Quarta-Feira, 22 de Outubro de 2025
Comportamento
21/10/2025 11:05:00
Ela vivia no lixão e hoje fatura milhões: 'Me alimentava de restos'

UOL/PCS

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Empresária Alexandra Borges começou a trabalhar aos 13 anos e descobriu aptidão para as vendas

As cifras de um faturamento anual milionário não lembram de longe o início da vida da empresária Alexandra Borges, 52, resgatada de um lixão no município de Jacareí, interior de São Paulo.

Eu tinha um ano e 10 meses quando fui encontrada brincando entre sacos de lixo e me alimentando de restos de comida. Vivia sendo deixada, sem cuidados, entre minha mãe e avó biológicas. Foi então que Sebastiana, uma lavadeira, me resgatou e me acolheu em sua casa, me dando amor, dignidade e um novo sobrenome. Alexandra Borges.

A empresária conta que cresceu ao lado dos nove filhos da mãe adotiva, e, embora a união e o amor fossem grandes na família, por falta de recursos, viu o básico faltar em casa.

"Vivíamos com muitas dificuldades. Lembro bem da luta diária para colocar comida na mesa, mas também me recordo da união, da fé e do afeto que nos sustentavam", disse.

Diante das dificuldades enfrentadas pela família, Alexandra conta que, ainda criança, aos oito anos, foi às ruas vender coxinhas feitas pela mãe.

Vi a minha mãe chorando por não termos dinheiro para comprar uma torneira para lavar as roupas. Fui à rua com uma bacia de coxinhas que eu chamava de "bolinhas de frango com amor". Não vendi nada na primeira tentativa, mas voltei contando a nossa história e vendi tudo, inclusive o pote.

Alexandra (de saia e chinelo) posa ao lado dos irmãos e da mãe, Sebastiana.

O trabalho formal entrou na vida de Alexandra aos 13 anos. Precisou conciliar os estudos com a rotina laboral. Ela conta que essa experiência a fez perceber que tinha aptidão para as vendas.

"Trabalhei como balconista em uma papelaria na temporada de volta às aulas. Durante um temporal coloquei uma capa, abri os guarda-chuvas da loja e fui para a calçada. Vendi todo o estoque e fui efetivada. Eu trabalhava o dia todo e estudava à noite. Era um desafio conciliar estudo e trabalho, mas aprendi cedo que o esforço era meu caminho para conquistar a liberdade", conta.

A maturidade precoce de Alexandra também veio com uma gravidez na adolescência e um casamento antes de completar 18 anos.

"Conheci o pai dos meus filhos aos 14 anos e logo começamos a namorar. Aos 17 engravidei e nos casamos às pressas. Dois meses após o nascimento da nossa primeira filha, Thereza, descobri uma nova gravidez, e nasceu o Jean. Eles têm apenas 11 meses de diferença. Éramos muito jovens e imaturos e o casamento durou apenas três anos", relata Alexandra.

A vida ainda traria outro desafio pessoal para Alexandra, que logo após o divórcio descobriu dois nódulos na tireoide.

"Eu já apresentava sintomas, incluindo inchaços, taquicardia, queda de cabelo, mas achava que era apenas cansaço. Fui diagnosticada por uma cliente, que era médica e me ajudou. O tratamento foi longo, com medicamentos fortes que afetaram minha autoestima. Mesmo assim continuei trabalhando e encontrei na dor um propósito: lutar pelos meus filhos e nunca desistir", conta.

A virada

Alexandra não parou de trabalhar. Mergulhou ainda mais no mundo do varejo, atuando como vendedora e gerente em lojas de grandes marcas de calçados. Um convite para atuar no exterior mudaria a sua vida e a dos filhos.

"A oportunidade de supervisão veio depois de muito esforço e entrega. Para custear a faculdade de medicina dos meus filhos, aceitei gerenciar a abertura de uma loja-âncora atacadista em Angola, em 2010. Também vi a oportunidade de trabalhar mais e juntar dinheiro. Foram cinco anos de muito trabalho, em um ambiente desafiador e diferente do que eu estava acostumada no Brasil", conta.

Com capital financeiro e conhecimento, Alexandra conta que retornou ao Brasil empenhada em montar o próprio negócio.

"O empreendedorismo sempre foi um sonho antigo, mas eu não tinha capital para começar. Fiz diversos cursos no Sebrae, que me deram muita clareza sobre a minha veia empreendedora. Estudei o mercado e busquei entender quais segmentos eram mais viáveis. Eu não podia errar, eram as economias de anos de trabalho duro. Comecei com franquias porque já vinham com estrutura, processos testados e validados", destaca a empresária.

Em 2015, Alexandra adquiriu a primeira franquia, uma unidade da Casa do Pão de Queijo, e, em seis meses, uma do Café do Ponto. Quase uma década depois, em 2024, as duas frentes atenderam mais de 150 mil clientes e registraram alta de 23% no faturamento anual, calculado em R$ 6 milhões.

Neste ano, a empresária abriu uma loja de marca própria, o Café do Barão, em um shopping de São José dos Campos (SP).

"O negócio foi fechado após seis meses de negociação. Para nos destacar, ouvimos os clientes, mantivemos o estilo colonial que eles apreciavam no café, focamos na experiência e no acolhimento", revela.

Alexandra espera faturar R$ 8 milhões este ano com as três operações no ramo de alimentação.

Alexandra abriu uma loja com marca própria

Olhando para trás

Alexandra dedica a própria história à mãe adotiva, Sebastiana, que a resgatou no lixão em Jacareí.

Sinto uma profunda gratidão. Em cada conquista carrego sua essência, resiliência e acolhimento. Ela foi a minha verdadeira mãe. Me ensinou o que é amor, cuidado e generosidade.

A empresária, que começou a trabalhar na infância e não teve a oportunidade de apenas se dedicar aos estudos, reforça o poder da educação na vida de crianças e mulheres.

"A educação na vida de uma criança é a ferramenta que abre portas, amplia horizontes e cria oportunidades que muitas vezes parecem impossíveis. No caso das mulheres, a educação é sinônimo de empoderamento, permite que possamos nos posicionar, conquistar independência financeira, tomar decisões e ocupar espaços de liderança que antes pareciam inalcançáveis. Fui uma menina que nasceu em meio à escassez e dificuldades, mas encontrei caminhos para transformar minha realidade. E é isso que desejo passar para outras mulheres, acreditar que por meio do conhecimento e da determinação é possível mudar destinos inteiros, o nosso e o de nossas famílias", conclui.

No Brasil, desde 1998, é proibido qualquer trabalho a menores de 16 anos de idade, com exceção para a condição de aprendiz a partir dos 14 anos.

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