Sheila Forato
ImprimirÉ do fogão a lenha que dona Maria Aureni Souza, de 53 anos, assiste o desenvolvimento chegar à região norte de Mato Grosso do Sul com a duplicação da BR-163. No comando da cozinha de seu restaurante, localizado no quilometro 814 da rodovia, no Parque Novo Horizonte em Sonora, ela se prepara para acompanhar as mudanças.
A demanda já aumentou e está aliando a simplicidade da comida caseira à necessidade de ampliar os negócios, que começaram há seis anos. Em meio ao vocabulário simples, a pequena empresária se faz entender. Ao mesmo tempo em que aponta para a usina de asfalto construída para atender as obras em frente ao seu comércio, ela afirma que duplicação da BR-163 vai ser um divisor para a economia da região.
Maria tem razão. Não há crescimento econômico sem a existência de infraestrutura que atenda aos interesses de indústrias, integrando municípios por meio de modais de transportes eficientes, que interliguem de fato as regiões do Brasil. Por isso, a duplicação pode incrementar a economia do norte de Mato Grosso do Sul, região mais pobre do estado, conforme o Mapa da Indústria produzido pela Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul) em 2015.
O norte permanece em último lugar, com apenas 467 indústrias que geram 4.608 empregos. A exportação é de US$ 67,9 milhões e o PIB (Produto Interno Bruto) Industrial é de R$ 296 milhões, menor do que em 2013, quando o Mapa da Indústria apontou R$ 303 milhões. As dificuldades de crescimento são várias, entre elas as restrições ambientais por conta do Pantanal, limitando instalação de algumas indústrias na região, mas a expectativa é positiva por parte dos gestores públicos, que também apostam no crescimento da economia.
O secretário de Indústria, Comércio e Serviços de São Gabriel do Oeste, Jair Froza, acredita que os municípios do norte estão se tornando mais atrativos para a indústria, pois a duplicação da principal rodovia de Mato Grosso do Sul vai garantir escoamento ágil e eficiente da produção. “Ainda não conseguimos mensurar os benefícios, é tudo muito novo, mas o crescimento econômico é uma questão de tempo”, enfatiza o secretário.

Um pouco mais audacioso, o prefeito de Coxim, Aluizio São José (PSB), acredita que a duplicação já tem dado sua contribuição para o crescimento. Ele cita os empregos diretos e indiretos gerados desde que a CCR MSVia iniciou as obras de duplicação dos 847,2 quilometros da BR-163, que corta o estado de norte a sul. “São mais de dois mil empregos gerados por meio das empresas contratadas para realização de obras e prestação de serviços, além dos contratados diretos pela concessionária”, exemplificou o prefeito.
Para o prefeito de Sonora, Yuri Valeis (PSDB), os municípios devem se preparar cada vez mais, se tornando atrativos. Em Sonora, desde 2013, foi criada a zona especial de interesse comercial, as margens da BR-163. Os terrenos são doados para as empresas em função dos empregos gerados. Além da doação, o município também concede incentivos fiscais às empresas que queiram se instalar em Sonora.
A perspectiva de um futuro promissor não é restrita, alguns empresários da região norte já estão se preparando para investir nos municípios por conta da duplicação da BR-163. Outros já investiram apostando no crescimento da economia durante as obras. As margens da rodovia, no município de Coxim, novos empreendimentos já podem ser vistos, inclusive do setor hoteleiro.

Um desses exemplos vem do empresário Cláudio José de Lima, de 39 anos, que migrou da cidade para as margens da rodovia, ampliou o atendimento de seu restaurante, passou a gerar mais empregos e espera aumentar as vendas ainda mais. Ele conta que a expectativa é das melhores, pois em quatro meses conseguiu girar o esperado para os nove primeiros meses no novo endereço.
De um restaurante pequeno na cidade, com capacidade para servir 40 pessoas, ele passou a servir entre 120 e 140 refeições diariamente. Antes eram apenas dois funcionários, hoje são 12, além dele, da mulher e do filho, sem contar os finais de semana e feriado que o empresário tem de contratar diaristas.
Ainda em Coxim, outros empresários esperam pelo projeto final da duplicação na zona urbana do município para continuar investindo. Um dos projetos é a construção de hotel, com 120 leitos, as margens da BR-163, no entroncamento com a BR-359, que liga os municípios do norte ao estado de Goiás.
A necessidade de melhorar a malha viária de Mato Grosso do Sul nunca foi novidade. O Centro-Oeste Competitivo, estudo feito no estado pela Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul) em parceria com a Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) para a as respectivas Confederações Nacionais, apontou a BR-163 como o gargalo mais crítico do projeto, que abrangeu todos os estados do Centro-Oeste.

Na época, o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Braga de Andrade, enfatizou que a indústria pode e quer participar do esforço para recuperar e modernizar a infraestrutura do país. “Uma rede de transporte integrada e eficiente facilita a distribuição dos produtos, reduz os custos e aumenta a competividade”, ponderou o presidente.
Desde o início, o presidente da Fiems, Sérgio Longen, defendeu a duplicação, frisando que o impacto seria positivo. “O setor produtivo só tem a ganhar com a melhoria da malha viária. Rodovias esburacadas causam desgastes nos caminhões e isso reflete diretamente no custo do frete”, declarou o presidente, em diversas ocasiões.
Apesar de dividir opiniões por conta da cobrança de pedágio, a duplicação é bem vista pelo caminhoneiro Mário Scheffer, de 33 anos, que corta o Brasil transportando grãos. Ele conta que a privatização das rodovias é pauta constante nos pátios de postos de combustíveis, onde os colegas se reúnem.
“Os que criticam não analisam o custo benefício. Eu prefiro pagar pedágio e andar numa estrada em boa condição, além de contar com toda a infraestrutura necessária para atender os usuários”, ponderou. Schaeffer informou que um guincho para sua carreta custa, em média, R$ 1.500,00. Os pneus são do mesmo valor.
PEDÁGIO – A CCR MSVia começa a cobrar pedágio na BR-163 no próximo dia 14, pois a meta contratualizada de concluir 10% das obras de duplicação foi atingida em agosto. O valor médio apontado pela empresa em 2013 seria de R$ 4,38 por eixo, reajustado pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
Nesta primeira etapa foram duplicados os trechos entre os quilômetros 226,231 e 237,524, e do 203,895 ao 192,250 em Caarapó; entre o 511,595 e o 518,278 em Jaraguari e do 578,816 ao 589,585 em Bandeirantes. Em São Gabriel do Oeste e Rio Verde são cinco trechos, do 593,410 ao 600,541, do 619,034 ao 627,337 e do 628,485 e 647,337, além do 693,350 ao 697,400 e do 654,387 ao 650,329; e em Sonora foram duplicados do 830,646 ao 822,620.
ACIDENTES – Os benefícios com a duplicação da rodovia não se limitam a possibilidade de crescimento, pois a CCR MSVia também comemora a redução de acidentes, principalmente com vítimas fatais. Entre julho de 2014 e julho de 2015, conforme a concessionária, a redução foi de 50% no número de mortes.
Para o chefe da 6ª Delegacia da PRF (Polícia Rodoviária Federal), inspetor Francisco Xavier da Silva, a duplicação da BR-163 trouxe muitos benefícios para os usuários, principalmente no sentido de salvar vidas devido a qualidade da malha viária que vem sendo construída em Mato Grosso do Sul, assim como sinalização vertical e horizontal adequada, socorro médico eficiente e apoio geral aqueles que necessitam trafegar pela rodovia, que já foi uma das mais temidas.