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Geral
26/09/2013 06:24:41
Kiss: advogados tentam barrar famílias de vítimas em audiências
Solicitação dos defensores ocorreu após mãe que perdeu o filho no incêndio ser retirada do local dos depoimentos por ter se manifestado

Terra/PCS

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Marta Beuren, mãe de Silvio Beuren Júnior, fez gestos que reprovavam as questões de advogado e foi retirada da plateia (Foto: Luiz Roese )
\n \n Por alguns\n instantes, os familiares de vítimas da tragédia da Boate Kiss correram o risco\n de não poder mais comparecer às audiências do processo criminal do caso, em\n Santa Maria (RS). \n \n Isso\n aconteceu em mais um dia de depoimentos à Justiça, depois que a mãe de um rapaz\n que morreu por causa do incêndio na casa noturna foi retirada do Salão do Tribunal do Júri, no Fórum\n de Santa Maria, devido às suas manifestações. \n \n O episódio\n motivou os pedidos de dois advogados de defesa para que fosse restringido o\n acesso de parentes de pessoas que morreram na tragédia às audiências. O juiz\n que comanda o processo decidiu, porém, que os familiares podem seguir\n acompanhando os depoimentos livremente.nbsp;\n \n O episódio\n que motivou as solicitações de dois advogados de defesa aconteceu durante o\n último dos cinco depoimentos do dia, o do jovem Jeferson Saraiva. Quando o\n advogado Jader Marques, que defende o sócio da Kiss Elissandro Spohr, fazia\n perguntas ao rapaz, Marta Beuren, mãe de Silvio Beuren Júnior, o Silvinho,\n manifestou-se na plateia e fez gestos que reprovavam as questões do defensor. O\n filho dela morreu na tragédia aos 31 anos.nbsp;\n \n Indignado,\n Jader Marques pediu que a mulher fosse retirada da plateia. Marta saiu, mas,\n antes de deixar o salão, comentou em voz alta: “Ele (Sivinho) não foi (à\n Kiss) com a intenção de morrer. Ele foi lá com a intenção de se divertir”.\n A fala dela era alusiva às perguntas feitas pelo advogado, que costuma\n questionar os sobreviventes se eles acreditam que o dono da boate tinha a\n intenção de matá-los ou algum motivo para isso.\n \n O depoimento\n de Jeferson foi interrompido nesse momento e depois seguiu adiante. Depois do\n término, quando a audiência estava prestes a ser encerrada, o advogado Gilberto\n Weber, que defende o roadie da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto\n Bonilha Leão, fez um requerimento ao juiz Ulysses Fonseca Louzada para que se\n fosse avaliada a presença de familiares de vítimas nas audiências. “Nessas\n audiências, os familiares (de vítimas) estão revivendo a dor. A defesa\n está constrangida. Toda a vez que a defesa se manifesta transparece que é uma\n agressão aos familiares. A gente não pode ser confundido com o cliente. É\n apenas o nosso trabalho”, argumentou Gilberto Weber.\n \n Na mesma\n linha, o advogado Jader Marques fez um requerimento ao juiz para que, aos\n familiares que “não conseguem manter o equilíbrio”, não seja permitido o\n retorno deles às audiências em Santa Maria. O promotor Joel Oliveira Dutra, que\n representa o Ministério Público na acusação, manifestou-se de forma contrária\n aos pedidos dos defensores. Ele destacou que as audiências são públicas e que\n os familiares de vítimas são partes interessadas e que têm o direito de estar\n ali. Além disso, ele lembrou que, nas cerca de 20 audiências que ocorreram até\n agora, aconteceram somente dois episódios de manifestações de parentes de\n vítimas.nbsp;\n \n O\n representante do MP destacou ainda que a mãe que foi retirada nesta\n quarta-feira já assistiu a outras audiências e nunca tinha perdido o\n equilíbrio. “Não seria coerente fazer que os familiares sejam excluídos”,\n ressaltou Joel Dutra. A opinião dele foi compartilhada pelo assistente de\n acusação Jonas Espig Stecca, que representa a Associação dos Familiares de\n Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).\n \n Em sua\n decisão, o juiz Ulysses Louzada destacou que em momento algum do processo\n criminal sentiu-se “constrangido ou pressionado”. “Desde o início desse\n procedimento, a regra é a publicidade. O sigilo é exceção. Propiciamos o acesso\n a todas as pessoas. Se as pessoas quiserem vir e sentir essa dor, é um direito\n delas. Vai continuar assim”, decretou o magistrado, rejeitando os pedidos das\n defesas.nbsp;\n \n A discussão\n sobre o acesso dos familiares do dia foi o último ato de uma audiência que teve\n cinco depoimentos. Pela manhã, os sobreviventes Naiara Hennig Neuenfeldt e José\n Eduardo Minussi Winck contaram o que viveram como clientes da Kiss na madrugada\n da tragédia, em 27 de janeiro deste ano. Além dos tradicionais relatos sobre\n como a boate estava cheia, os dois detalharam como conseguiram sair da casa\n noturna.nbsp;\n \n “Nem sei de\n onde tirei forças para me levantar”
\n Naiara, por exemplo, contou que caiu duas vezes antes de conseguir chegar à\n rua. A primeira vez foi perto da porta que dava acesso à pista de dança, mais\n para a parte de dentro. “Quando cheguei naquela porta, ficou tudo escuro.\n Fiquei presa naquele bolo de gente. Era todo mundo se empurrando, mas ninguém\n saía do lugar. Caí por cima das pessoas. A fumaça já estava tomando conta.\n Parecia que o fogo estava atrás de mim. Nem sei de onde tirei forças para me\n levantar”, contou Naiara.nbsp;\n \n A jovem\n disse ainda que caiu novamente perto da porta que dava para a rua e, então, foi\n puxada por alguém. Ao ser atendida no hospital, ela estava com uma marca roxa\n nas costas, dando a impressão de que chegou a ser pisoteada quando estava\n caída. Naiara chegou a ficar 20 dias internada - 11 deles em CTI - por conta\n das queimaduras nas vias aéreas.nbsp;\n \n “Se saíssem\n 10, entravam cinco”, diz porteiro da Kiss
\n Os depoimentos foram retomados à tarde com Fabiano Lopes dos Santos, que\n trabalhava como porteiro da Boate Kiss havia nove meses. Ele relatou que estava\n “fazendo uma ronda” pela casa noturna quando o incêndio começou, mas não viu o\n início do fogo. Só notou quando o vocalista da banda Gurizada Fandangueira,\n Marcelo de Jesus dos Santos, já estava jogando água para o teto. Depois, ele\n viu alguém alcançando um extintor para o músico e, imediatamente, foi avisar o\n sócio da Kiss Elissandro Spohr, que estava no hall de entrada.nbsp;\n \n Fabiano estima que havia de 800 a 900\n pessoas na Kiss na madrugada do incêndio. Questionado pelo juiz, ele afirmou\n acreditar que a tragédia aconteceria da mesma forma, mesmo que houvesse só 500\n pessoas lá dentro.nbsp;\n \n O porteiro contou ainda que chegou a\n retirar algumas pessoas de dentro da boate. Ele relatou o que viu do lado de\n fora: “As pessoas saíam e achavam que estavam bem. Dava dois, três minutos ali\n fora e caíam que nem moscas”, descreveu Fabiano, que ainda relatou ter contido\n Elissandro Spohr, pois ele queria entrar na boate para tirar mais pessoas. Ele\n disse também que ajudou a retirar corpos da boate até o caminhão e que não viu\n médico algum acompanhando esse trabalho para atestar que as pessoas estavam\n mortas. nbsp;\n \n Fabiano também relatou que a entrada na\n Kiss era barrada, caso o local estivesse muito lotado. Ele garantiu que, no\n momento do incêndio de 27 de janeiro, o acesso já era restrito. “Já tinha\n parado de entrar gente. Se saíssem 10, entravam cinco”, disse o porteiro. “Mas\n as pessoas na fila não gostavam muito, queriam entrar”, acrescentou.nbsp;\n \n Depois de Fabiano, quem depôs foi o jovem\n Janderson Ienssen Romeiro. Ele contou que conseguiu sair consciente da boate,\n mas “quase desmaiando”. “Saí por tato. Quando veio a fumaça preta, eu fechei os\n olhos e tranquei a respiração”, relatou a rapaz. Ele ainda mencionou que não\n gostava de ir à Kiss porque a boate “estava sempre lotada”. O último depoimento\n do dia foi o de Jeferson Saraiva, quando aconteceu o incidente com uma mãe de\n vítima.\n \n Nesta quinta, devem ser ouvidas mais seis\n vítimas. A semana de audiências termina na sexta-feira à tarde, dia em que\n estão previstos os depoimentos de quatro sobreviventes.\n \n Ainda é aguardada uma posição do Ministério\n Público sobre os depoimentos de 23 vítimas, solicitados pela defesa do sócio da\n Kiss Elissandro Spohr.nbsp;\n \n O pedido foi feito pelo advogado Jader\n Marques, que não forneceu os endereços dessas pessoas para que elas fossem\n localizadas. O defensor alegou que elas fazem parte da lista de vítimas\n apresentadas pelo Ministério Público na denúncia criminal e que, por isso, o\n órgão deveria saber sobre elas. Então, o juiz Ulysses Fonseca Louzada intimou o\n MP a se manifestar.\n \n Há ainda vítimas da tragédia da Kiss que\n devem ser ouvidas nas cidades gaúchas de Uruguaiana, Horizontina, Passo Fundo,\n Quaraí, Porto Alegre, Frederico Westphalen, Santa Cruz do Sul, São Borja e\n Caxias do Sul. Vítimas chamadas pelas defesas dos réus também precisarão ser\n intimadas em Florianópolis, Porto Velho e São Paulo.\n \n Depois de ouvir todas as vítimas arroladas\n pelas defesas, o processo criminal entra em outra etapa, quando deverão ser\n tomados os depoimentos das testemunhas de acusação e defesa. Ainda não há um\n número exato de quantas pessoas serão ouvidas nessa fase nem previsão de quando\n os depoimentos ocorrerão.\n \n Respondem ao processo criminal pelas 242\n mortes e os mais de 600 feridos os sócios da Kiss, Mauro Hoffmann, o Maurinho,\n e Elissandro Spohr, o Kiko, e o vocalista da banda Gurizada Fandangueira,\n Marcelo de Jesus dos Santos, e o roadie do grupo, Luciano Bonilha Leão. Eles\n são acusados por homicídios qualificados com dolo eventual (doloso) e\n tentativas de homicídio qualificado.
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