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Brasil
28/10/2017 10:50:00
As diferenças - e semelhanças - entre o separatismo do sul do Brasil e o da Catalunha

Terra/PCS

Grupos separatistas organizaram consultas à população com uma semana de diferença - mas com níveis de participação bem diferentes; especialistas debatem o que há e o que não há em comum entre ambos.

Sulito (Foto: BBC)

Enquanto o governo espanhol tenta suprimir a insurgência da Catalunha, no Brasil um grupo de separatistas se mobiliza para fazer um plebiscito pela "independência do sul" nas eleições de 2018. O que esses grupos em contextos tão distintos podem ter em comum?

Na última sexta-feira, o governo espanhol anunciou que, pela primeira vez na história democrática do país, assumirá o controle direto sobre a Catalunha, em reação à declaração de independência feita uma hora antes pelo Parlamento catalão. O premiê espanhol, Mariano Rajoy, anunciou a destituição da liderança catalã, a dissolução do Parlamento regional e a convocação de eleições locais para 21 de dezembro.

A "independência" da Catalunha havia sido aprovada em um controverso plebiscito em 1º de outubro não reconhecido pelo governo espanhol. Pouco mais de 2 milhões de pessoas (43% do eleitorado) votaram. De acordo com cálculo do próprio movimento, 90% dos votantes foram a favor da independência. A região tem 7,3 milhões de habitantes.

No fim de semana seguinte, a cerca de 8 mil km de distância dali, uma outra votação foi convocada para saber a opinião da população sobre separar outra região, desta vez no Brasil. A organização "O Sul é Meu País" realizou uma consulta informal nos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná sobre a possibilidade de se separar do resto do Brasil, o chamado Plebisul.

O grupo ficou nacionalmente conhecido no começo do ano com a circulação de um "mascote" do grupo chamado Sulito, que virou alvo de piada nas redes sociais. A organização do Sul é Meu País afirma que Sulito foi uma "brincadeira de internet" e não é o mascote oficial do grupo, apesar de reconhecer que ele ajudou a divulgar a ideia.

Na consulta, os participantes deveriam responder à pergunta "Você quer que o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul formem um país independente?".

Para realizar o processo, foram espalhadas urnas em locais públicos em cerca de 900 cidades dos três Estados com um custo de R$ 25 mil, segundo o próprio grupo.

A expectativa era a participação de ao menos 1 milhão de pessoas. Em 2016, 616 mil eleitores participaram do mesmo plebiscito. No dia 7 de outubro, porém, 340 mil pessoas responderam à pergunta e 95,74% disseram ser favoráveis à separação. Isso corresponde a menos de 2% do número de eleitores nos três Estados, que é de 21 milhões, segundo o Tribunal Superior Eleitoral.

Diferenças

A participação modesta do separatismo sulista é considerada uma das principais diferenças entre os dois movimentos, segundo especialistas.

"Não consigo ver um movimento sério com menos de 2% dos eleitores participando, na Catalunha foi 43%", diz Luis Augusto Farinatti, professor de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) especializado em fronteira sul do Brasil.

"Não vejo esse sentimento separatista difundido, sério, engajado no Sul como o da Catalunha, que vem há muito tempo, foi alimentado pelo regime franquista e agora estourou. Aqui, a reativação do separatismo é um reflexo de movimentos mundiais, mas é um pálido reflexo", explica.

"O movimento do sul do Brasil ainda é muito fraco, quase simbólico e anedótico, com uma participação de 300 e poucos mil sulistas em uma população estimada de 30 milhões, tem muito pouco impacto", diz Paulo Velasco, professor de Política Internacional na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Celso Deucher, um dos fundadores do Sul é Meu País, defende a validade do Plebisul e diz que a menor participação em relação a 2016 se deve ao fato de que neste ano foi pedido que os participantes assinassem um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) para propor um plebiscito consultivo junto às eleições de 2018 sobre o tema "independência do Sul". "Acreditamos que a população do sul de fato apoia a proposta", disse à BBC Brasil.

Eleitores durante Plebisul (Foto: BBC)