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Os moradores de Terenos, a 288 quilômetros de Coxim, viveram uma reviravolta política nos últimos meses, com a troca de prefeito, após uma operação que revelou esquema de corrupção envolvendo servidores e empresários. O vice-prefeito assumiu interinamente a cadeira de chefe do Executivo, deixando os habitantes em dúvida sobre o futuro do comando da cidade de 17,6 mil moradores.
“Muitos falam que ele [Henrique Budke] volta em janeiro, só que me recuso a acreditar, depois de tudo que foi apurado pelo Gaeco”, questionou uma moradora pelo Canal Fala Povo do Midiamax.
Em 9 de setembro, o prefeito de Terenos, Henrique Budke (PSDB), e outras 15 pessoas foram presas durante a Operação Spotless, que revelou esquema de fraudes de mais de R$ 15 milhões em contratos de obras da cidade. O grupo fraudava licitações e também contratos de obras na cidade, entre 2021 e 2023.
Conforme o relatório de investigação ao qual o Jornal Midiamax teve acesso, Budke viu seu patrimônio declarado aumentar 691% entre as eleições de 2020 — a primeira que disputou — e de 2024 — na que se reelegeu.
Afastamento do cargo
Dois dias após a operação deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), o tucano pediu afastamento do cargo “para se concentrar na defesa”. Assim, quem assumiu a prefeitura interinamente foi o vice-prefeito, Doutor Arlindo Landolfi Filho (Republicanos).
Após Budke ficar detido por 24 dias no presídio Anísio Lima, no bairro Noroeste, em Campo Grande, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou a conversão da prisão preventiva em medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica por três meses.
O tucano também foi proibido de se aproximar das dependências da prefeitura ou de órgãos municipais de Terenos e proibido de ter contato com os demais investigados.
Há previsão de volta?
Além disso, a Justiça determinou o afastamento de Budke do cargo. Ou seja, ele continuaria longe do gabinete da prefeitura não mais por vontade própria, mas por imposição do STJ.
Diante da dúvida de moradores, o Midiamax investigou se há previsão ou possibilidade de Budke retornar em breve para a Prefeitura.
Conforme apurado pela reportagem, não há previsão de volta, já que o afastamento não tem prazo determinado. O processo também segue tramitando normalmente. Relembre
A Prefeitura de Terenos foi alvo de devassa do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) em 9 de setembro.
Foram expedidos 16 mandados de prisão, além de 59 mandados de busca e apreensão em Terenos, Campo Grande e Santa Fé do Sul (SP).
Confira a relação completa de presos:
Henrique Wancura Budke, prefeito que pediu afastamento após a operação;
Arnaldo Santiago, empreiteiro;
Cleberson José Chavoni Silva, empreiteiro;
Eduardo Schoier, empreiteiro;
Fábio André Hoffmeister Ramires, terceiro-sargento da PM;
Fernando Seiji Alves Kurose, empreiteiro;
Genilton da Silva Moreira, empreiteiro;
Hander Luiz Correa Grote Chaves, empreiteiro;
Isaac Cardoso Bisneto, ex-secretário de Obras;
Leandro Cícero Almeida de Brito, engenheiro;
Nadia Mendoça Lopes, empreiteira;
Orlei Figueiredo Lopes, ‘testa de ferro’ do prefeito, enviado para receber propinas;
Sandro José Bortoloto, empreiteiro;
Sansão Inácio Rezende, empreiteiro;
Tiago Lopes de Oliveira, ex-chefe de gabinete;
Valdecir Batista Alves, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico e diretor na Agraer.
Prefeito de Terenos chefiava esquema de fraude em licitação
Henrique Budke foi apontado como líder da organização criminosa alvo da Operação Spotless, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção), em 9 de setembro.
A investigação apontou que o grupo liderado por Budke tinha núcleos com atuação bem definidos. Servidores públicos fraudaram disputa em licitações, a fim de direcionar o resultado para favorecer empresas.
Os editais foram elaborados sob medida e simulavam competição legítima. Somente no último ano, as fraudes ultrapassaram os R$ 15 milhões.
O esquema pagava, ainda, propina para agentes públicos que atestavam falsamente o recebimento de produtos e de serviços e aceleravam os processos internos para pagamentos de contratos.
A Operação Spotless foi deflagrada a partir das provas da Operação Velatus, que foi realizada em agosto de 2024. O Gaeco e Gecoc obtiveram autorização da Justiça e confirmaram que Henrique Budke chefiava o esquema de corrupção.
Spotless é uma referência à necessidade de os processos de contratação da administração pública serem realizados sem manchas ou máculas. A operação contou com apoio operacional da PMMS (Polícia Militar de MS), por meio do BPChoque (Batalhão de Choque) e do Bope (Batalhão de Operações Especiais).