VERSÃO DE IMPRESSÃO
Geral
19/02/2013 09:00:00
Guaranis Kaiowás ocupam fazenda e tentam linchar fazendeiro depois de assassinato de jovem
Como Denílson era filho do cacique Wilson Quevedo Barbosa, que lidera uma grande família kaiowá, a reação foi instantânea.

Midiamax/LD

\n Depois de terem ido pescar em terras que consideram suas, no açude dentro da fazenda Sardinha, no município de Caarapó, três meninos Guaranis Kaiowás da aldeia Teyikue foram perseguidos e o mais velho deles, Denílson Barbosa, de apenas 15 anos, foi executado por jagunços com três tiros à queima-roupa. O assassinato ocorreu no último sábado (16), e o corpo do menino foi abandonado em uma estrada de terra do local. Como Denílson era filho do cacique Wilson Quevedo Barbosa, que lidera uma grande família kaiowá, a reação foi instantânea. Em consequência do crime, cerca de 300 índios da etnia invadiram a fazenda Sardinha, para sepultar o adolescente, no momento em que o fazendeiro Orlandino Carneiro Gonçalves retirava o gado e móveis. Por temer linchamento, Orlandino fugiu da fazenda, que agora está em poder dos indígenas. Ontem, a Força Nacional e a Polícia Federal estiveram no local do conflito, mas se retiraram alegando falta de autonomia para agir, depois da ocupação, mesmo com a possibilidade de confrontos. Entrevistada pela reportagem, a liderança indígena Valdelice Veron contou que os três jovens pescavam no córrego Mbopei quando foram perseguidos por três jagunços. Segundo ela, Denílson foi vitimado com dois tiros na cabeça e um no pescoço depois que se enroscou em uma cerca de arame farpado durante a fuga, e foi detido pelos jagunços. Os indígenas acreditam que o menor tenha sido torturado e depois assassinado pelos seguranças da fazenda, porque, segundo eles, o seu corpo tem vários sinais de espancamento. O corpo ficou no local do crime até a chegada da Polícia Civil. Valdelice conta que os índios costumam pescar na área porque ali está o único riacho da região da reserva José Bonifácio, onde moram. Os guaranis kaiowás também frequentam a área para extrair ervas usadas na fabricação de medicamentos. “O lugar pertence ao povo indígena, que tem água no rio, açude, e sempre tiveram acesso. Cinco anos atrás eles não deixaram mais índio entrar e pescar. Seu Orlandino, não tem escritura, mas não deixava mais entrar”, relatou a liderança. A líder guarani contou a versão de que uma parte da reserva, ainda à época do Serviço de Proteção do Índio(SPI)foi vendida por um ex-funcionário ao fazendeiro, razão da disputa até hoje. Segundo a líder indígena, os índios se revoltaram com a fim de uma trégua firmada entre o governo federal, as lideranças guaranis kaiowás e a Famassul, firmada no dia 26 de novembro, na presença do secretário Nacional de Articulação Social, Paulo Maldos. A trégua previa fim das invasões e da violência contra os índios até que a Funai concluísse os levantamentos sobre a origem da fazenda e sua possível demarcação, com indenização. O Conselho da Aty Guasu Guarani e Kaiowá emitiu nota depois do crime “Infelizmente, é com muito pesar, nós conselho da Aty Guasu guarani e Kaiowá, vimos a todos (as) AUTORIDADES E CIDADÃOS DO BRASIL E DO MUNDO comunicar que ontem um grupo indígenas Guarani-Kaiowá foram atacados e violentados pelos pistoleiros das fazendas da região de Caarapó-MS. Um adolescente foi assassinado a tiro-bala pelos homens das fazendas, localizada próxima da Reserva/Aldeia Teyikue/Caarapo, município de Caarapó-MS. Hoje (18/02/2013) mais de duas centenas de Guarani-Kaiowá enterraram o corpo do menino no local em que foi assassinado. Esse lugar é terra Guarani-Kaiowá tradicional reivindicada pelos indígenas que está em estudo antropológico, há anos. Diante do fato de violência antiga contra as vidas dos indígenas Guarani-Kaiowá, hoje à tarde, mais de 200 Guarani-Kaiowá tentam reocupar o tekoha e permanecerem no lugar, fazendo protesto contra as violências contra as vidas Guarani e Kaiowá, pedindo a JUSTIÇA. Está tenso no local em que começou o protesto passivo dos Guarani e Kaiowá. Os agentes da PF e FUNAI foram no local ontem e hoje. Por fim, mais uma vez, solicitamos a investigação do fato pela Polícia Federal e pedimos a presença permanente de seguranças federais no local. A comunidade Guarani e Kaiowá já decidiu em permanecer em protesto nesse tekohaguasu onde foi assassinado o menino Kaiowá. Entorno de tekoha reocupada em protesto já começou movimento dos pistoleiros. O risco de ataque dos pistoleiros é iminente”. Amanhã, retornaremos a comunicar a todos (as). TekohaGuasu Guarani e Kaiowá, 18 de fevereiro de 2013. Conselho da Aty Guasu Guarani e Kaiowá contra genocídio \n \n