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Polícia
07/12/2023 09:48:00
Tropas de MS vão reforçar segurança na fronteira com Guiana e Venezuela

CE/LD

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Blindados de Mato Grosso do Sul estão a caminho do estado de Roraima e vão ajudar a reforçar a fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana.

O Correio do Estado apurou que pelo menos 40 militares vão integrar o contingente de 150 homens que dará reforço à 1ª Brigada de Infantaria de Selva e, principalmente, vai compor o recém-criado 18º Regimento de Cavalaria Mecanizado, em Boa Vista (RR).

Ao todo, 28 blindados das unidades militares dos estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul reforçarão a fronteira brasileira com a Venezuela e a Guiana. De Mato Grosso do Sul, os blindados saíram das duas unidades que têm atuação específica em cavalaria: a 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, de Dourados, e sua unidade complementar, o 20º Regimento de Cavalaria Blindado, de Campo Grande.

Por causa da elevação da tensão na fronteira entre Venezuela e Guiana depois que o presidente venezuelano, com o apoio da oposição, passou a intensificar a reivindicação pela região de Essequibo, oeste da Guiana, o Exército Brasileiro decidiu aumentar sua presença na região.

Dos 28 blindados que estão a caminho do norte de Roraima, 6 são do modelo Guarani, 6 são do modelo Cascavel e 16 são do modelo Guaicuru. O Guarani e o Guaicuru, nome de tribos indígenas existentes em território sul-mato-grossense, são os modelos mais modernos do Exército. O Cascavel é um blindado das décadas de 1970 e 1980, ainda a serviço do Exército Brasileiro.

De Mato Grosso do Sul foram enviados os modelos Guaicuru e Guarani. Este último, inclusive, foi lançado justamente na 4ª Brigada de Infantaria Motorizada de Dourados, em 2015.

A viatura blindada Guarani, de transporte de pessoal, é anfíbia, tem capacidade para transportar até 11 militares e tem proteção antiminas, sob as rodas, couraça e assentos individuais, e proteção balística composta de blindagem contra tiros de 7,62 mm e estilhaços de granadas de artilharia de 155 mm. A viatura tem peso bruto de 14,7 toneladas, motor blindado com potência de 383 cavalos e atinge uma velocidade máxima de até 100 km/h.

Já o Guaicuru, viatura blindada multitarefa leve sobre rodas (VBMT-LSR) 4X4 LMV-BR, foi batizado com este nome em homenagem à tribo do sudoeste de Mato Grosso do Sul que auxiliou o Brasil a derrotar o Paraguai na guerra contra o país vizinho, há pouco mais de um século e meio.

“Ressalta-se que a evolução do atual Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, orgânico daquela Brigada, para um Regimento de Cavalaria Mecanizado é uma ação estratégica pré-planejada que já constava no Planejamento Estratégico do Exército (PEEx). Esse processo resultará em um aumento do número de militares na área, além de viaturas blindadas, as quais serão deslocadas do Sul e do Centro- Oeste do País para Roraima. Tais meios, como as 16 Viaturas Blindadas Multitarefa 4x4 – Guaicuru, serão deslocados para comporem a recém-criada Unidade Militar, ao longo do mês de dezembro, com uma previsão de cerca de 20 dias para chegarem à Boa Vista”.

Os veículos, chamados de viaturas blindadas multitarefa leves sobre rodas, ficam nesses estados por causa das características dos combates. Em regiões de selva, como o Amazonas, o equipamento usado pelos combatentes é mais individual, mas Roraima não é um estado onde predomina a vegetação de selva: é uma savana que os locais chamam de “lavradio” e que se parece muito mais com a vegetação do Sul do País do que com a floresta tropical.

O conflito

Nicolás Maduro, que governa a Venezuela há praticamente uma década, teme não ser reeleito em 2024. Ele enfrenta o descontentamento de uma parte significativa da população. Dessa forma, o plebiscito (no qual 10,5 milhões de eleitores, de um total de 20,7 milhões, disseram sim) e a ideia de anexar uma parte do território da Guiana mobilizaria o povo, acenderia sentimentos patrióticos – tal qual aconteceu na Argentina – e tiraria da frente os problemas do país, que só não está pior por que o governo dos Estados Unidos suspendeu temporariamente as sanções ao petróleo, ao gás e ao ouro venezuelanos.

A medida foi anunciada pelo Departamento do Tesouro americano, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia e em resposta ao acordo alcançado pelo governo de Nicolás Maduro com a oposição, que estabeleceria garantias eleitorais tendo em vista as eleições presidenciais de 2024. No entanto, pode ser uma das primeiras garantias a cair e as consequências econômicas e diplomáticas não serão poucas, caso Maduro insista no despautério de invadir um país vizinho, desestabilizando a geopolítica da região.

Apenas por causa das ameaças, o governo da Guiana já busca estreitar sua cooperação na área de segurança com os Estados Unidos. E esse é outro temor dos militares brasileiros: que americanos instalem uma base militar na região.

“Isso poderia causar um desequilíbrio na segurança do continente. Seria uma força externa aqui, na nossa fronteira”, explica um desses militares. E, em um hipotético ataque venezuelano, não há dúvidas de que os Estados Unidos socorreriam o aliado na América do Sul.

Além da ExxonMobil, que descobriu petróleo em águas que estão na disputa, muitas outras empresas norte-americanas estão atuando na região que, até 2028, poderá chegar a produzir 1,2 milhão de barris por dia. Com essa produção, o país se tornaria um dos 20 principais produtores de petróleo do mundo.

Essequibo, que a Venezuela reivindica, representa dois terços do território da Guiana, uma área de quase 160 mil quilômetros quadrados que é razão de uma disputa histórica entre os dois países há séculos. A região é rica em recursos naturais e fez com que o país se tornasse atualmente o que mais cresce na região.

Hoje, a Guiana, um país com 800 mil habitantes, tem as maiores reservas de petróleo per capita. Já a Venezuela tem as maiores reservas absolutas, embora sua capacidade de produção, por causa do colapso da estatal PDVSA, tenha diminuído de 3,4 milhões de barris por dia para 700 mil barris por dia.

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