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Economia
16/09/2023 10:11:00
Café colhido do cocô? Conheça a bebida brasileira que custa R$ 1,1 mil o quilo
Bebida de luxo é preparada a partir dos grãos retirados de fezes deixadas por jacus selvagens em fazendas do Espírito Santo; veja o passo a passo.

G1/PCS

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Café brasileiro luxuoso é extraído de excrementos do pássaro jacu (Foto: Carl de Souza)

Antes considerado uma praga nas plantações de café da Região Sudeste, o pássaro selvagem jacu - e seu prodigioso sistema digestivo - se tornou aliado na produção de um dos cafés mais caros do mundo.

O pássaro, também chamado de jacuaçu, parece um faisão e tem um paladar refinado: "Geralmente ele escolhe as melhores frutas, as mais maduras", explicou Agnael Costa, que trabalha com a colheita de fezes deixadas pelos jacus.

Em uma fazenda localizada no município de Domingos Martins, interior do Espírito Santo, os pés de café crescem em meio a uma floresta exuberante.

"Foi esse sistema agroflorestal que criou as condições necessárias para existir esse café exótico aqui", afirmou Henrique Sloper, que é dono da fazenda adepta da agricultura biodinâmica, ou seja, que não utiliza produtos químicos.

No Brasil, o café exótico extraído das fezes deixadas pelos jacus custa em média R$ 1.118,00. No entanto, ele é ainda mais caro no exterior.

Grãos de cafés são extraídos das fezes deixadas por jacus no Espirito Santo (Foto: Carl de Souza)

De inimigo a aliado

O jacu, espécie de plumagem preta e garganta escarlate, nativa de outras regiões da América do Sul, nem sempre foi bem-vindo na propriedade Camocim. No início, era visto como uma praga que ameaçava as colheitas e causava problemas.

Foi ao conhecer o café "Kopi Luwak" na Indonésia, feito com excrementos de civeta (mamífero asiático semelhante a um mangusto), que Sloper teve a ideia de transformar o jacu de inimigo a aliado.

Enquanto a reputação do "Kopi Luwak" - também vendido a preço de ouro - é prejudicada por denúncias de maus-tratos a civetas em cativeiro, o jacu brasileiro cresce em liberdade.

"É 100% natural. O jacu está dentro do habitat natural dele mesmo", a floresta atlântica do litoral brasileiro, diz o supervisor de produção, Rogério Lemke.

"É uma região muito protegida (...) e não usamos químico, produtos transgênicos, nada" na plantação de café, acrescenta.

Etapas de produção

As fezes do jacu lembram a aparência de um pé de moleque, com grãos de café incrustados em uma pasta enegrecida.

Depois de colhidas, as fezes são colocadas para secar em uma estufa. Em seguida, os grãos de café são classificados e descascados cuidadosamente, antes de serem colocados em uma câmara fria.

São retirados de lá apenas mediante solicitação do cliente, para evitar desperdícios.

"Em função do trabalho que a gente tem para fazer esse produto, ele é naturalmente caro. Não tem como fazer um café de jacu com custo baixo (...) É um produto escasso e a produção é incerta, porque depende do apetite do jacu", afirma Henrique Sloper.

O café extraído dos excrementos destas aves representa menos de 2% da produção da fazenda.

"Serve não só como selecionador, como também alarme de colheita. Onde ele come, o café está maduro", explica.

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