Sexta-Feira, 10 de Outubro de 2025
Economia
03/04/2014 06:15:27
Número de moedas "alternativas" dobra no país em 5 anos
Total de bancos comunitários passou de 51 em 2009 para 104 neste ano. Aumento foi causado pela abertura de editais federais de apoio.

G1/PCS

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O número de bancos com moedas próprias dobrou nos últimos cinco anos no\n Brasil, segundo dados da Rede Brasileira de Bancos Comunitários. Em 2009,\n existiam 51 instituições no país; agora, são 104.\n \n Em 2013, os bancos, que são geridos por associações de moradores, foram\n responsáveis por movimentar R$ 18 milhões em crédito produtivo e 600 mil nas\n chamadas “moedas sociais” - o dinheiro tem lastro em reais e pode ser aceito\n apenas por comerciantes credenciados na região do banco.\n \n As moedas sociais são usadas para estimular o comércio de áreas carentes.\n Elas garantem que o dinheiro circule apenas entre comerciantes e moradores\n localmente, e não se disperse por outros lugares, como acontece com o real.\n Assim, o retorno econômico é garantido.\n \n Além disso, os bancos comunitários também são criados para contornar a falta\n de serviços bancários em bairros e cidades do país. Eles ainda são importantes\n por causa de seus papéis sociais - como são controlados por associações de\n moradores, a própria comunidade é quem decide para onde o investimento será\n direcionado, já que é ela quem aprova os empréstimos.\n \n Regras
\n Hoje, as instituições estão concentradas no Nordeste (51), região que é seguida\n por Sudeste (27), Norte (16) e Centro-Oeste (10). Segundo a Rede, não há bancos\n comunitários no Sul. O principal estado é o Ceará (37), lar do Instituto\n Palmas, responsável pelo primeiro banco do país: o Palmas, aberto em Fortaleza\n em 1998.\n \n As instituições são abertas com a ajuda de grupos que têm respaldo do Banco\n Central, como o próprio Instituto Palmas. “Prefeitos ou moradores nos procuram\n para abrir um banco e nós fazemos o projeto. É preciso em média R$ 60 mil para\n começar, comprar equipamentos e fazer moeda”, diz Joaquim Melo, coordenador do\n instituto e diretor da Rede.\n \n Além disso, é preciso seguir algumas regras: uma moeda social deve valer R$\n 1; deve existir o câmbio entre as moedas; a circulação do dinheiro deve ser\n restrita à região do banco e deve existir livre aceitação - ou seja, ninguém é\n obrigado a aceitar a moeda.\n \n Quando aprovado o projeto, inicia-se a formação financeira das pessoas que\n vão gerir o banco, que são moradores da própria comunidade e que geralmente\n nunca trabalharam na área. Elas contam com o apoio dos institutos durante um\n tempo, mas depois estão por conta própria.\n \n O último banco inaugurado foi em Maricá, no Rio de Janeiro. Ele foi feito em\n parceria com o Instituto Palmas e com a prefeitura, que fundou o Bolsa Mumbuca,\n uma complementação de renda semelhante ao Bolsa Família, mas que utiliza a\n moeda social mumbuca. Diferente das outras instituições já existentes, porém, o\n projeto é o primeiro do país a utilizar a moeda social eletrônica, com um\n cartão de débito.\n \n Segundo Melo, um banco na periferia de Fortaleza deve ser o segundo do país\n a receber a moeda eletrônica. “Governos de muitos municípios estão no ligando,\n pois a ideia é boa não só para quem consome, mas também para quem produz”, diz.\n \n Editais
\n Segundo especialistas e pessoas envolvidas na área ouvidos pelo G1,\n o aumento do número de bancos desde 2009 foi causado pelo apoio da Secretária\n Nacional de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho e Emprego. Desde\n 2010, o órgão lança editais para estimular a abertura de novos bancos e manter\n os que já existem.\n \n “O papel da secretaria foi importante, pois é difícil para cooperativas e\n associações de moradores conseguir financiamento. Assim, o potencial já\n existia, mas faltava o dinheiro”, diz Augusto Câmara Neiva, coordenador do\n Núcleo de Economia Solidária da Universidade de São Paulo (Nesol-USP).\n \n O governo já repassou R$ 22,5 milhões para o setor através de dois editais -\n um em 2010, que gerou um pico de bancos em 2011 (20) e 2012 (32), e outro em\n 2013, que ainda está sendo consolidado. “Os bancos são geralmente criados em\n pequenas cidades pobres, mas outros também são abertos em bairros carentes de\n capitais. O fundamental é que pertença à população”, diz o secretário Paul\n Singer.\n \n Com os contratos firmados no ano passado, a secretaria espera que o número\n de bancos comunitários no país suba para 191 em 2015. Este crescimento deve ser\n direcionado para o Nordeste, o Norte e o Centro-Oeste, já que os editais\n estimulam a criação dos bancos em regiões mais pobres dos país. "Damos\n pontos a mais para projetos nestas áreas", diznbsp;Manoel Vital de\n Carvalho Filho, diretor de fomento à economia solidária da secretaria.\n \n Dependência do governo
\n Segundo Neiva, a maior parte do dinheiro dos editais é usado para manter o\n contrato dos funcionários dos bancos, pois o crédito para oferecer empréstimos\n é arrecadado por meio de eventos, como festas de bairro, por exemplo.\n \n Por causa disso, quando o período de contrato previsto no edital acaba, os\n salários também acabam. “Por isso, é muito importante que novos editais sejam\n abertos”, diz o professor.\n \n O Banco Comunitário Padre Leo Comissari, em São Bernardo do Campo, no ABC,\n passou por essa situação. Durante um ano, os funcionários foram pagos por meio\n do Nesol-USP - instituição que ganhou o primeiro edital federal para gerenciar\n e abrir bancos no Sudeste. “Quando acabou, cada um teve que se virar.\n Mantivemos o banco voluntariamente”, diz a agente de desenvolvimento solidário\n Maria Vani de Caldas Villani.\n \n O banco não chegou a fechar, mas limitou seu funcionamento. Com o novo\n edital de 2013, uma instituição do Espírito Santo é a nova responsável por\n ajudar a instituição a se manter. “É difícil depender de edital, mas a nossa\n intenção é que, agora, com o novo contrato de um ano e meio, a gente consiga\n fazer novos parceiros para garantir um financiamento constante”, diz Villani.\n \n A secretaria reconhece que ainda existem dificuldade na política de apoio.\n “Editais demoram de ser feitos e apurados, bem como o repasse de recursos e o\n apoio técnico. (...) É um processo de maturação, que vai levar um tempo que\n ainda não sabemos. Estamos aprendendo com tudo isso e aperfeiçoando a\n política”, diz Carvalho Filho.\n \n nbsp;
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