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ImprimirA mãe de umas das 242 vítimas da tragédia da boate Kiss passou mal durante uma audiência no Fórum de Justiça de Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, na tarde de terça-feira (7). A aposentada Marta Beuren, de 66 anos, é ré em uma ação movida por um advogado e um ex-promotor da cidade.
Ela é processada pelo ex-promotor do Ministério Público João Marcos Adede y Castro e pelo filho dele, o advogado Ricardo Castro, por injúria, difamação e falsidade ideológica. De acordo com a defesa de Marta, o processo foi instaurado devido a um artigo publicado em um jornal da cidade de autoria da aposentada.
O G1 tenta contato com João Marcos e Ricardo para comentar o processo. Até o momento da publicação desta matéria, a reportagem não havia obtido retorno.
No texto publicado, de acordo com Patricia Michelon, advogada de Marta, ela ressalta que o advogado da boate é filho do promotor que instaurou o inquérito de impacto ambiental da Kiss, 'mas que atuaram em momentos separados'.
“Ela fala verdades e faz a distinção de momentos. Porque o promotor [João Marcos] instaurou [o inquérito], se aposentou e o processo foi distribuído. Aí, o advogado da boate, o Ricardo, assinou o TAC (termo de ajustamento de conduta). Eles acusam ela de caluniar e difamar. Querem fazer parecer que a Marta disse que houve calúnia. Eles pedem valor financeiro e retratação pública, com a publicação da sentença", relata a advogada de Marta.
Patrícia conta que o mal-estar se deu ao final da audiência, quando a acusação mostrou matérias publicadas na mídia que teriam gerado opinião pública negativa, incluindo publicações nas redes sociais contra o advogado e o ex-promotor.
“Mostraram reportagens e, inclusive, uma foto do Facebook na qual aparece ela [Marta] ao lado do filho [morto na tragédia da boate] e da filha. Ela, então, passou mal, teve um mal-estar. Ficou desestabilizada emocionalmente por causa disso. Ela chorou ao reviver toda a dor da perda do filho”, relata Patrícia ao G1.
Uma ambulância chegou a ser solicitada para socorrer Marta. No entanto, psicólogos da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) atenderam ela. Houve tumulto provocado pelos pais presentes na audiência, na 3ª Vara Cível do Fórum da cidade.
"No momento que a Marta começou a chorar, outros pais tomaram a dor dela, que é deles também. Todos se colocam no banco dos réus juntos, contra os autores do processo. O tumulto foi porque eles perguntavam 'viram o que estão fazendo? Não basta termos perdido nossos filhos? Eles não vão voltar, vocês não perderam nada', coisas nesse sentido", relata a advogada de defesa.
Ainda segundo Patrícia, a repercussão ocorre devido ao processo movido contra a sua cliente, e não pelo artigo publicado por ela. "Eles [acusação] que deram a publicidade que eles reclamam", diz.