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Economia
11/08/2025 14:10:00
Lucro dos postos de gasolina em MS cresce 63% e supera inflação em três vezes
Crescimento tem relação com medidas que favorecem setor e pouca concorrência; já consumidor não se beneficia

CGN/PCS

A margem de lucro dos postos de combustíveis em Mato Grosso do Sul cresceu 63,63% na venda de gasolina comum entre 2022 e até julho de 2025. O aumento, que supera a inflação do período, é impulsionado pela baixa competitividade de preços, com postos da maioria das cidades do Estado operando com valores muito próximos entre si.

A constatação é feita a partir de uma análise de dados oficiais da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) realizada com base no cálculo do desvio-padrão.

Um resultado de desvio-padrão baixo indica que os preços da gasolina comum - analisados pela reportagem - em diferentes postos de combustíveis de uma mesma cidade são muito próximos, o que na prática indica baixa concorrência, ou seja, os postos tendem a seguir um preço de referência.

Sobre o tema, A AGU (Advocacia-Geral da União) solicitou a abertura de uma investigação no começo de julho para apurar indícios de que distribuidoras e postos de combustíveis não estariam repassando ao consumidor as quedas nos preços feitas pelas refinarias e estariam lucrando com a diferença. O pedido foi encaminhado à Polícia Federal, ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a outros órgãos de controle.

A reportagem chegou aos resultados a partir da análise dos dados das planilhas de revenda de combustíveis, referentes ao período de janeiro de 2022 a 27 de julho de 2025. Os dados mostram que a margem de lucro no Estado acompanhou a tendência nacional de aumento — na média, no Brasil, foi de 97% —, com um crescimento significativo de 63,63%. A inflação acumulada no país, entre janeiro de 2022 e julho de 2025, foi de aproximadamente 20%, o que demonstra que a elevação do lucro dos revendedores de gasolina foi três vezes maior do que a variação de preços.

Os números revelam que apenas Corumbá, a 428 km de Campo Grande, possui maior variação de preços entre os postos, apresentando desvio-padrão de R$ 0,26. Já Ponta Porã, Três Lagoas, Dourados e Campo Grande tiveram variação inferior a R$ 0,14 nos postos, com a Capital liderando a pouca diferença nos valores.

O economista Eugênio Pavão infere que a baixa competitividade também dá pouca liberdade ao consumidor para pesquisar preços. “O consumidor é o elo mais fraco da cadeia e ao sair de um posto para outro, ele já perdeu o que economizaria”, afirma. Ele também comenta que o setor não permite que o usuário pechinche ou barganhe. “É um produto que você não tem como substituir”.

Outros combustíveis

Pelos dados apurados, a margem de lucro do etanol nos postos de Mato Grosso do Sul registrou uma elevação mais modesta entre 2022 e 2025, com um aumento de 19,12%, dentro da inflação do período. A variação de preços entre os postos para este combustível é a maior de todas, sugerindo um cenário de maior concorrência no mercado local.

O desvio-padrão do etanol em Campo Grande foi de 0,165, o mais alto em comparação com a gasolina e o diesel na capital. O mesmo padrão de maior dispersão de preços se repetiu em outras cidades, como Dourados (0,172) e Três Lagoas (0,209). O comportamento sugere uma disputa de mercado mais ativa, onde os revendedores ajustam seus valores com maior frequência.

Já no óleo diesel, a margem de lucro foi de 45,76% entre 2022 e 2025. Houve ainda baixa variação de preços do diesel no estado, o que sugere um mercado de pouca concorrência. O desvio-padrão na capital, Campo Grande, foi de 0,110. O valor é semelhante ao da gasolina e confirma a pouca diferença de preços entre os postos. Em Dourados, o desvio foi de 0,105, e em Três Lagoas, de 0,123.

Por fim, o aumento discreto de 4,76% entre 2022 e 2025 no gás de cozinha indica estabilidade de um mercado que opera com pouca ou nenhuma disputa de preços, com a oferta de GNV restrita a poucas localidades do estado. Os dados da Agência Nacional do Petróleo são apenas de Campo Grande, onde o desvio-padrão foi de 0,022.

A reportagem entrou em contato com o Sinpetro (Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência de Mato Grosso do Sul), mas não houve retorno até a publicação desse material.