Economia
17/02/2014 07:31:31
Indústria do coco cresce, mas alto desperdício gera desafio tecnológico
Em parte pelo calor, em parte pelo apelo saudável, o consumo de água de coco tem crescido no Brasil entre 10% e 20% ao ano, de acordo com Sindcoco (sindicato nacional dos produtores de coco).
BBC Brasil/LD
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Em\n parte pelo calor, em parte pelo apelo saudável, o consumo de água de \n coco tem crescido no Brasil entre 10% e 20% ao ano, de acordo com \n Sindcoco (sindicato nacional dos produtores de coco). Mas não raro o \n destino da casca do coco verde é uma pilha de lixo em alguma praia \n brasileira.\n "É um mercado grande, mas o aumento da demanda tem gerado uma grande \n quantidade de resíduos sólidos, que é um material problemático", explica\n Fernando Abreu, pesquisador da Embrapa no Ceará, um dos polos \n brasileiros de produção de coco. "Basta pensar que cada coco tem entre 2\n kg e 2,5 kg, e até 70% de seu peso está na casca."\n Segundo Francisco Porto, presidente do Sindcoco, o Brasil produz \n anualmente 1 bilhão de cocos verdes (de onde é extraída a água) e 1 \n bilhão de cocos secos (matéria-prima do coco ralado e do leite de coco).\n Apenas 10% desse total é reciclado. "Quase tudo vai para o lixo. É um subaproveitamento."\n Produtores e empresas consultados pela reportagem explicam que a \n reciclagem tende a ser cara e trabalhosa. Esforços para reaproveitar o \n coco estão parados em algumas cidades, mas, ao mesmo tempo, crescem as \n iniciativas e as pesquisas em busca de usos cada vez mais inovadores\n e ecologicamente corretos do material.\n De MDF à contenção de encostas\n Na linha de frente das pesquisas está a Embrapa (Empresa Brasileira de \n Pesquisa Agropecuária), que estuda uma forma de transformar os resíduos \n do coco verde em um material prensado semelhante ao MDF (compensado de \n madeira). A ideia é que, no futuro, o produto final seja uma alternativa\n à madeira na produção de móveis.\n "Nossa pesquisa já está em fase final, avaliando a resistência do \n material", explica Fernando Abreu. "O que falta é um investidor, uma \n empresa que tenha interesse em passar um período aqui dentro (da \n Embrapa) para a transferência dessa tecnologia."\n Seu colega Adriano Mattos cita também estudos para obter, a partir da \n casca, resinas e nanocristais de celulose, que possam ser usados para \n aumentar a resistência de materiais plásticos.\n Enquanto isso, recicladores de coco tentam difundir o uso de produtos reciclados que já são mais conhecidos.\n Um exemplo é o pó do coco triturado, que gera um substrato com alta \n capacidade de absorção de água. Por isso, é usado como adubo na \n agricultura por exemplo, na plantação de cana-de-açúcar, de flores ou \n mesmo dos próprios cocos.\n "Para cada mil quilos de casca de coco, obtemos 300 kg de adubo \n orgânico", explica Emerson Tenório, diretor-superintendente-executivo da\n Sococo, empresa especializada em produtos com coco e que tem fábricas \n em Alagoas e Pará.\n Os resíduos também podem ser processados para gerar energia por meio da \n queima. E a fibra da casca é usada como substituto de xaxins, para \n compor estofados de assentos de veículos, para isolantes térmicos e para\n fazer mantas biológicas usadas na contenção de encostas, evitando \n deslizamentos.\n A empresa baiana Fibraztech, que iniciou seus trabalhos no ano passado, \n diz que a meta é produzir 6 milhões de metros de biomanta em 2014. O \n produto já é vendido para proteger encostas no Nordeste brasileiro, e a \n companhia quer agora vender para o exterior está em negociações para \n exportar ao Panamá.\n "É um mercado de grande potencial, mas que precisa ser mais divulgado", diz Fausto Ferraz, diretor industrial da Fibraztech.\n Mercado interno\n Mas o principal mercado é mesmo o interno. Empresas e representantes do \n setor dizem que é muito difícil concorrer no exterior - seja vendendo a \n água de coco ou os derivados reciclados devido aos baixos salários \n pagos aos trabalhadores do sul da Ásia (em países como Indonésia e Sri \n Lanka), onde se concentra a maior produção de coco do mundo.\n Tenório, da Sococo, calcula que, enquanto o Brasil tem 300 mil hectares \n plantados de coco, Filipinas e Indonésia tenham entre 4 e 5 milhões de \n hectares.\n "O custo Brasil é alto, é difícil ganhar mercado lá fora competindo com a\n Indonésia", explica. Mas aqui no Brasil, diz ele, "só não se consome \n mais água de coco porque não tem".\n "A água de coco é uma coqueluche mundial. O consumo do coco seco \n acompanha o crescimento da população, mas o do verde (de onde é extraída\n a água) tem crescido muito mais", diz ele.\n Segundo Tenório, a Sococo recicla 100% de suas cascas, usadas tanto para biomantas quanto para adubar mudas.\n Mas o reaproveitamento não traz lucros, diz ele. "Quando empatamos (com \n os custos) já estamos felizes. (A obtenção do substrato vegetal) é cara e\n complexa, são investimentos que duraram 15 ou 20 anos. E, pela produção\n se concentrar em países pobres, as pesquisas são próprias e \n experimentais."
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