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Mundo
02/10/2018 10:57:00
6 em cada 10 crianças e adolescentes venezuelanos em Roraima não estão na escola, apontam Unicef e OIM

G1/LD

Mais da metade das crianças e adolescentes venezuelanos que migraram para Roraima não vão à escola e muitos estão expostos a doenças, fome, trabalho infantil e até violência sexual. É o que aponta uma pesquisa amostral da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado nesta terça-feira (2).

A pesquisa, feita entre maio e junho em Boa Vista e Pacaraima com mais de 4 mil imigrantes, abrange as condições em que estão vivendo 726 crianças e adolescentes venezuelanos que fugiram de seu país natal em razão da grave crise vivida no regime de Nicolás Maduro.

Segundo o relatório, 63,5% das crianças e adolescentes venezuelanos entrevistados estão sem frequentar a escola em Roraima, tendo como principais motivos para isso a falta de vagas, distância e custos.

Entre os que estão na idade escolar obrigatória (entre 5 e 17 anos), 59% não frequenta a escola, porcentagem que é ainda maior na faixa etária de 15 e 17 anos, em que 75% estão fora de unidades de ensino.

Doenças e fome

O levantamento também mostrou as condições de saúde e alimentação às quais estão expostas os imigrantes.

A maioria das crianças e adolescentes (87,1%) estão com as vacinas atualizadas e entre a população geral entrevistada 70% declarou ter acesso aos serviços de saúde.

Apesar disso, chama a atenção que muitos ainda estão sujeitos a problemas de saúde por conta das más condições de higiene e alimentação que encontram ao fugir para o Brasil.

Entre os entrevistados, 60% afirmou que não tem acesso regular à água mineral e filtrada para beber, enquanto 45% não tem acesso regular à água para cozinhar e garantir a higiene pessoal.

A precariedade afeta a saúde dos refugiados. 28% das pessoas menores de 18 anos tiveram diarreia no último mês.

A pesquisa também levantou dados sobre segurança alimentar. Desde que chegaram ao Brasil, 115 crianças e adolescentes (16%) relataram ter passado por algum momento em que não tiveram comida suficiente.

Também foi mapeado que crianças e adolescentes passam por situações de fome. 128 reduziram o número de refeições, 93 sentiram fome e não comeram e 84 comeram apenas uma vez ao dia, ou não se alimentaram.

Trabalho infantil e violência sexual

O levantamento aponta ainda que em Roraima crianças e adolescentes venezuelanas estão expostas ao trabalho infantil e à violência sexual.

Desde que chegaram ao Brasil, 16 dos entrevistados responderam que, em algum momento, uma criança ou um adolescente sob sua responsabilidade trabalhou ou fez algum tipo de atividade esperando obter algum tipo de pagamento.

Um total de 14 pessoas disseram que desde que chegaram ao Brasil conheceram uma criança ou adolescente em risco de violência sexual.

Pesquisa

Foram entrevistadas quase 4 mil pessoas, das quais 425 estavam com seus filhos menores de 18 anos ou acompanhando alguma criança ou adolescente.

Dessa forma foi possível coletar informações sobre 726 crianças e adolescentes. Desses, 479 estavam nos bairros de Boa Vista e Pacaraima, 171 na fronteira de Pacaraima com a Venezuela e 76 na Rodoviária de Boa Vista.

Uma vez que a amostra foi construída por conveniência, os resultados são indicativos apenas das características da população pesquisada.

A pesquisa foi feita com apoio financeiro do Fundo Central de Resposta de Emergência das Nações Unidas (CERF) e o Escritório para População, Refugiados e Migração (PRM) do Governo dos Estados Unidos.

Venezuelanos em Roraima

Desde 2015, Roraima recebe um número crescente de venezuelanos. Em três anos e meio já são mais de 75 mil pedidos de refúgio ou residência temporária só no estado, e de acordo com o IBGE 30 mil venezuelos estão vivendo em Roraima - a maioria em Boa Vista e Pacaraima.

Com a chegada de milhares de venezuelanos, 11 abrigos públicos foram abertos em Boa Vista e na fronteira com capacidade para mais de 5 mil pessoas, e o governo federal tem ofertados voos de para levar refugiados a outros estados do país.