VERSÃO DE IMPRESSÃO
Brasil
15/07/2015 11:48:00
Carros de luxo de Collor não foram declarados à Justiça Eleitoral

O Globo/LD

Lamborghini Aventador apreendida na casa do ex-presidente Fernando Collor de Mello (Foto: UESLEI MARCELINO / REUTERS)

Os três carros de luxo apreendidos pela Polícia Federal na terça-feira na Casa da Dinda, residência do senador Fernando Collor (PTB-AL) em Brasília, não estão na declaração de bens que ele entregou à Justiça Eleitoral em 2014, quando concorreu e venceu a disputa pelo Senado em Alagoas. Ontem, o ex-presidente disse na tribuna que os bens retirados de sua propriedade durante a Operação Politeia, um desdobramento da Lava-Jato, foram "legalmente declarados e adquiridos antes do suposto cometimento dos pretensos crimes".

Hoje, um Lamborghini como o apreendido por Collor, o segundo modelo mais caro à venda no Brasil, custa R$ 3,8 milhões. Os últimos exemplares zero-quilômetro da Ferrari disponíveis no Brasil foram vendidos por R$ 1,9 milhão. E um Porsche zero-quilômetro, hoje, sai por R$ 693 mil. Os três carros juntos totalizariam R$ 6,3 milhões. No Tribunal Superior Eleitoral (TSE) consta apenas a declaração de bens de Collor e não de suas empresas.

Segundo o Denatran, a Ferrari é de 2010/2011, o Porsche, de 2011/2012, e o Lamborghini, de 2013/2014. O Porsche tem placa de Maceió. Os outros dois, de São Paulo.

Collor disse que mostrou notas fiscais dos carros e do imposto de renda, mas que o policial fez um telefonema e recebeu a ordem de "levar tudo". Na declaração de bens entregue ao Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE-AL) informou ter em julho do ano passado 14 veículos, mas os carros apreendidos não estão entre eles. A entrega da declaração de bens é obrigatória para os candidatos que disputam uma eleição.

O carro mais caro declarado por Collor é um BMW (R$ 714,5 mil), seguida por uma Ferrari preta (a apreendida pela PF era vermelha), que tem valor de R$ 556 mil. Os carros declarados totalizam quase R$ 3 milhões, um valor inferior ao que custam os carros apreendidos na casa do senador. O GLOBO procurou a assessoria de Collor, mas ainda não obteve resposta.

Os bens declarados pelo senador à Justiça Eleitoral totalizam R$ 20,3 milhões e incluem sociedade em empresas, duas lanchas, imóveis e terrenos.

Ontem, na tribuna, Collor repetiu uma série de ataques ao procurador Rodrigo Janot, a quem acusou de ter orquestrado a invasão de suas propriedades para levar os carros pelas ruas de Brasília até a sede da PF e tentar vincular a compra legal dos automóveis às denúncias a ele “maldosamente” imputadas.

— O objetivo foi me constranger, me intimidar e promover uma cena de espetáculo midiático. Meus carros foram levados à PF de forma absolutamente irregular. Foi um conluio da mídia com o Ministério Público para oferecer a opinião pública, de forma maldosa, um juízo equivocado dos reais acontecimentos — protestou Collor.

Em 1992, um Fiat Elba prata, de placa FA 1208, foi pivô das denúncias que resultaram no impeachment do então presidente Fernando Collor. O veículo fora flagrado pelo GLOBO no dia 5 de julho daquele ano entrando na Casa da Dinda, residência de Collor. O motorista Eriberto França disse que havia usado dinheiro sujo não só comprar o Elba que dirigia, mas para pagar contas de Collor.

A Operação Politeia teve como alvo políticos que respondem a inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) em consequência da Lava-Jato. Mandados de busca e apreensão foram expedidos contra Collor, os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Fernando Bezerra (PSB-PE), o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), entre outros.