Segunda-Feira, 16 de Junho de 2025
Mundo
02/03/2019 11:05:00
O caos chega à fronteira

IstoÉ/PCS

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Ao barrar a entrada de ajuda humanitária para a depauperada população venezuelana, o ditador Nicolás Maduro levou a violência do seu regime para dentro do território brasileiro, impondo um novo desafio ao governo Bolsonaro: como incentivar a mudança política no país vizinho de maneira pacífica.

Um caminhão com ajuda humanitária é incendiado na fronteira da Venezuela com a Colômbia (Foto: Reuters/Marco Bello )

Há 200 anos, em 15 de fevereiro de 1819, Simón Bolívar, exaltado como herói da independência por venezuelanos e colombianos de todos os matizes políticos, fez o seu famoso Discurso de Angostura, que leva o antigo nome do município de Ciudad Bolívar, no sudeste da Venezuela. “Moral e luzes são nossas primeiras necessidades”, disse Bolívar. A frase há anos estampa muros e cartazes das escolas da Venezuela, mas atualmente soa irônica, quase como uma piada de mau gosto diante da situação deplorável em que se encontra a população que há quase 20 anos sofre os desmandos de um projeto de poder que começou com um coronel golpista, Hugo Chávez, e continua com sua imitação mais barata, o ex-motorista de ônibus Nicolás Maduro.

Moral e luzes, sim. Mas pergunte aos venezuelanos sobre suas primeiras necessidades e eles dirão que precisam de comida e de remédios. As gôndolas dos supermercados estão vazias, a inflação é a maior do mundo e há crianças literalmente morrendo de fome em hospitais desprovidos de insumos básicos. Os venezuelanos, é claro, também carecem de liberdade, mas mesmo para se livrar da tirania chavista eles precisam conseguir se manter de pé. E o regime chavista provou, no fim de semana passado, que é capaz até de matar para impedir que o povo tenha o que comer. Por quanto tempo se estenderá o martírio venezuelano? O que a comunidade internacional, inclusive o Brasil, pode fazer a respeito?

Ajuda humanitária

Levada a cabo nos últimos dias 22, 23 e 24, a tentativa de enviar ajuda humanitária à Venezuela — na forma de caminhões carregados com alimentos e remédios que deveriam ter cruzado para o país vizinho através da fronteira brasileira, em Pacaraima (RR), e colombiana, em Cúcuta — tinha um objetivo triplo. O primeiro, e mais premente, era mitigar a fome e a falta de cuidados médicos de parte da população.

O segundo era escancarar a situação que os venezuelanos enfrentam por causa da corrupção e das políticas calamitosas do regime de Maduro. O terceiro pretendia fortalecer Juan Guaidó, o deputado oposicionista que foi reconhecido por cerca de 50 nações, inclusive o Brasil, como presidente interino do País desde janeiro, quando Maduro iniciou um novo mandato ancorado em eleições fraudulentas. Guaidó foi à Colômbia para liderar a entrada dos caminhões de ajuda, e pretendia entrar triunfante na Venezuela, rompendo possíveis resistências das forças de segurança de Maduro. Mas as coisas não saíram como o esperado.

VERSÃO FANTASIOSA

Maduro mandou fechar as fronteiras e destacou a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) — além de milícias formadas por delinquentes e por integrantes do grupo narcoterrorista colombiano ELN — para usar a força contra a entrada dos caminhões. As milícias chavistas atiravam com munição real contra os voluntários venezuelanos que tentavam forçar a passagem dos caminhões, enquanto a GNB disparava balas de borracha e lançava bombas de gás lacrimogêneo. Quatro pessoas morreram nos confrontos na fronteira com o Brasil. O índio venezuelano Kliver Alfredo Perez Rivero, de 24 anos, que estava internado em estado grave em Boa Vista (RR), morreu na quarta-feira 27. Na sexta-feira 22, ele e outros integrantes de sua tribo haviam tentado manter uma passagem aberta na fronteira com o Brasil quando foram atacados pelas forças de Maduro.

O ditador venezuelano criou a versão fantasiosa de que a comida, enviada principalmente pelos Estados Unidos, estava envenenada e que a ajuda humanitária não passava de um cavalo de troia para derrubá-lo. Maduro sabe, porém, que não são sacos de arroz que vão tirá-lo do poder. Isso só ocorrerá quando o seu último sustentáculo ruir: o apoio da cúpula das Forças Armadas. O dos soldados e dos oficiais de baixa patente ele já perdeu. Em uma das pontes que separam a Colômbia da Venezuela, mulheres policiais das forças de Maduro choravam enquanto os voluntários pediam que elas deixassem a ajuda passar. Acabaram cedendo, mas as cargas foram incendiadas do lado venezuelano por milicianos. Ao longo da semana, mais de 400 militares venezuelanos desertaram, sete para o Brasil.

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