Globo Esporte/LD
ImprimirUm estudo comparou reações de árbitros da elite do futebol mundial e constatou que eles são mais rígidos quando assistem a uma jogada em câmera lenta. O estudo foi divulgado neste domingo (10) na publicação científica "Psychonomic Society, Cognitive Research: Principles and Implications".
Os pesquisadores não encontraram nenhuma diferença significativa na precisão da decisão do árbitro sobre se uma falta ocorreu ou não, com vídeos em câmera lenta (63% de precisão) em comparação com os vídeos em tempo real (61% de precisão).
No entanto, o julgamento da intenção de uma falta foi diferente. Mais cartões vermelhos foram dados pelos árbitros que assistiam em câmera lenta comparados àqueles que assistiam a reproduções de vídeo em tempo real.
O Dr. Jochim Spitz, o Prof. W. Helsen e colegas da Universidade de Leuven, na Bélgica, estudaram a resposta de 88 árbitros de futebol de elite de 5 países europeus a videoclipes de uma falta que justificaria um cartão amarelo.
Dois ex-árbitros internacionais independentes, que atualmente atuam como especialistas em arbitragem, determinaram as decisões corretas como um ponto de referência e, em seguida, os árbitros que participaram do estudo categorizaram as faltas como se estivessem em uma partida real, concedendo um cartão amarelo, um cartão vermelho ou nenhum cartão.
Segundo Spitz, o estudo mostra que a câmera lenta pode aumentar a gravidade de um julgamento de intenção: "Fazendo a diferença entre perceber uma ação como descuidada (sem cartão), imprudente (cartão amarelo) ou como excessiva (cartão vermelho)".
"A constatação de que os árbitros eram mais propensos a tomar decisões mais severas após repetições em câmera lenta, é uma consideração importante para o desenvolvimento de diretrizes para a implementação de VAR (VAR, na sigla em inglês para "Video Assistant Referee") em ligas de futebol em todo o mundo".
Os autores concluíram que, embora a reprodução em câmera lenta possa ser uma ferramenta útil na avaliação de algumas decisões, como a determinação do impacto exato de um contato, ela pode não ser a melhor ferramenta para decisões que envolvam julgar o comportamento e a intenção de pessoas.
Spitz explica que o vídeo em câmera lenta pode tornar mais claro quem iniciou uma falta, se realmente houve contato e se uma falta ocorreu dentro ou fora da área, mas pode prejudicar a percepção de emoções.
"Julgar a emoção humana, como a intencionalidade, é outra história. Também é a razão pela qual a filmagem em câmera lenta não pode mais ser usada no tribunal, pois aumenta a intenção percebida", disse em comunicado.
Segundo Spitz, esta é a primeira vez que as implicações do vídeo em câmera lenta são estudados em árbitros e o estudo é oportuno, já que a Copa do Mundo da Rússia terá pela primeira vez o uso do árbitro de vídeo (VAR, na sigla em inglês para "Video Assistant Referee").
O sistema começou a ser testado pela Fifa em setembro de 2016, com partidas na sede da entidade. Em dezembro do mesmo ano, o mecanismo foi levado ao Japão para o Mundial de Clubes. No ano passado, a Copa das Confederações foi o grande teste para a tecnologia, no país da Copa.
Segundo as regras determinadas pela Fifa, nem todo lance polêmico pode ter o auxílio do VAR. Apenas quatro situações estão no protocolo para serem analisadas pela equipe de arbitragem que ficará dentro de uma sala com os monitores:
-Situações de gol
-Marcação de pênaltis
-Cartões vermelhos
-Confusão da identidade de jogadores