajuda financeira, cerca de seis milhões de pessoas que trabalham no setor podem perder os empregos.

“Vocês estão vendo alguém levantar um brinde e mandar uma porção de fritas de cortesia à sua mesa? Não. Ninguém está fazendo isto. Estamos levando nossos chapéus até vocês. Estendendo o pires. A canequinha surrada. Hoje não temos nada a comemorar. Estamos em terra arrasada”, diz um trecho do documento.

O pedido dos donos dos estabelecimentos é crédito para capital de giro com taxas próximas da Selic (que está em 3,75% ao ano), carência de um ano para início do pagamento e com longos prazos de pagamento, garantia pelo Fundo Garantidor de Crédito pelo governo e renegociação de operações já contratadas. “Shoppings e bancos são setores econômicos que se deram bem com bares e restaurantes nos últimos anos. Eu acho que eles têm que entender a palavra certa para este momento é solidariedade. Se esse setor quebrar, será ruim para todos, inclusive fornecedores, governo e bancos”, afirma Percival Maricato, presidente da Abrasel-SP, a Associação de Bares e Restaurantes de São Paulo.

A justificativa dos empresários é que o setor é fundamental para a economia. Segundo o texto, sem a ajuda dos bancos, grande parte dos estabelecimentos devem fechar as portas em definitivo. “O comércio da alimentação que faz a fama de São Paulo, e contribui com a produção e consumo de milhares de produtos da agricultura, de produtores artesanais e das grandes indústrias presentes na maior economia do país e da América do Sul, deixará de colaborar com os balanços exuberantes de vocês”, diz outro trecho da carta, com duras críticas aos bancos.

Com as medidas de isolamento, muitos estabelecimentos ainda funcionam em sistema de delivery, mas mesmo assim, a conta não fecha para pagar fornecedores e funcionários no fim do mês.

Na semana passada, a Febraban (Federação dos Bancos) divulgou que as cinco maiores instituições brasileiras (Itaú, Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil) haviam aberto um prazo maior para o pagamento de dívidas, podendo empréstimos de pessoas físicas e micro e pequenas empresas serem prorrogados por até 60 dias. A aplicação disso, depende de cada banco, mas via de regra as taxas são mantidas e a parcela postergada muda de data, mas os juros do contrato são recalculados para a nova prestação.

Questionado, o Itaú informou que até o momento não tem linha de crédito específica para o setor, mas que aplica a postergação por 60 dias. O Santander, além desse mecanismo, informa que tem uma linha de capital de giro para franquias com pagamento em até 48 meses e seis meses de carência. Bradesco, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil não responderam até a publicação desta reportagem.

Apelo ao governo

Em 16 de março, a entidade se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir ideias para a sobrevivência desse mercado. Uma das possíveis soluções, na visão de Maricato, seria o governo adiantar o pagamento do seguro desemprego para os funcionários de bares e restaurantes que estiverem com as portas fechadas durante os decretos estaduais. “Se você demitir os funcionários, eles vão procurar o seguro desemprego. Então, vai esperar esse pessoal perder os vínculos para depois pagar? Seria mais interessante pagar agora, para evitar esse desemprego, que será ruim para todos”, afirma.

Reflexo dessa crise no setor, a IMC, dona das redes de restaurantes KFC, Pizza Hut e Frango Assado, demitiu nos últimos dias cerca de 30% do seu quadro de funcionários no Brasil. É a primeira grande empresa de consumo e serviços a anunciar demissões em função da pandemia do novo coronavírus. Maricato acredita que, caso o governo não se mexa logo, outras companhias seguirão esse caminho. “Era para o governo ter tomado uma providência há mais de 10 dias. Quanto mais o governo demora, mais demissões irão acontecer. As empresas não têm reservas infinitas, mesmo as grandes. A insegurança é muito grande”, desabafa.

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