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Acusado de ser o receptor da propina no esquema de compra de votos durante a eleição do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016, Papa Massata Diack voltou a negar qualquer má conduta. Investigado na Operação Unfair Play (Jogo Sujo), o senegalês pediu que os promotores apresentem evidências de seu envolvimento no que chama de "maior mentira do mundo dos esportes". Filho de Lamine Diack, ex-presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), ele atribuiu as acusações ao racismo e ao ciúme.
- É a maior mentira do mundo dos esportes. Posso aceitar ser acusado, mas eles nunca provaram que sou o pivô disso. Dizer que Lamine Diack e seu filho estão acobertando atletas, depois de 22 meses de investigação, onde estão as provas? Apenas artigos de imprensa. Se eles tivessem evidências, teriam ido ao Tribunal. É um problema para um negro africano ser tão bem-sucedido após 16 anos de administração da IAAF - disse Papa Massata, em entrevista ao jornal "The New York Times".
O senegalês acumula acusações em casos de corrupção. Antes de ser apontado como receptor da propina na compra de votos da eleição da Rio 2016, Papa Massata Diack havia sido acusado pelas autoridades francesas de receber suborno para acobertar o esquema de doping do atletismo da Rússia, juntamente com seu pai. Presidente da IAAF por 16 anos e ex-membro do Comitê Olímpico Internacional, Lamine Diack está detido na França desde novembro de 2015 por causa do escândalo russo.
Papa Massata, por sua vez, leva uma vida de luxo em Dakar, no Senegal, de onde não sai. Desde janeiro de 2016 as autoridades francesas emitiram um mandado internacional de prisão para o antigo consultor de marketing da IAAF.
Transações bancárias mostram que a empresa Matlock Capital Group, pertencente ao empresário Arthur Soares, o Rei Arthur, pagou US$ 2 milhões a duas empresas de Papa Massata Diack dias antes da votação do COI. O valor teria sido usado para a compra do voto de Lamine Diack, pai de Papa e então presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF) e membro do COI. Acredita-se que o alto montante indica o pagamento a outros votantes na assembleia, incluindo Frankie Fredericks, ex-velocista da Namíbia e membro do COI na época da eleição da Rio 2016, em 2009. No dia da votação, Papa transferiu US$ 300 mil para Frankie, o que o senegalês afirma ser uma infeliz coincidência. Ele alega que o pagamento se referiu a trabalhos promocionais prestados a patrocinadores da IAAF.
- Papa Diack disse isto, gravou isto, afirmou isto: Lamine Diack e Frankie Fredericks votaram para Tóquio. Quem disser o contrário está mentindo, e estou pronto para ser desafiado - disse o senegalês, lembrando que a cidade japonesa estava na disputa em 2009.
Papa Massata Diack afirmou que o pagamento feito pelos brasileiros se referiu ao patrocínio de uma nova competição de revezamento que seria criada pela IAAF, e o senegalês seria o consultor de marketing da organização do evento. A competição nunca aconteceu no Brasil.
- Dinheiro sujo, ou dinheiro de corrupção, é mantido fora das contas ou é dando em espécie. Você acha que sou estúpido ao ponto de ter dinheiro de corrupção nas contas oficiais das minhas empresas? - questionou Papa Diack.
No Senegal, a família Diack tem a reputação inabalada pelas acusações de corrupção. Lamine foi prefeito de Dakar e ministro do esporte do país africano antes de se tornar presidente da IAAF. O Senegal nega o pedido da França de extraditar Papa Diack.
- Esse caso nunca será julgado na França. Eu nunca serei processado na França.