O Globo/LD
O Banco Central Europeu (BCE) decidiu aumentar em € 900 milhões por uma semana o limite de empréstimos de emergência a bancos gregos, anunciou nesta quinta-feira o presidente da instituição, Mario Draghi. O aumento permitirá que os bancos reabram nesta segunda-feira. A confirmação veio por meio do vice-ministro das Finanças do país Dimitris Mardas, em entrevista ao canal de televisão grego ERT. Desde o fim de junho a linha de crédito estava limitada a € 89 bilhões. Segundo Draghi, com a adição o BCE parte do princípio de que a Grécia "é e continuará sendo um membro da zona do euro".
— A partir de segunda-feira, os serviços oferecidos serão ampliados — afirmou o vice-ministro. — Todos os bancos em todos os locais estarão abertos.
De acordo com Mardas, os clientes não poderão ainda exceder o limite de saque de € 60 por dia. A limitação imposta em 29 de junho, quando as instituições fecharam, continuará valendo. O governo estuda, porém, permitir aos clientes "acumular" dias de saque.
— Se alguém não quiser tirar € 60 na segunda-feira, por exemplo, e quiser ir na terça-feira, ele poderia sacar € 120, ou € 180 na quarta-feira — explicou Mardas. — Essa é uma proposta que estamos processando e que acreditamos que é tecnicamente possível.
Um empréstimo temporário de € 7 bilhões também foi acertado pelos ministros das Finanças da zona do euro. Mas a liberação do dinheiro, a ser usado para quitar a parcela de € 3,5 bilhões mais juros junto ao BCE, só será feita após todos parlamentos da zona do euro, incluindo o Bundestag alemão, também aprovarem as condições do acordo nos próximos dias. O pacote prevê socorro de até € 86 bilhões à Grécia ao longo de três anos.
— O BCE atendeu aos pedidos do Banco da Grécia — afirmou o presidente do BCE. A expectativa é de que os bancos continuem com operações e saques limitados pelo menos até que o pacote de socorro seja aprovado e as instituições recebam uma parte dos € 25 bilhões que serão destinados à recapitalização. Mesmo que limitada, porém, a reabertura dos bancos daria um ar de normalidade ao país.
Refutando críticas na Grécia de que o BCE asfixiou os gregos com falta de dinheiro, o presidente do BCE observou que as maiores fugas coincidiram com eventos políticos como a eleição de janeiro e o colapso das conversas sobre resgate em junho.
— Portanto essas observações de que não havia assistência de liquidez suficiente ou que houve uma corrida aos bancos causada pelo BCE são bastante injustificadas, e certamente infundadas — acrescentou ele.
Draghi afirmou que a linha emergencial não é ilimitada e incondicional, e que "a provisão de liquidez segundo nossas regras nunca teve o objetivo de ser ilimitada e incondicional", disse ele em entrevista à imprensa, declarando que a exposição total de bancos centrais da zona do euro à Grécia subiu a um total de € 130 bilhões.
SEM DÚVIDAS DE QUE ALÍVIO É NECESSÁRIO
Perguntado o que acontecerá se a Grécia não pagar a parcela de € 3,5 bilhões na próxima segunda-feira, Draghi disse que a informação que tem é que o pagamento será feito, assim como o que o país deve ao FMI. Por isso, afirmou, essa possibilidade está fora de questão.
Draghi mostrou que concorda com a linha de pensamento defendida pelo FMI e a própria Comissão Europeia de que a Grécia precisa de um alívio da dívida: — Não há controvérsias sobre a necessidade de alívio da dívida. A questão é qual é a melhor forma de alívio. Acho que devemos nos focar nisso.
O premier grego, Alexis Tsipras, conseguiu na madrugada desta quinta-feira (horário local) aprovar novas medidas de austeridade exigidas em troca do socorro. Os € 86 bilhões virão do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira, um fundo de resgate da União Europeia.
Ao ser perguntado sobre a confiança do BCE em relação ao novo pacote de socorro se nem Tsipras acredita nele, Draghi afirmou:
— Você realmente quer que nós tomemos decisões baseadas em incertezas políticas? Ou levantando dúvidas sobre a habilidade de um governo de implementar suas decisões? Não, nós cumprimos o nosso mandato.
O presidente do BC europeu disse ainda que cabe ao governo grego desfazer as dúvidas sobre a implementação do acordo, assim como sobre a capacidade e a vontade de fazê-lo.
— A união é imperfeita, e sendo imperfeita é frágil, vulnerável e não tem todos os benefícios que poderia ter se fosse completa. No futuro agora poderia haver passos decisivos para uma maior integração.
JUROS DA REGIÃO FICARAM INALTERADOS
Na decisão sobre política monetária mais cedo, o BCE deixou suas taxas de juros inalteradas em mínimas recordes, em linha com as expectativas, após o banco central já dizer que os juros atingiram o "limite mais baixo". O BCE manteve a taxa de refinanciamento, que determina o custo do crédito na economia, em 0,05%. Também deixou a taxa de depósitos em -0,20%, o que significa que bancos pagam para manter recursos na instituição, e manteve a taxa de empréstimo em 0,30%.