Até\n que ponto vai a imaginação, o oportunismo, a insensibilidade e o cinismo de uma\n pessoa? Essa resposta fica ainda mais difícil de ser definida ao analisar o\n comportamento de uma hipotética testemunha do acidente aéreo que matou o\n candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, e outros seis\n ocupantes da aeronave, na quarta-feira (13), em Santos, litoral paulista. \n \n No\n final da manhã, durante o plantão do “Jornal Hoje”, da Globo, o repórter José\n Roberto Burnier entrevistou um homem que disse ter auxiliado no resgate de\n feridos. Ele afirmou ainda ter tido acesso aos destroços do jato. \n \n Aparentemente\n emocionado, contou ter reconhecido o corpo de Eduardo Campos: “Cheguei a abrir\n o olho dele”, contou, para surpresa do repórter. Burnier o contestou para\n certificar a informação. O entrevistado, convicto, mais uma vez disse ter\n reconhecido Eduardo Campos entre os mortos — e ele ainda revelou, para certa\n comoção do jornalista, ser eleitor do candidato. \n \n Pouco\n tempo depois, quando os boatos foram abafados por informações oficiais, todos\n soubemos que nenhuma vítima poderia ser reconhecida visualmente. Devido ao\n impacto e à explosão, os corpos ficaram dilacerados e carbonizados. Apenas\n exames de arcada dentária e DNA poderão determinar as identidades. O dentista\n Fernando Cavalcanti, que atendia Eduardo Campos, viajou do Recife para São\n Paulo levando radiografias e outros documentos, para ajudar na identificação do\n corpo do político. \n \n À\n noite, José Roberto Burnier fez a matéria de abertura do “JN”, e estava no\n link, diretamente de Santos. Foram exibidos os testemunhos de várias pessoas\n que disseram ter presenciado a tragédia. Mas o homem que, horas antes, dissera\n ter reconhecido e tocado em\n Eduardo Campos ao tentar socorrê-lo, não foi mostrado. \n \n O\n lamentável episódio ocorrido na Globo não é uma exceção. Sempre que acontece\n uma tragédia com a presença da imprensa surgem oportunistas, sádicos e\n desequilibrados que aproveitam a situação para aparecer na TV. \n \n José\n Roberto Burnier não tem culpa de ter sido enganado. Numa transmissão ao vivo,\n no calor da emoção e com notícias desencontradas, é impossível apurar se o\n entrevistado diz a verdade, fantasia ou mente descaradamente. \n \n No\n primeiro momento, aquele depoimento parecia tão real, a dor da suposta\n testemunha se mostrava tão verdadeira, que seria improvável desconfiar de uma\n farsa. No fim, foi apenas mais um papagaio de pirata, um urubu midiático,\n alguém que realizou o desejo de ter 15 segundos de fama tripudiando sobre a\n tragédia alheia.