Brasil
28/04/2014 06:21:02
Uma em cada 11 cidades do país tem uma homônima
Cinco estados possuem uma Bom Jesus, a campeã de registros. País também tem as "famosas" Nova Iorque, Barcelona e Buenos Aires.
G1/PCS
Uma em\n cada 11 cidades do país tem em outro estado um município com o nome idêntico ao\n seu. São 505 das 5.570. É o que mostra um levantamento feito pelo G1 com\n base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).\n \n A cidade\n com mais homônimas é Bom Jesus. Cinco estados possuem um\n município com esse nome: três no Nordeste (PB, PI e RN) e dois no Sul (RS e\n SC).\n \n São\n Francisco e Santa Inês estão entre as cidades com quatro nomes iguais\n espalhadas pelo país. São 32 ao todo. Já Belém faz parte do grupo das com três\n exemplares (60 no total). Outros 408 municípios são gêmeos.\n \n Não há\n cidades homônimas em um mesmo estado e, desde 1984, uma lei determina a\n consulta ao IBGE na criação ou na alteração para que um nome já existente em\n todo o Brasil não seja adotado.\n \n Para a\n professora Patrícia Carvalhinhos, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências\n Humanas da USP, uma das explicações para o alto número de cidades com nome\n igual é o modo de povoação.\n \n Na época\n do Marques de Pombal, por exemplo, havia uma política instituída de transformar\n nomes de aldeias indígenas em nomes de cidades portuguesas. Muitas dessas\n homônimas foram criadas assim, especialmente no Nordeste. Ela ressalva, no\n entanto, que é preciso analisar caso a caso para se chegar à origem dos nomes.\n \n O\n fenômeno não está restrito ao Brasil. Nos EUA, por exemplo, pelo menos 35\n estados contam com um município com o nome Springfield (cidade-tema do seriado\n Os Simpsons).\n \n Segundo\n Patrícia, que ministra a disciplina Toponímia geral e do Brasil, como não há\n uma proximidade territorial, é difícil que surjam problemas devido à\n semelhança, o que costuma ocorrer com ruas, por exemplo.\n \n A\n própria população desenvolve na oralidade artifícios para fazer a\n diferenciação. Quando se fala em Rio, por exemplo, todo mundo sabe que é Rio de\n Janeiro e não outra cidade precedida por Rio, diz.\n \n Sobre a\n campeã Bom Jesusnbsp; e as vice-líderes São\n Francisco, Santa Inês, entre outras, a professora da USP diz que muitas cidades\n surgiram em locais focos de devoção.\n \n Além\n disso, houve no Brasil uma tentativa de enfraquecer nomes indígenas, colocando\n um vocábulo católico, como uma catequização, afirma Patrícia.\n \n De acordo\n com o levantamento do G1, 543 cidades (ou 10% do total) têm um nome com\n os prefixos santa, santo ou são.\n \n Presidentes\n da República também são alvo de inspiração. Há uma Presidente Juscelino no MA e\n uma em MG, uma Presidente Dutra na BA e uma no MA, uma Presidente Bernardes em\n MG e uma em SP e uma Presidente Médici no MA e uma em RO. Espírito Santo e\n Tocantins também possuem uma Presidente Kennedy.\n \n Às vezes,\n apenas uma letra diferencia os nomes, como Areia e Areial, ambos na Paraíba\n (PB). Existem uma Presidente Castelo Branco, com um "l, no Paraná, e uma\n Presidente Castello Branco, com dois "l, em Santa Catarina, que não\n entram na conta das homônimas.\n \n Cidades famosas
\n O país conta ainda com homônimas de cidades famosas no mundo. É possível, por exemplo,\n conhecer Barcelona (RN), Buenos Aires (PE) e Nova Iorque (MA) sem ter que\n viajar para fora do Brasil. Também não é necessário tirar passaporte para\n visitar países como Equador (RN), Colômbia (SP), Costa Rica (MS), Macedônia\n (SP) e Tailândia (PA).\n \n Patrícia diz que, nesses casos, a nomeação obedece a diferentes critérios.\n Já vi uma reportagem com o prefeito de Nova Iorque dizendo que esperava que o\n nome impactasse no crescimento da cidade, como se houvesse uma relação mágica.\n Então pode existir uma vontade de vir a ser. Em outros casos, pode ser uma\n homenagem. No caso de Osasco (SP), o fundador, Antonio Agu, era da cidade de\n Osasco, na Itália, e quis fazer uma deferência à terra natal.\n \n Em Buenos Aires (PE), as referências estão por toda a parte. A cidade tem\n até dois times de futebol chamados River Plate e Boca Juniors.\n \n Já em Barcelona (RN), o nome não tem nada a ver com a gêmea da Catalunha.\n Ele foi dado em razão de um seringal na Amazônia que havia recebido a\n denominação. Mas a prefeitura diz que professores de uma universidade espanhola\n já estiveram na cidade para estudar a homônima.\n \n Entre os nomes de cidades no Brasil, a natureza também ganha destaque.\n Arco-Íris, Céu Azul, Flores, Lagoa, Mata e Cachoeira são alguns exemplos. Nomes\n excêntricos também não faltam, como Venha-Ver (RN) e Não-Me-Toque (RS).\n \n Banco de nomes
\n Há três anos, o IBGE criou o Banco de Nomes Geográficos do Brasil. Além das\n cidades, há vilas, povoados e outros nomes geográficos do país com a história e\n um mapa cartográfico de cada um. Em processo de construção, ele já conta com 55\n mil registros.\n \n O estudo dos processos de denominação e das origens e motivações dos nomes\n geográficos, bem como a valorização, preservação e divulgação do conhecimento\n sobre o conjunto de nomes geográficos de um país é uma grande contribuição para\n a soberania deste e para o conhecimento de sua cultura e história, contribuindo\n para uma maior autoestima de seus cidadãos, afirma a pesquisadora Vania Nagem,\n do Centro de Referência em Nomes Geográficos do órgão.
\n nbsp;
\n Segundo ela, é possível identificar padrões de produção econômica e até o tipo\n de vegetação existente em determinada época em determinado local. Como\n ilustração, dá para citar a grande variedade de nomes relativos ao tropeirismo\n ao longo das rotas dos tropeiros no Sul do Brasil, em São Paulo e em Minas\n Gerais.\n \n Patrícia, da USP, concorda que a importância do nome vai além. É muito mais\n que um dado identificador, que é sua função primeira. Eu luto para firmar no\n Brasil o conceito de considerar o nome do lugar como uma herança cultural\n imaterial. Nele existe não apenas o modo como o povo enxergava aquele local há\n séculos, mas marcas de morfologia, de oralidade. É um patrimônio, como o\n folclore, a música, diz.\n \n \n
\n O país conta ainda com homônimas de cidades famosas no mundo. É possível, por exemplo,\n conhecer Barcelona (RN), Buenos Aires (PE) e Nova Iorque (MA) sem ter que\n viajar para fora do Brasil. Também não é necessário tirar passaporte para\n visitar países como Equador (RN), Colômbia (SP), Costa Rica (MS), Macedônia\n (SP) e Tailândia (PA).\n \n Patrícia diz que, nesses casos, a nomeação obedece a diferentes critérios.\n Já vi uma reportagem com o prefeito de Nova Iorque dizendo que esperava que o\n nome impactasse no crescimento da cidade, como se houvesse uma relação mágica.\n Então pode existir uma vontade de vir a ser. Em outros casos, pode ser uma\n homenagem. No caso de Osasco (SP), o fundador, Antonio Agu, era da cidade de\n Osasco, na Itália, e quis fazer uma deferência à terra natal.\n \n Em Buenos Aires (PE), as referências estão por toda a parte. A cidade tem\n até dois times de futebol chamados River Plate e Boca Juniors.\n \n Já em Barcelona (RN), o nome não tem nada a ver com a gêmea da Catalunha.\n Ele foi dado em razão de um seringal na Amazônia que havia recebido a\n denominação. Mas a prefeitura diz que professores de uma universidade espanhola\n já estiveram na cidade para estudar a homônima.\n \n Entre os nomes de cidades no Brasil, a natureza também ganha destaque.\n Arco-Íris, Céu Azul, Flores, Lagoa, Mata e Cachoeira são alguns exemplos. Nomes\n excêntricos também não faltam, como Venha-Ver (RN) e Não-Me-Toque (RS).\n \n Banco de nomes
\n Há três anos, o IBGE criou o Banco de Nomes Geográficos do Brasil. Além das\n cidades, há vilas, povoados e outros nomes geográficos do país com a história e\n um mapa cartográfico de cada um. Em processo de construção, ele já conta com 55\n mil registros.\n \n O estudo dos processos de denominação e das origens e motivações dos nomes\n geográficos, bem como a valorização, preservação e divulgação do conhecimento\n sobre o conjunto de nomes geográficos de um país é uma grande contribuição para\n a soberania deste e para o conhecimento de sua cultura e história, contribuindo\n para uma maior autoestima de seus cidadãos, afirma a pesquisadora Vania Nagem,\n do Centro de Referência em Nomes Geográficos do órgão.
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\n Segundo ela, é possível identificar padrões de produção econômica e até o tipo\n de vegetação existente em determinada época em determinado local. Como\n ilustração, dá para citar a grande variedade de nomes relativos ao tropeirismo\n ao longo das rotas dos tropeiros no Sul do Brasil, em São Paulo e em Minas\n Gerais.\n \n Patrícia, da USP, concorda que a importância do nome vai além. É muito mais\n que um dado identificador, que é sua função primeira. Eu luto para firmar no\n Brasil o conceito de considerar o nome do lugar como uma herança cultural\n imaterial. Nele existe não apenas o modo como o povo enxergava aquele local há\n séculos, mas marcas de morfologia, de oralidade. É um patrimônio, como o\n folclore, a música, diz.\n \n \n