Sexta-Feira, 2 de Maio de 2025
Ciência e Saúde
24/05/2012 09:22:32
Os desafios para o tratamento do usuário de crack
É fácil tornar-se um dependente químico, mas é difícil fazer o caminho inverso, especialmente quando se depende do Sistema Único de Saúde.

VEJA/PCS

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Largo São Francisco, centro de São Paulo (Foto: PC de Souza)
\n \n Especialistas\n que conhecem a fundo os efeitos do crack no organismo dizem que não basta uma\n tragada para que o usuário fique viciado, mas tornar-se um dependente químico é\n um processo rápido. Fazer o caminho contrário, contudo, é difícil. Estima-se\n que a taxa de sucesso dos tratamentos de desintoxicação gira em torno de 25% a\n 30%.\n \n Ana\n Cecília Marques, coordenadora do departamento de dependência química da\n Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que o tratamento anticrack é\n dividido em três fases: desintoxicação, diagnóstico dos fatores que levaram o\n indivíduo à dependência e controle dessa mesma dependência, que pode incluir\n uso de medicação. "Na última fase, o usuário precisa fazer essa\n manutenção, porque a dependência é uma doença crônica", diz. "Ele não\n vai ter alta: precisa fazer retornos periódicos. Além disso, é necessário\n avaliar seu processo de reinserção na sociedade."\n \n O\n caminho para livrar-se da droga pode ser mais tortuoso se depender do Sistema\n Único de Saúde (SUS). "Infelizmente, no Brasil, não temos um tratamento\n público para a maior parte dos dependentes químicos", diz Ana Cecilia.\n Atualmente, para atender esses doentes, o governo federal mantém 8.800 vagas em\n hospitais psiquiátricos, 243 centros de atenção psicossocial álcool e drogas\n (Caps-AD), Núcleo de Saúde da Família e 35 Consultórios de Rua. É pouco se\n considerada a estimativa do Ministério da Saúde de 600.000 usuários somente de\n crack no país. A rede de saúde mental faz parte do SUS, que tem ações do âmbito\n federal, estados e municípios - é sempre este que responde pelo atendimento.\n \n Em\n maio, o governo prometeu, por meio do Plano Integrado para Enfrentamento do\n Crack e outras drogas, repassar 140 milhões de reais aos municípios brasileiros\n para o tratamento dos dependentes. No pacote, está o financiamento denbsp;\n 6.120 leitos, que englobam vagas em hospitais gerais, nas comunidades\n terapêuticas (iniciativas do terceiro setor e de entidades religiosas), nos\n Caps AD 24 horas e em casas de acolhimento transitório. Os editais para tornar\n concretas as promessas foram publicados somente no fim de outubro. Ou seja,\n nada disso está de pé até o momento. Outra promessa: elevar, até o fim deste\n ano, de 35 para 70 o número de Consultórios de Rua, que levam equipes\n multiprofissionais até os locais onde estão os usuários. Outro objetivo do\n projeto é capacitar profissionais de saúde e de assistência social na prevenção\n e tratamento de usuários de crack e demais drogas - um ponto nevrálgico da\n questão, segundo Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo\n (Unifesp): "Capacitar essas equipes é um desafio", diz.\n \n Promessas\n ambiciosas à parte, os especialistas criticam a qualidade do atual serviço de\n tratamento nos Caps: faltam médicos especializados, leitos e acompanhamento da\n evolução dos pacientes. No total, são 1.671 Caps no país, sendo 243\n especializados em álcool e drogas. Um estudo publicado neste ano pelo Conselho\n Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) revelou falhas\n importantes no funcionamento de todos as unidades: de 85 Caps avaliados, 69,4%\n apresentaram carência de profissionais e em dez deles, dedicados a álcool e\n drogas, havia um único psiquiatra disponível.\n \n Simultaneamente\n às ações anunciadas pelo governo, a Secretaria Nacional Antidrogas realiza\n treze estudos clínicos, com um total de 1.200 pacientes, em parceria com seis\n universidades brasileiras. O objetivo é acompanhar os pacientes durante a\n jornada de busca por tratamento, reinserção social e diagnóstico de doenças\n mentais. "Esses estudos vão nos dar as direções em relação às melhores\n formas de abordar os pacientes", explica Paulina Duarte, secretária\n adjunta da Senad e responsável técnica pelo estudo.\n \n As\n autoridades de saúde terão de responder à urgência do tema e também à demanda\n crescente por tratamentos. Segundo dados preliminares de um levantamento\n realizado pelo grupo de pesquisa de Ana Cecília, cresce a procura de usuários\n de crack por terapias de desintoxicação. A pesquisa acompanha anualmente um\n grupo de dependentes químicos: há dois anos, o percentual dos viciados em crack\n que procuravam a ajuda era de 30%; este ano, essa parcela saltou para 70%.
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