\n \n Durante\n esta semana pudemos respirar por alguns instantes do mais puro ar do ideal de\n liberdade enbsp;igualdade, ao recordarmos o histórico discurso proferido há 50\n anos por Martin Luther King, nanbsp;marcha sobre Washington, ocorrida em\n 28/08/1963.\n \n Um\n século antes daquele discurso um grande homem, em cuja sombra estava King,\n havia conduzido onbsp;parlamento americano à abolição da escravatura naquele\n País. Mas cem anos depois, lá estavam 250nbsp;mil negros anunciando as mazelas\n da segregação e do ódio racial, ainda imperantes na sociedadenbsp;americana na\n época.\n \n Naquele\n 28 de agosto histórico, Martin Luther King anunciou ao mundo um sonho de\n liberdade: “eunbsp;tenho um sonho” – dizia. “Um sonho de que minhas quatro\n pequenas crianças vão um dia viver emnbsp;uma nação onde elas não serão\n julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter”.\n \n Este\n eloquente e poderoso discurso produziu efeitos e reverberou por muito mais além\n do quenbsp;alcançou a voz de Luther King. Reverberou pela história! E até\n hoje, em todo mundo, aquelas palavrasnbsp;servem de inspiração para as causas\n de liberdade, igualdade e justiça, temas, aliás, tão comuns emnbsp;nosso\n ambiente de debate crítico da Ordem dos Advogados do Brasil.\n \n E\n é esta inspiração que me leva a propor uma pequena reflexão: “Qual é o nosso\n sonho?”nbsp;Qual é o nosso sonho? Em um país em que milhões de pessoas são\n escravizadas pelos grilhões danbsp;desigualdade e da pobreza. Aferrolhadas por\n míseras bolsas disso e bolsas daquilo.\n \n Qual\n é o nosso sonho? Quando não se importam em educar nossas crianças, e muitas delas\n deixam anbsp;vida ainda na juventude, levadas pelas drogas e\n criminalidade.nbsp;Qual é o nosso sonho? Onde milhares sucumbem sem\n atendimento médico adequado em hospitaisnbsp;precários, e ao mesmo tempo\n milhões de reais são desviados da saúde pública em escândalos surreais.\n \n Qual\n é o nosso sonho? Quando homens que tiveram a coragem de se opor ao crime, são\n cruelmentenbsp;assassinados em frente a escolas, e corpos são achados\n esquartejados em lixões.nbsp;\n \n Qual\n é o nosso sonho? Onde a infâmia da corrupção golpeia instituições e poderes do\n Estado, e anbsp;apuração casos graves é simplesmente jogada para debaixo do\n tapete da impunidade.\n \n Qual\n é o nosso sonho? Em um momento em que o ideal de justiça se torna, cada vez\n mais, apenas umanbsp;teoria a ser estudada nos livros da faculdade.nbsp;Qual\n é o nosso sonho? Quando a advocacia, a profissão que existe pelos direitos,\n agoniza entre asnbsp;ofensas às suas prerrogativas e a morosidade endêmica do\n Poder Judiciário.\n \n Qual\n é o nosso sonho?nbsp;E se temos sonhos, como de fato todos temos, que lutemos\n por eles armados com a força do nossonbsp;pensamento, e tenhamos fé de que um\n dia nossos filhos e netos, e talvez nós, viveremos em umanbsp;sociedade justa\n e fraterna.\n \n (*)\n Jully Heyder da Cunha Souza, advogado e secretário Geral Adjunto da OAB/MS\n \n \n \n \n