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Qual o tamanho da dívida do São Paulo? O presidente do clube, Carlos Miguel Aidar, diz que é de R$ 137 milhões. Já o banco Itaú-BBA, uma das principais consultorias do mercado, sustenta que o rombo é de R$ 272 milhões.
Qual o motivo dessa diferença? Consultores ouvidos pela reportagem entendem que Aidar estaria incluindo em seu cálculo apenas os débitos bancários, ignorando algumas dívidas operacionais e fiscais.
Entenda o caso:
Na última sexta-feira, ao apresentar o novo plano de gestão profissional que será implantando, Aidar afirmou que a dívida do clube é muito menor do que a que havia sido falada anteriormente por ele mesmo, caindo de R$ 270 milhões para R$ 137 milhões. Mas como explicar essa redução?
Em seu discurso, o mandatário são-paulino falou apenas sobre a dívida bancária do São Paulo. Pessoas ligadas ao clube deram a seguinte explicação: o que está parcelado para pagar no futuro entra como obrigação e não como dívida. Pensamento que não é compartilhado pelo Itaú-BBA, banco que anualmente faz análise dos balanços do clube e que soltou um relatório nesta terça-feira dizendo que a dívida tricolor na verdade é praticamente o dobro: R$ 272 milhões. A própria dívida bancária é maior, na análise do banco: R$ 150 milhões.
Enquanto Aidar entende como dívida apenas o que precisa ser pago aos bancos, o Itaú-BBA coloca também os débitos operacionais e fiscais. O primeiro, estimado em R$ 50 milhões, é relativo ao que deve ser quitado com fornecedores, empresários que detêm direitos de jogadores e onde também está incluída a aquisição de atletas. O segundo débito, de R$ 72 milhões, inclui o atraso no pagamento de impostos, além do débito na Timemania, que hoje é estimado em R$ 53 milhões.
Dois especialistas ouvidos pela reportagem do GloboEsporte.com discordam da interpretação de Aidar
– Não importa se a dívida é vencida e não paga ou se o valor deverá ser pago no futuro. Tudo é dívida. Se eu compro um carro para pagar em três anos, eu devo. Na verdade, o que ele fez foi dar enfoque a apenas uma categoria de dívida. Ele só falou do débito bancário pegando as dívidas de curto prazo (R$ 88 milhões), as de longo prazo (R$ 62 milhões) e, do total, subtraiu R$ 13 milhões, valor que constava em caixa no final do ano passado – disse Alex Brito, da UHY Moreira Auditores, empresa especialista em auditoria de clubes.
Para Amir Somoggi, consultor de gestão esportiva, se o valor da dívida fosse realmente de R$ 137 milhões apenas, a situação financeira do São Paulo deveria ser muito melhor.
– Na sexta-feira, o Aidar revelou um valor de receita do clube de R$ 236 milhões. Se a dívida fosse apenas a falada por ele, por que o clube, a cada mês, tem obrigações bancárias de R$ 8 milhões (empréstimos e juros)? Independentemente de a dívida ser fiscal ou operacional, ela tem de ser paga e consta como dívida. No final do ano passado, a dívida era de R$ 341 milhões. Falar que ela abaixou para R$ 137 milhões é muito complicado – ressaltou o consultor.
Somoggi, inclusive, diz que hoje é muito complicado saber a real situação do clube do Morumbi, já que é publicado apenas um balanço em abril de cada ano.
– Uma maneira de pregar a transparência seria fazer como o Flamengo, que publica um balanço a cada três meses. Dessa maneira, poderíamos ter uma noção exata – afirmou.
A reportagem do GloboEsporte.com tentou contato durante toda a manhã desta terça-feira com o vice-presidente de administração e finanças do clube, Osvaldo Vieira de Abreu, mas não teve retorno. Também tentou contato com pessoas ligadas ao Instituto Áquila, empresa que fez o plano de gestão que será usado por Aidar, mas também não obteve sucesso.