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21/04/2013 11:33:54
“Não fazia sentido esconder quem eu amo e respeito”, diz prefeito de Lins
Em entrevista ao G1, Edgar contou que, apesar dos ataques dos adversários na campanha do ano passado, sua trajetória na vida pública foi o principal motivo para obter 53,23% dos votos válidos e garantir a eleição.

G1/LD

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\n \n O\n prefeito de Lins (SP), Edgar de Souza (PSDB), foi o único candidato homossexual\n assumido a se eleger nas eleições de 2012 em todo o país ao cargo de chefe do\n Executivo, segundo levantamento da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays,\n Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Sociólogo formado, ligado à igreja\n católica e à teologia da libertação, o prefeito começou cedo na política. Em\n entrevista ao G1, Edgar contou\n que, apesar dos ataques dos adversários na campanha do ano passado, sua\n trajetória na vida pública foi o principal motivo para obter 53,23% dos votos\n válidos e garantir a eleição.\n \n "Hoje\n sou muito feliz. Extremamente feliz. Por que se incomodar com a sexualidade\n alheia? Quem tem convicção da sua não se incomoda com a do outro. No que a\n minha sexualidade te atrapalha? Essa invasão da vida íntima das pessoas é feita\n de forma pejorativa. Dizem que sou anormal. Eu sou normal, não sou azul, não\n tenho três braços. Na vida pública a gente preza pela transparência, não fazia\n sentido esconder quem eu amo e quem eu respeito", afirma.\n \n Atualmente\n com 34 anos, Edgar começou a conquistar a confiança da população aos 21 anos,\n com o início do primeiro mandato como vereador. A homossexualidade, no entanto,\n ainda não era declarada. De lá para cá, ele seguiu como vereador por outros\n dois mandatos consecutivos até sair candidato a prefeito no ano passado.\n \n Em\n 2004, na reeleição para vereador, surgiram os primeiros comentários sobre sua\n posição sexual. Mas não tão forte quanto na eleição para a cadeira principal da\n prefeitura. A questão da homossexualidade só foi abordada por ele em público na\n campanha durante o último comício antes do pleito municipal. Ele falou no\n palanque: “Eu não tenho que esconder com quem eu vivo, quem eu amo. Se eu esconder,\n não mereço ser prefeito de vocês. Deus me ama como homossexual”.
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\n Já sua vida íntima sempre foi usada para receber ataques dos adversários.\n Segundo Edgar, os políticos tentaram usar sua opção sexual para atrapalhar a\n candidatura. “Nunca usei a homossexualidade para levar uma bandeira e tudo o\n que eles tentaram fazer caiu por terra. Minha opção não define meu caráter e\n meus votos foram devido à minha história política.”
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\n Na campanha, ele afirmou que a sexualidade não era relevante para o processo\n eleitoral. Mas para os concorrentes, sim. “Estão rolando dois inquéritos na\n polícia sobre panfletos distribuídos com fotos minha com meu companheiro. Foram\n enviados pelos Correios de 5 mil a 10 mil cartazes. No material tinha uma foto\n minha com Alex. Ele com a cabeça deitada no ombro e com vários corações.”\n \n Outra\n ataque político conseguiu ser interceptado às véspera do dia da votação. “É\n comum que panfletos sejam distribuídos nas ruas. Equipes trabalharam na\n madrugada para evitar que o panfleto fosse espalhado. Tratava de um panfleto\n com minha foto como uma drag queen, com uma peruca horrorosa.”
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\n Hoje, depois de mais de 100 dias à frente do comando da cidade, Edgar afirma\n que só pensa em um futuro melhor para a população de Lins. Como chefe do\n Executivo, ele fala que vai dar sua cara na administração, mas brinca que não\n vai pintar as ruas de cor-de-rosa. “Não vou pintar as ruas de rosa. Não tem a\n menor possibilidade de laço ou de rosa. E o rosa não é a cor do movimento gay:\n é colorido. Quero fazer uma administração moderna e fazer a cidade dar um salto\n de qualidade. Lins tem um potencial logístico extraordinário. Você não faz nada\n de bom se você não pensar grande. Não posso mudar o Brasil, mas esse pedacinho\n do país vai ser mudado.”
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\n Adolescência
\n O prefeito contou que sofria demais quando tinha relação com algum homem ainda\n na adolescência. A primeira relação sexual foi com um rapaz aos 14 anos. “Na\n hora tem o desejo, mas depois vinha a carga religiosa, a carga moral. Era um\n sofrimento danado. Chegava em casa chorando. Tomava banho e esfregava o braço\n até quase sair a pele. Ficava sentindo o cheiro da pessoa e me virava o\n estômago. Em programas de televisão que discutiam a homossexualidade, as\n pessoas falavam que se libertavam aos 19 anos. E daí eu falava que precisava me\n curar. E por coincidência ou algo que a própria mente projetou, aos 19 anos eu\n me assumo também pra mim. Sair do armário não tem que ser para os outros. Tem\n que ser para você. Esse é o grande passo porque você rompe a barreira da\n depressão, do sofrimento”, avisa.\n \n Edgar\n de Souza afirma que também fez sexo com mulheres. A primeira vez, aos 16 anos.\n Atualmente, o prefeito de Lins tem uma relação estável há 9 anos com outro\n homem, Alex, de 31 anos. Os dois trocaram alianças depois da eleição no ano\n passado e moram juntos em uma casa com dois meninos, de três e dois anos, além\n da mãe\n das crianças. Elas foram adotadas depois de um problema com o pai, que é\n dependente químico.\n \n Religião
\n Na vida pública, Edgar sofreu preconceito dentro da igreja, mas ele diz que está\n com a consciência tranquila. “A minha formação cristã fez eu reconhecer que\n Deus me ama como homossexual. Dentro da igreja sempre tive a consciência muito\n tranquila. Tive um problema de embate pessoal com a doutrina quando houve a\n publicação de um documento do Vaticano do Papa Bento XVI, que falava que os\n homossexuais não poderiam atender ao sacerdócio. Mas a vivência nas comunidades\n é muito maior do que isso.”
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\n A opção sexual dividiu seus apoiadores religiosos na campanha eleitoral.\n “Durante a campanha tive apoio de vários pastores e de muitas igrejas\n evangélicas. Não podemos generalizar. Obviamente também tiveram vários pastores\n que foram contra por conta da minha homossexualidade. Também tiveram católicos\n mais conservadores que acham que a homossexualidade é um problema.”
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\n Marco Feliciano
\n O deputado e pastor Marco Feliciano (PSC), que preside a Comissão de Direitos\n Humanos da Câmara (CDH) e é alvo de protestos por todo o país, também deixou o\n prefeito de Lins indignado com algumas declarações. “Me senti muito ofendido\n quando o Marco Feliciano colocou no Twitter que o destino da criança criada por\n casais homoafetivo é ser vítima de pedofilia. É uma idiotice que não tem\n tamanho. A maior parte de casos de pedofilia acontece em relações\n heterossexuais, porque a maior parte das pessoas é hetero. Larga a mão de ser\n idiota falar uma coisa dessa. Ele coloca todo mundo sob suspeição. Sabe aquela\n coisa, se na rua tem um traficante todo mundo se torna traficante.”\n \n Apoio nas ruas
\n Nas urnas, Edgar de Souza conquistou 53,23% dos votos válidos. E nas ruas da\n cidade, os moradores não se incomodam com a homossexualidade do prefeito. O que\n eles querem é avaliar o trabalho como administrador de Lins. "Acho que não\n tem nada a ver. Cada um faz aquilo que gosta. Ele é um cara que veio da roça e\n uma pessoa muito boa. Esperamos que ele faça o bem para a cidade", disse o\n funcionário público aposentado, Sebastião Germano da Silva.\n \n Outra\n moradora também é a favor de discutir apenas o desenvolvimento da cidade. Para\n a garçonete Tânia Aparecida Rodrigues, a opção sexual de Edgar não deve ser\n envolvida com a condição de prefeito. "Jamais vai atrapalhar ele na\n prefeitura. Não interfere nas coisas da cidade. Queremos que ele faça Lins\n crescer. A opção sexual é um assunto particular. A cidade inteira sabe que ele\n é gay."\n \n \n \n \n
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