Quarta-Feira, 6 de Agosto de 2025
Educação
07/12/2016 12:15:00
Mendonça Filho: “Pisa mostra o fracasso retumbante da nossa educação”
Para o ministro da Educação, os resultados da avaliação internacional são consequência de políticas ineficazes. Ministro promete mobilização imediata para aumentar o aprendizado das crianças

Época/PCS

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Mendonça Filho, ministro da Educação (Foto: Editora Globo)

De seu gabinete em Brasília, o ministro da Educação, José Mendonça Filho, conversou com exclusividade com ÉPOCA sobre os números do Pisa (avaliação educacional internacional), divulgados ontem pela OCDE.

O país caiu quatro posições no ranking global, com ênfase em ciências. Regredimos em matemática em níveis anteriores a 2009. Em leitura e em ciências, estagnamos no patamar de 2012. Num ranking com 70 países, o Brasil figura entre os oito piores do mundo em Educação.

ÉPOCA – Ministro, os números divulgados hoje do Pisa 2015 mostram que o país regrediu em matemática em um nível anterior ao de 2009 e estagnou em leitura e ciências. O que esses números dizem sobre a Educação no Brasil?

José Mendonça Filho – Eles confirmam o fracasso da educação brasileira e o fracasso das políticas educacionais no âmbito da qualidade. Quando olhamos para a amplidão da educação, que vai da educação infantil à universidade, encontramos números positivos em termos de inclusão, mas do ponto de vista da qualidade os números demonstram um fracasso retumbante e inaceitável.

ÉPOCA – Esse retrocesso ocorre justamente no período em que o país mais investiu na área. Investimos errados?

Mendonça Filho – Acho que investimos errado. Em pouco mais de 12 anos, triplicamos o orçamento da Educação, saindo de R$ 43 bilhões para R$ 130 bilhões. Agora, isso não se traduziu em qualidade por causa de uma série de políticas ineficazes.

ÉPOCA – O senhor pode dar exemplos de políticas ineficazes?

Mendonça Filho – O modelo do Ciência sem Fronteiras [programa de intercâmbio bancado pelo governo federal] foi tocado apenas com intuito eleitoral. Alunos foram enviados ao exterior sem conhecer a língua, com um custo por aluno de mais de R$ 100 mil. Houve alunos de graduação que cursaram matérias eletivas lá fora que não eram reconhecidas por sua faculdade aqui no Brasil. O programa significou um investimento de R$ 3,7 bilhões só na última leva para atender 35 mil alunos [investimento feito em 2014, para a viagem ser realizada em 2015]. Esse é um exemplo de falta de foco.

Outro exemplo é o programa Mais Educação [programa federal para ampliação da jornada escolar], cujo número de investimento por aluno não corresponde ao número de alunos que realmente temos. O censo escolar mostra que temos 4,3 milhões alunos e o Mais Educação distribui dinheiro para o equivalente a 8 milhões de alunos. Isso não pode. É má gestão, no mínimo.

ÉPOCA – Já se sabe no Brasil e no mundo que o ponto central para aumentar a qualidade do aprendizado é aumentar a qualidade da formação inicial e continuada dos professores. Por que, então, preparar esses professores não vira uma operação de guerra, já que educação é uma prioridade?

Mendonça Filho – Essa é uma das prioridades do nosso governo. Leve-se em consideração que temos uma alocação de recursos para treinamento de professores da ordem de R$ 1,8 bilhão por ano.

ÉPOCA – O Pisa mostra que esse investimento, apesar de alto, não é efetivo. O que o governo fará para transformar essas cifras em qualidade de aprendizado para o aluno?

Mendonça Filho – Acho que temos de abraçar todas as medidas que mexerão com a carreira do professor. Não será uma única que mudará a qualidade de sua formação. Temos de aumentar a atratividade da carreira, isso passa por salário, para trazer os meninos mais talentosos para o magistério. Temos de assegurar também que o professor receba a devida formação de como deve ser a prática da sala de aula, inclusive com mecanismos que coloquem um estágio preparatório e uma espécie de professor residente junto a professores talentosos. Fortaleceremos os recursos também via Capes e programas já consagrados, como o Pafor [Plano nacional de formação de professores] e Pibid [bolsa para a formação de professores para a educação básica], entre outros. Essa agenda será atacada desde já, no início do próximo ano.

ÉPOCA – O Pibid sofreu um grande corte.

Mendonça Filho – Nós herdamos o Pidib com um corte. A gente desfez a portaria da gestão anterior que praticamente eliminava o Pibid. Vamos restaurar o programa em 2017.

ÉPOCA – Os resultados do Pisa 2015 soaram um alarme de incêndio para o Ministério? Eles mobilizarão medidas mais contundentes?

Mendonça Filho – Sim, sem dúvida. Já mobilizaram. Como eu disse, atacaremos a formação de professores e colocaremos um foco prioritário na educação básica. Lançaremos em janeiro um programa focado na alfabetização e no fundamental I e II, com parceria financeira e apoio técnico aos municípios. A MP do ensino médio também é um jeito de colocar um regime de urgência no aumento da qualidade da educação. O Brasil se acostumou a se conformar com a baixa qualidade na educação. É inaceitável que a 8ª economia do mundo seja a 64ª em Educação.

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