Terça-Feira, 17 de Junho de 2025
Polícia
14/09/2023 09:26:00
Quadrilhas mudam de tática e usam "terceirizados" para transportar drogas

CE/LD

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A maioria dos presos por tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul não faz parte de associações ou organizações criminosas para o tráfico de entorpecentes. De acordo com dados atualizados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 14.126 presos estão envolvidos com o transporte de drogas no Estado e 2.870 estão detidos por associação para o tráfico.

Em entrevista ao Correio do Estado, o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antonio Carlos Videira, argumenta que o alto número de presos por tráfico que não fazem parte de uma organização criminosa é registrado em MS porque o Estado é utilizado apenas como corredor para o transporte das drogas, com lideranças permanecendo nos grandes centros do País.

“As grandes organizações criminosas estão concentradas e atuam nos grandes centros brasileiros, como Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. Mato Grosso do Sul é corredor apenas”, detalha Videira.

Do total de presos por tráfico de drogas apresentado pelo CNJ, os homens com idade entre 30 anos e 40 anos que não participam de alguma associação para o tráfico representam a maioria.

Ao analisar os dados por faixa etária e gênero, fica evidente que a maioria presa por esses crimes são homens jovens e adultos. O maior número de presos por tráfico de drogas está na faixa etária de 18 anos a 29 anos, com um total de 3.139 indivíduos, sendo 232 mulheres e 2.749 homens. Esse cenário se repete nas faixas etárias subsequentes, com predominância masculina.

A divisão por gênero também revela uma presença significativa de mulheres entre os presos por tráfico e associação para o tráfico. Embora em menor número, a presença feminina é notável em todas as faixas etárias consideradas.

O sociólogo Silvino Areco explica que os líderes de organizações criminosas muitas vezes utilizam jovens não membros das quadrilhas para contrabando de pequeno porte ou para servirem de isca para os policiais, para não comprometerem a organização.

“Mesmo aparecendo o perfil de jovens na faixa etária de 20 [anos] até 40 anos sem envolvimento com facções, na verdade, indiretamente eles estão envolvidos, pois são esses grupos organizados que controlam a produção e a circulação, ficando estes responsáveis pelo transporte em pequena escala. Em muitos casos, servindo de isca para a polícia”.

De acordo com Areco, há um aumento da busca por jovens que aceitem fazer apenas um serviço em troca de dinheiro.

“Em diversas pesquisas que tratam sobre o tema os autores desvelam que ocorre uma crescente do recrutamento de jovens para essa atividade criminosa. Giovanni França, em uma pesquisa publicada na Revista USP, aponta que a expansão do narcotráfico em todas as regiões do Estado e a guerra entre as duas principais facções criminosas do Brasil pela disputa da hegemonia atacadista de drogas e armas na fronteira incidem diretamente nos recrutamentos de jovens e no número de encarceramentos em MS”, explica.

FRONTEIRA

Os dados do CNJ também revelam que o tráfico de drogas é o segundo crime com maior número de presos em Mato Grosso do Sul. Do total de 61.694 pessoas detidas, 14.139 foram condenadas por tráfico de entorpecentes. Tal delito fica atrás apenas do crime de roubo, que registra atualmente 17.168 apenados.

Os especialistas entrevistados pelo Correio do Estado concordam que um dos principais motivos para o tráfico de drogas ter o maior número de presos no Estado é a fronteira com a Bolívia e o Paraguai. “Mato Grosso do Sul faz fronteira com o Paraguai e a Bolívia e, com isso, acaba sendo corredor e rota de drogas que têm como destino outros estados e países”, diz Videira. O secretário ainda detalha as consequências do tráfico para os órgãos de segurança pública.

“Acaba tendo muitos impactos na segurança pública, como o aumento no volume de procedimentos e inquéritos policiais, aumento do número de incineração de drogas e, consequentemente, aumento da massa carcerária. Há um impacto direto também no caixa do Estado, que arca com o custo desses presos”, conclui Videira.

O sociólogo Silvino Areco complementa que Mato Grosso do Sul é região de interesse para o tráfico de diversos entorpecentes, o que faz aumentar o número de apreensões no Estado.

“O tráfico de entorpecentes, principalmente de maconha, cocaína e seus derivados, é forte em MS em razão de sua posição geográfica. O Estado faz fronteira com dois mercados produtores: Paraguai e Bolívia. Nesse sentido, muitas prisões são efetuadas na região em função de o Estado ser um corredor de transporte para as regiões Sudeste, Sul, Norte e Nordeste. Logo, as organizações criminosas buscam ocupar posições estratégicas nas fronteiras, buscando o monopólio na distribuição”, afirma.

SAIBA

Dados do Conselho Nacional de Justiça alertam para a superlotação de presídios em MS. A capacidade total atual é de 9.394 vagas, mas o número de pessoas encarceradas é de 18.396, um deficit de 7.504 vagas.

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