\n \n Após dois dias de depoimentos de dez\n testemunhas, o julgamento de Evandro Bezerra da Silva entra em sua última fase\n nesta quarta-feira (31) com os debates entre acusação e defesa. \n \n Do lado do réu, os advogados vão sustentar\n a ideia de que Mércia Nakashima não foi assassinada por Mizael Bispo no dia 23\n de maio de 2010, mas sim depois do dia 26 daquele mesmo mês. Já o lado da\n acusação irá se apoiar em laudos técnicos principalmente em relação às 19\n ligações telefônicas entre Mizael e Evandro no mesmo dia 23.\n \n Evandro é acusado de ter colaborado com a\n fuga de Mizael Bispo, condenado em 14 de março a 20 anos de prisãonbsp;pela\n morte da ex-namorada Mércia. A acusação sustenta que Evandro não teve\n participação direta na morte, mas que sabia que Mizael tinha a intenção de\n cometer o crime. Porém, a defesa do vigia alega que ele confessou ter\n participado do crime sob tortura. Mércia foi vítima de disparos de arma de fogo\n e lançada, no interior de seu veículo, dentro de uma represa no município de\n Nazaré Paulista, na Grande São Paulo.\n \n Um dos focos da promotoria e do advogado\n assistente de acusação é provar que Evandro não foi torturado em Aracaju, onde\n foi preso no dia em que o carro de Mércia foi encontrado dentro da represa.\n \n “Vamos nos concentrar na tortura,\n demonstrando que ele não sofreu qualquer tipo de sevícia; e na parte técnica da\n investigação, ao contrário do que afirmou que ficou o tempo todo no posto de\n gasolina. Ou seja, continua totalmente incompatível com a prova técnica no\n sentido que se deslocou junto com Mizael para ficar no encalço da vítima”,\n afirmou o promotor Rodrigo Merli.\n \n Alexandre de Sá, advogado assistente de\n acusação, afirmou estar tranquilo quanto ao resultado do julgamento e fez\n questão de dizer que Evandro não foi torturado em Sergipe. “Na realidade ele\n diz que houve uma tortura ocorrida com saco plástico, mas assumiu várias\n coisas, como o exame de corpo de delito. Isso mostra que não foi torturado,\n caso contrário deixaria marcas. Mas o estranho é que ele foi torturado para\n falar o que ele falou hoje, dizendo que foi buscar o Mizael no dia 23”,\n afirmou. “Mizael recrutou Evandro para matar Mércia. Isso ficou evidente. Estou\n bastante tranquilo”, completou.\n \n Já Arlyndo de Paula, defensor do réu aposta\n em um debate leal e sem apelações. “A defesa pretende fazer um debate dentro de\n uma urbanidade, leal, sem apelações como vem sendo feito pela acusação em\n alguns pontos. Trabalhamos com base no que tem no processo e não em\n conjecturas. Tudo o que foi dito pela defesa, nenhuma linha escapa do processo.\n Tudo o que dissermos vai ser mostrado, apresentado, para que tenham a convicção\n de que ele é inocente”, disse o advogado de Evandro.\n \n A defesa do acusado sustentará a ideia que\n Mércia foi morta após o dia 26, já que uma das testemunhas, chamada “testemunha\n alfa”, teria visto a advogada e Mizael no mesmo dia 26 em uma praça de pedágio\n na rodovia Dutra, na altura de Guararema, interior de São Paulo. Quando\n questionado se essa tese não seria mantida, já que Evandro afirmou acreditar\n que Mércia realmente morreu dia 23, Arlyndo negou.\n \n “Não cai por terra porque nossa alegação é\n sustentada por laudos e depoimentos e não no interrogatório do Evandro. Além\n disso, quando o Evandro questionou Mizael ficou claro que ele não sabia.\n Sabemos que o Mizael é truculento, violento, é policial aposentado. E o Evandro\n é um mero vigia semi-analfabeto. Ele confessou ter medo do Mizael e resolveu\n não tocar mais no assunto para preservar sua vida depois de ter comentado sobre\n aquela noite”, lembrou o advogado de defesa.\n \n Após os dez depoimentos desta terça-feira e\n antes do interrogatório de Evandro, a defesa do réu solicitou diligência e\n pediu que outras testemunhas citadas pela chamada “testemunha alfa” também\n fossem ouvidas. Porém, a diligência foi negada pela juíza, fato que irritou\n Ricardo Panzetto, advogado de defesa.\n \n “É lastimável anbsp;postura da juíza que\n afrontando a lei maior, inclusive os jurados porque não é ela quem decide,\n deveria no mínimo consultar os jurados sobre a necessidade de ouvirnbsp; os\n outros funcionários da empresa para saber se a Mércia estava viva no dia 26.\n Isso era o mínimo que se esperava em busca de uma verdade real”, afirmou.\n \n Nesta quarta-feira serão iniciados os\n debates. Nesta fase do júri, a acusação falará por duas horas, seguida pela\n defesa, que discursará pelo mesmo tempo, podendo haver réplica e tréplica. Ao\n final dos debates o Conselho de Sentença reúne-se na Sala Secreta com a juíza,\n promotor e advogados, para proceder à votação dos quesitos, que determinará o\n veredito.\n \n Cinco perguntas serão feitas aos sete jurados,\n que deverão responder apenas “sim” ou não”. As perguntas devem ser as\n seguintes:\n \n 1. Mércia foi assassinada no dia 23 de maio\n de 2010 na represa em Nazaré Paulista?
\n 2. Evandro colaborou para o crime?
\n 3. O jurado absolve o réu?
\n 4. O crime foi praticado por meio cruel?
\n 5. Houve recurso que dificultou a defesa da vítima?\n \n Terminada a votação, a juíza fará a leitura\n oficial com base na decisão dos jurados. Em caso de condenação, a dosagem do\n tempo de pena é feita pela juíza presidente da sessão.\n \n O caso
\n A advogada Mércia Nakashima desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar\n a casa dos avós em Guarulhos, e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma\n represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela\n foi ferida a tiros, mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado\n para a água.\n \n Ex-namorado de\n Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos,\n foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio\n triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso\n que dificultou a defesa da vítima). Em 14 de março deste ano, Mizael\n foinbsp;condenado a 20 anos de prisãonbsp;pela morte de Mércia.nbsp;
\n
\n A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o\n ajudado a fugir do local. Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia,\n Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi\n obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura.
\n \n \n