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Brasil
02/07/2014 12:10:46
Mapa mostra aumento e disseminação da violência no Brasil
O número equivale a 58,1 habitantes a cada grupo de 100 mil, e é o maior da série histórica do estudo, divulgado a cada dois anos.

Agência Brasil/PCS

Caminhoneiro assaltado e baleado na BR-163, em Pedro Gomes (Foto: Arquivo/Edição de Notícias)
Em 2012, 112.709 pessoas morreram em situações de violência no país, segundo\n o Mapa da Violência 2014, divulgado hoje (2). O número equivale a 58,1\n habitantes a cada grupo de 100 mil, e é o maior da série histórica do estudo,\n divulgado a cada dois anos. Desse total, 56.337 foram vítimas de homicídio,\n 46.051, de acidentes de transporte (que incluem aviões e barcos, além dos que\n ocorrem nas vias terrestres), e 10.321, de suicídios.\n \n Entre 2002 e 2012, o número total de homicídios registrados pelo Sistema de\n Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, passou de 49.695 para\n 56.337, também o maior número registrado. Os jovens foram as vítimas em 53,4%\n dos casos, o que mostra outra tendência diagnosticada pelo estudo: a maior\n vitimização de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. As taxas de homicídio\n nessa faixa passaram de 19,6 em 1980, para 57,6 em 2012, a cada 100 mil jovens.\n \n Segundo o responsável pela análise, Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da\n Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais,\n ainda não é possível saber “se o que ocorreu em 2012 foi um surto que vai\n terminar rapidamente ou se realmente está sendo inaugurado novo ciclo ou nova\n tendência”. Ele lista situações que podem ter gerado o aumento, como greves de\n agentes das forças de segurança ou ataques de grupos criminosos organizados.\n \n Uma tendência já confirmada é a disseminação da violência nas diferentes\n regiões e cidades. Entre 2002 e 2012, os quantitativos só não cresceram no\n Sudeste. As regiões Norte e Nordeste experimentaram aumento exponencial da\n violência. No Norte, por exemplo, foram registrados 6.098 homicídios em 2012,\n mais que o dobro dos 2.937 verificados em 2002. O Amazonas, Pará e Tocantins\n tiveram o dobro de assassinatos registrados no mesmo intervalo de tempo. No\n Nordeste, o Maranhão, a Bahia e o Rio Grande do Norte mais que triplicaram os\n homicídios.\n \n Na década, o Sul e o Centro-Oeste tiveram incrementos percentuais de 41,2% e\n 49,8%, respectivamente. No Sudeste, a situação foi mais variada, com diminuição\n significativa em estados importantes, como o Rio de Janeiro e São Paulo.nbsp;\n Já em Minas Gerais, os homicídios cresceram 52,3% entre 2002 e 2012.\n \n As desigualdades são vivenciadas entre as regiões e também dentro dos\n estados. Nenhuma capital, em 2012, teve taxa de homicídio abaixo do nível\n epidêmico, segundo o Mapa da Violência. Todas as capitais do Nordeste\n registraram mais de 100 homicídios por 100 mil jovens. Maceió, a mais violenta,\n passou dos 200 homicídios. No outro extremo, São Paulo, com a menor taxa entre\n as capitais, ainda assim registra o número de 28,7 jovens assassinados por 100\n mil.\n \n O balanço da década mostra, contudo, que não é possível afirmar que há\n tendência comum de crescimento. Entre 2002 e 2012, as capitais evidenciaram\n queda de 15,4%, com destaque para meados dos anos 2000, quando a redução foi\n mais expressiva, o que, segundo o organizador, comprova que a situação pode ser\n enfrentada com políticas públicas efetivas.\n \n Em cidades do interior, o número tem crescido. Jocobo disse que são\n especialmente os municípios de pequeno e de médio porte os que têm sofrido com\n a nova situação. Ele cita dois possíveis motivos para isso: por um lado, o\n investimento financeiro em políticas públicas nos grandes centros urbanos, como\n Rio e São Paulo, ajudaram a diminuir a violência. Por outro, houve o\n desenvolvimento de novos polos econômicos no interior, que atraíram\n investimentos e também criminalidade, “sem a proteção do Estado como nas outras\n cidades”.\n \n Se o país precisará esperar alguns anos para verificar o comportamento das\n taxas de homicídios, no caso dos acidentes de transporte há pouca ou quase\n nenhuma dúvida, dado o crescimento dos registros, à revelia das leis de\n trânsito que, na década de 1980, foram responsáveis pela redução desses\n acidentes.\n \n As principais vítimas, segundo o estudo, são os motociclistas. Em 1996,\n foram 1.421 óbitos. Em 2012, 16.223. A diferença representa cerca de 1.041% de\n crescimento. Há “uma linha reta desde o ano de 1998, com um crescimento\n sistemático de 15% ao ano”, conforme a pesquisa.\n \n Segundo o sociólogo responsável pela publicação, a situação é fruto “de um\n esquema ideológico que apresentou a motocicleta como carro do povo, por ser\n econômica, de fácil manutenção”. Assim, “em vez de se investir em transporte\n público, o trabalhador pagaria sua própria mobilidade”. E mais, fez dela o seu\n trabalho, seja como motoboy, entregador ou mototaxista, “em situação de escassa\n educação no trânsito, pouca capacidade de fiscalização e baixa legislação”,\n avalia Julio Jacobo Waiselfisz.\n \n Ao todo, foram registradas 46.051 mortes por acidentes de transporte em\n 2012,nbsp; 2,4% a mais que em 2011. Os dados oficiais reunidos para o estudo\n mostram que ocorreram, naquele ano, 426 mil acidentes com vítimas, que devem\n ter ocasionado lesões em 601 mil pessoas. A situação “é muito séria e grave”,\n alerta o autor do trabalho, que destaca que é preciso lembrar que “o cidadão\n tem o direito a uma mobilidade segura e é obrigação do Estado oferecê-la”.\n \n O suicídio também teve aumento na taxa de crescimento. Diferentemente das\n outras situações, a elevação vem se dando desde os anos 1980. Conforme o\n relatório, o aumento foi 2,7% entre 1980 e 1990; 18,8%, entre 1990 e 2000; e\n 33,3%, entre 2000 e 2012. Nesse caso, a idade das pessoas envolvidas é também\n menos precisa. Tanto jovens quanto idosos têm sido vítimas.\n \n Com a publicação do estudo, feito com o apoio da Secretaria de Políticas de\n Promoção da Igualdade Racial, da Secretaria Nacional de Juventude e da\n Secretaria-Geral da Presidência da República, espera-se, conforme o texto,\n “fornecer subsídios para que as diversas instâncias da sociedade civil e do\n aparelho governamental aprofundem sua leitura de uma realidade que, como os\n próprios dados evidenciam, é altamente preocupante”.\n \n nbsp;