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Ciência e Saúde
08/01/2021 13:00:00
Estudo pretende tratar câncer de pele sem efeitos colaterais

Correio do Estado/LD

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Débora Baldivia espera repasse do Programa Centelha para começar a desenvolver o projeto (Foto: Arquivo Pessoal )

Uma pesquisadora sul-mato-grossense está desenvolvendo um projeto para melhorar o tratamento de câncer de pele. O adesivo transdérmico, ou seja, capaz de atingir a corrente sanguínea, vai agir somente em células cancerígenas, sem atingir as saudáveis.

Isso será possível através da liberação de princípios bioativos de plantas nativas do Cerrado por um longo período de tempo, sem afetar as células saudáveis. Ao contrário do que acontece na quimioterapia, por exemplo.

“Atualmente não existe no mercado produtos semelhantes a esse, apenas medicamentos tópicos, como pomadas, sem efeitos transdérmicos. Sendo assim, o adesivo AdevStringens vai ser uma tecnologia de ponta futura”, explicou a autora da proposta, Débora da Silva Baldivia.

A pesquisadora de 35 anos é formada em Ciências Biológicas-licenciatura, com mestrado em Biologia Geral/Bioprospecção pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e doutorado em Biotecnologia e Biodiversidade também pela UFGD.

Ainda é cedo para saber se o projeto poderá substituir a quimioterapia ou se será capaz de ser usado em conjunto a ela, como um tratamento complementar. Mas de acordo com a bióloga, os pesquisadores trabalharão para que o adesivo seja suficiente para curar sozinho as células cancerígenas.

Se isso acontecer, os pacientes ficarão livres dos efeitos colaterais causados pela quimioterapia e só precisarão ir aos hospitais para colar o adesivo próximo das áreas onde estão os tumores.

“O paciente gastará somente alguns minutos na clínica para colar o adesivo sobre a pele e retornar para sua casa ou ambiente de trabalho”, apontou Baldivia.

Depois de pronto, o estudo inovador poderá ser aplicado na rede de saúde do Estado e virar tendência a nível mundial.

Atualmente as principais dificuldades que os pacientes encontram no tratamento do câncer é a resistência aos quimioterápicos, a alta toxicidade e a alta capacidade da formação de metástase, que é a disseminação do câncer para outros órgãos.

O câncer de pele corresponde 33% de todos os diagnósticos de câncer no Brasil. Além disso, são registrados cerca de 185 mil novos casos a cada ano pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA).

O tipo mais comum é o câncer de pele não melanoma, que tem baixa letalidade. Em Mato Grosso do Sul as mulheres foram as mais atingidas por essa tipagem, foram 1.980 casos registrados em 2020, contra 1.510 homens diagnosticados com a doença.

O tipo melanoma é o menos frequente, mas possui alto índice de letalidade. No estado foram 50 homens e 50 mulheres com o diagnostico recebido no ano passado. As estimativas são do Inca, contabilizadas com incidência por 100 mil habitantes.

Os medicamentos usados para tratar o melanoma causam grandes efeitos colaterais nos pacientes e ainda não alcançam resultados satisfatórios em termos de remissão completa do tumor e prevenção de metástases.

Baldivia afirmou que os testes já realizados em laboratórios mostraram resultados promissores em relação ao tratamento do melanoma. “O adesivo proporcionará um efeito terapêutico mais prolongado, sem efeito colateral e poderá prevenir a formação da metástase”.

Desenvolvimento

O adesivo será desenvolvido no Laboratório de Biologia Molecular e Cultura de Células da Universidade Federal da Grande Dourados. A bióloga contará com a parceria dos professores doutores Edson Lucas dos Santos e Kely de Picoli Souza, responsáveis pelo laboratório.

Além disso, uma parte do projeto será desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) com os pesquisadores Fernando de Freitas Lima e Caroline Honaiser Lescano.

O AdevStringens foi um dos classificados no Programa Centelha, que destina recursos para o fomento à tecnologia e inovação de empreendimentos com cunho científico, e aguarda para assinar o contrato e assim poder receber os recursos necessários para iniciar o desenvolvimento do projeto.

“Já atendi todas as exigências do programa, como enviar toda documentação exigida, abertura da empresa e de uma conta empresarial. O próximo passo será assinar o contrato e começar a receber as parcelas para dar início o desenvolvimento do produto”, explicou a responsável pelo projeto.

Serão disponibilizados R$ 58.350 para a criação dos adesivos. As parcerias firmadas fornecerão o espaço e equipamentos necessários para a realização das etapas de desenvolvimento.

Contudo, quando a empresa estiver em andamento, os pesquisadores pretendem captar novos recursos através de financiamentos, como o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO) e agência pública Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Programa Centelha

A Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro) divulgou o planejamento do Programa Centelha II MS em 2021. Estão previstos R$ 2 milhões de investimento.

O recurso é proveniente de contrato firmado entre a Semagro, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (Fundect).

Além do de Baldivia, mais de 60 outros projetos foram aprovados no programa desde sua criação, em 2019. O valor estimado é de até R$ 60 mil reais para cada um.

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