Globo Esporte/LD
ImprimirAo desembarcar na Rússia há quatro dias, Portugal trouxe consigo o atual melhor jogador do mundo, a responsabilidade de atual campeão europeu e um peso ao qual não estava acostumado: o status de favorito em uma competição de seleções. Ser a primeira opção de muitos nas apostas para campeão da Copa das Confederações é um cenário inédito para uma equipe sem grande tradição histórica. E a oportunidade de mostrar que o crédito recebido não é, na verdade, um excesso de bagagem terá início neste domingo, quando a equipe fará sua estreia no torneio diante de um experiente México, na Arena Kazan, às 12h (de Brasília).
Trata-se do primeiro grande teste do time comandado por Fernando Santos desde a surpreendente conquista da Eurocopa, há cerca de um ano, na França. Naquela ocasião, os lusos chegaram ao torneio como um time que poderia beliscar o troféu apenas se adversários tradicionais como Alemanha, Itália e França fraquejassem. E, apesar de não ter mostrado um desempenho brilhante, Portugal fez história superando os franceses em Paris e chegando a um novo nível em sua história, impulsionado pelo troféu tão desejado e pelo capitão e artilheiro Cristiano Ronaldo.
Desde então, Portugal não enfrentou adversários que pudessem testá-lo de fato. Venceu equipes pouco relevantes como Gibraltar, Andorra, Ilhas Faroé, Letônia (duas vezes), Hungria e Chipre. Quando teve adversários com nível um pouco superior, Suíça e Suécia, acabou derrotado, mas, ainda assim, chegou à Copa das Confederações cotado para conquistar mais um troféu, comparado a adversários que não despertam tanta confiança. Mas atletas e comissão técnica trataram de afastar o rótulo antes de a bola rolar.
- Não somos favoritos nada. Somos só candidatos. E Portugal sempre será candidato a vencer as provas que disputa, comigo sempre será assim. Fizemos uma grande Euro, queremos fazer isso nas Confederações. Mas favoritos não somos, há equipes mais favoritas. Minha equipe tem foco total, a cada jogo procura vencer, isso que é fundamental para nós. Essa é a questão total. E se não fosse só essa presença da seleção pela primeira vez nessa Copa das Confederações, tem muitos motivos para ser importantes para nós. E o mais importante é que estar aqui foi fruto de algo importante para o povo português, conquistar um grande título que nunca havia conseguido - disse o técnico Fernando Santos, que parece ter ensaiado bem o discurso com André Silva e Rui Patrício, que também apontaram que Portugal não é favorito.
Um fator que faz a seleção portuguesa ser apontada como grande candidata a levar a taça para casa é a manutenção da base do time que venceu a Eurocopa. Entre os 23 jogadores que defenderão o país nos gramados da Rússia, 16 atletas estiveram na histórica conquista na França. Renato Sanches não foi levado por opção de Fernando Santos, uma vez que não atuou com frequência no Bayern de Munique - mas as presenças de jovens promissores como Bernardo e André Silva trazem um toque de renovação com qualidade.
Espírito da Euro na Copa das Confederações
Entre jornalistas portugueses, o consenso é de que o time amadureceu. Embora enfrente adversários sem peso nas eliminatórias, faz o dever de casa e conquista os pontos sem passar sufoco - o que outrora ocorria com frequência. As sete vitórias conquistadas após a Eurocopa foram por três ou mais gols de diferença, incluindo goleadas por 6 a 0 sobre Andorra e Ilhas Faroé. Mas o comandante luso não acredita que muita coisa tenha mudado desde então.
- A diferença é que fomos campeões da Europa. E foi bom (risos). Foi um título, e estamos contentes com isso. Estão aqui jogadores que não estiveram na Euro, não são os mesmos jogadores. Da Euro muito se mantém: o espírito, a determinação. Há jogadores diferentes, e isso traz alguma coisa diferente. Mas não há nada substancialmente que nos torne diferentes do passado. Temos a mesma ambição, e penso que a mesma capacidade - resumiu Fernando Santos. México aposta na experiência para frustar lusos
Tentando frustrar os que apostam em Portugal está uma equipe que sabe o que é jogar a Copa das Confederações. Em meio a tantos estreantes, como os próprios lusos, o México é a equipe que mais participou do chamado "torneio dos campeões", ao lado do Brasil, com sete aparições. Entre os atuais participantes, é o único que já levou a taça, em 1999, jogando em casa. Desta forma, experiência é a palavra-chave para os mexicanos - e não apenas pelas participações anteriores na competição.
O elenco do México conta com atletas para lá de conhecidos do público. O zagueiro Rafa Márquez, com 38 anos, puxa a fila que conta com o goleiro Ochoa (31), o meia Guardado (30), e os atacantes Oribe Peralta (33) e Chicharito Hernández (29). Por isso, no país da América do Norte o clima é de otimismo, ainda mais em meio à boa fase da equipe sob o comando de Juan Carlos Osorio.
- Acho que somos um time competitivo, temos jogadores com experiência. Penso que também trouxemos boas promessas do México. Se somos favoritos? Não. Somos quem vai enfrentar o campeão da Europa e estamos juntos com o campeão mundial, o campeão da Copa América. Olhando o elenco de Portugal, eles basicamente trouxeram o melhor que têm. Excetuando Renato Sanches, que joga no Bayern, acho que é o melhor do time de Portugal. Será difícil, e espero que sempre que joguemos e olhemos para o outro time. Temos nossos objetivos para competir. E na minha mente, temos nossas possibilidades, mas há outros times no torneio - avaliou o técnico. Fase de grupos é motivo de alerta para Portugal
Diante de um adversário com experiência, a seleção portuguesa terá que redobrar a atenção para não passar por perigos que conheceu bem nos últimos tempos. Desde a virada do século, a equipe europeia mostra dificuldade em fases de grupos em competições de tiro curto, como a Copa do Mundo e a Eurocopa. Seu aproveitamento na primeira etapa destes torneios é de apenas 58,3%, com 12 vitórias, seis empates e seis derrotas em 24 partidas.
Em oito participações (Copas de 2002, 2006, 2010 e 2014 e Euros de 2004, 2008, 2012 e 2016), o time foi eliminado na fase de grupos em duas oportunidades e só se classificou como primeiro colocado três vezes. Nos dois últimos torneios, deixou a desejar: caiu na Copa do Mundo no Brasil antes das oitavas de final e só se salvou na Euro 2016 como um dos melhores terceiros colocados, depois de três empates. Se o assunto é estreia, então, o retrospecto é ainda mais complicado: foram apenas duas vitórias nas oito participações.
- Obviamente será um jogo importante. Os primeiros jogos dessas competições curtas são importantes. O tempo da Copa das Confederações é curto, assim como a capacidade de recuperação - observou Fernando Santos.
Juan Carlos Osorio também apontou um bom resultado na estreia como fundamental para o restante da campanha.
- Nós temos vontade de estar nessa competição, estamos bem, com grande dinâmica de trabalho, queremos fazer coisas grandes. O mais importante é que estamos unidos. Creio que o primeiro jogo é vital para enfrentar os outros jgoos com tranquilidade, temos que jogar a vida nos três, mas enfrentamos Portugal, atual campeão de Europa e temos vontade de vencer amanhã, ganhar o jogo e conquistar os três pontos.
Prováveis escalações:
Portugal: Rui Patricio, Cédric Soares, José Fonte, Pepe e Raphäel Guerreiro; William Carvalho, André Gomes e João Moutinho; Nani (Quaresma), Cristiano Ronaldo e André Silva. Técnico: Fernando Santos.
México: Ochoa, Salcedo, Araújo, Moreno e Layún; Jonathan dos Santos, Herrera, Vela, Fabián e Giovanni dos Santos; Chicharito Hernández. Técnico: Juan Carlos Osorio.