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Comportamento
26/01/2021 10:59:00
Coronavírus usa colesterol para invadir e criar megacélulas
De acordo com a Galileu, os cientistas observaram minúsculos tentáculos que emergiram de células com ACE2 e se fixaram em proteínas spike de células próximas

NM/PCS

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Cientistas apontam que o colesterol integra as membranas que envolvem células e alguns vírus, tal como o novo coronavírus SARS-CoV-2, causador da doença da Covid-19 - o que explica o papel chave do lípido na infecção.

Investigadores já haviam detectado que a maioria dos indivíduos doentes comCovid-19, e que tomam medicamentos para baixar o colesterol parecem sofrer menos com a doença, comparativamente a quem não ingere esse tipo de remédio.

Nesse sentido, e conforme reporta um artigo publicado na revista Galileu, foram realizadas várias pesquisas para entender o fenômeno e a mais recente lança finalmente luz sob o assunto.

O novo estudo, realizado por cientistas da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, propõe que o novo coronavírus recorre ao colesterol para conseguir penetrar a membrana protetora das células humanas. A primeira versão do artigo, que aguarda a revisão dos seus pares, foi publicada recentemente no Bio Rxiv.

Segundo Clifford Brangwynne, co-autordo artigo: "o colesterol é parte integrante das membranas que envolvem as células e alguns vírus, incluindo o Sars-CoV-2".

"Faz sentido que seja tão importante para a infecção", acrescentou.

No estudo, os investigadores replicaram a fase inicial da doença em células cultivadas em laboratório. Para tal, as partículas foram formuladas de forma a exibir a proteína spike, utilizada pelo SARS-CoV-2 para infectar as células, ou a proteína humana ACE2 - onde a proteína spike se liga.

De acordo com a Galileu, os cientistas observaram minúsculos tentáculos que emergiram de células com ACE2 e se fixaram em proteínas spike de células próximas.

Sendo que nesses pontos de ligação, uniram-se as duas membranas celulares, originando uma abertura que permitiu que o conteúdo das partículas se misturasse e as células se fundissem. Processo que deverá ocorrer de modo semelhante durante a infecção peloSARS-CoV-2.

Em seguida, os investigadores testaram o efeito de cerca de seis mil compostos e de mais de 30 variações na proteína spike, com o intuito de tentar travar a fusão celular detectada.

Os dados apurados apontam que o novo coronavírus é incapaz de entrar nas células que carecem colesterol.

"O colesterol foi muito bem estudado como um fator importante em um grande número de infecções virais", disse Peter Kasson, cientista da Universidade da Virgínia.

"O interessante é que o papel do colesterol na entrada viral varia muito entre os vírus".

O poder destruidor das megacélulas

Os investigadores constataram ainda que depois das experiências realizadas, as células continuaram a 'engolir' outras células, espalhando o seu conteúdo.

As partículas utilizadas no estudo, conhecidas como sincícios são semelhantes às células presentes em tecidos saudáveis, como músculos e placenta, ou em determinadas doenças virais.

Apesar dos cientistas ainda não terem a certeza se os sincícios desempenham ou não um papel importante na disseminação da Covid-19, estes creem que as experiências levadas a cabo ilustram como as megacélulasdetectadas nospulmõesdos doentes são formadas.

"As pessoas já sabiam que o vírus [causador da]Covid-19criará sincícios, mas os pesquisadores foram capazes de visualizar o processo lindamente", referiu Jennifer Lippincott-Schwartz, investigadora do Instituto Médico Howard Hughes, que não participou no estudo.

"A formação de sincícios pode ser muito prejudicial no caso daCovid-19, visto que pode destruir os tecidos pulmonares e levar à morte", concluiu.

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