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Figura central na articulação encampada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por uma sanção financeira ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo já foi sócio de Donald Trump em um empreendimento no Rio.
Em 2013, eles fizeram uma sociedade para construir o Trump Rio de Janeiro Hotel, na Barra da Tijuca, e aproveitar a expansão da rede hoteleira com o boom provocado pelas Olimpíadas de 2016. O empreendimento considerava um cassino no hotel, uma vez que o projeto de lei para legalizar as casas de jogos já tramitava no Congresso.
Mas as obras atrasaram, e o financiamento do projeto por fundos de pensão brasileiros entrou na mira de uma investigação sobre suspeita de corrupção. Em dezembro de 2016, semanas antes de assumir a Presidência dos EUA pela primeira vez, Trump retirou sua marca do negócio.
Figueiredo deixou o cargo de diretor-executivo da empresa hoteleira no final de 2015 e se mudou para os EUA. Na época, disse que Trump não tinha como saber se havia financiamento ilícito porque os investidores não tinham capital aberto.
A investigação prosseguiu. Seu nome foi incluído na lista de procurados da Interpol e, em 2019, Figueiredo foi preso em Miami por suspeita de integrar um suposto esquema de pagamento de propinas a dirigentes do BRB, banco controlado pelo governo do Distrito Federal, em troca de recursos para a construção do extinto Trump Hotel.
Figueiredo ficou preso por 17 dias no centro de detenção Krome, em Miami, e passou dois anos cumprindo medidas cautelares na Flórida. A ação sobre o hotel foi trancada em 2021. "Gastei uma fortuna de advogados e fiquei no limbo empresarial, com contas bloqueadas", disse à coluna.
Na época, a defesa dele foi feita por Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que se aproximou do presidente Lula (PT). "Minhas filhas de 2 e 3 anos perguntavam quando eu ia voltar para casa."
"Este caso aí foi minha 'preparação' para enfrentar o que passo hoje", diz.
Dez anos depois do imbróglio do hotel da Barra, Figueiredo se tornou o responsável por abrir as portas dos gabinetes em Washington para Eduardo Bolsonaro liderar um movimento para enquadrar Moraes na lei Magnitsky. O périplo dos dois já rendeu a revogação dos vistos americanos de parte dos ministros do Supremo.
Figueiredo e a família Trump
Figueiredo diz que foi apresentado a Trump há mais de uma década, "talvez em 2012", pela filha do presidente americano, Ivanka.
Ele conta que estava almoçando com Ivanka em Palm Beach, na Flórida, no campo de golfe da família, quando Trump chegou de helicóptero. "Ela perguntou se eu gostaria de conhecê-lo, e eu disse que sim."
"Ele falou comigo rapidamente até que ela disse que eu era neto do ex-presidente do Brasil. Então ele imediatamente ficou interessado, sentou e ficamos falando sobre política. Já naquela época ele estava claramente mais interessado em política do que em negócios", diz Figueiredo. Ele é neto do general João Baptista Figueiredo, último presidente brasileiro na ditadura militar (1979-1985).
O projeto do hotel na Barra foi tocado por ele em parceria com Ivanka e com Donald Trump Jr., filho primogênito do presidente americano.
Outro empreendimento do conglomerado Trump também afundou naquela época: o Trump Towers, no centro do Rio, previa um complexo de escritórios de alto padrão, mas não chegou a sair do papel.