VERSÃO DE IMPRESSÃO
Mundo
23/09/2014 11:17:00
Cientistas acreditam que ebola pode se tornar endêmico na África Ocidental
Essa onda incluiu, com a maioria de casos acumulados, Libéria e Serra Leoa.

Uol/AB

O vírus do ebola pode se tornar endêmico na população da África Ocidental e provocar surtos esporádicos da doença nos próximos anos, especialmente na Libéria, onde os casos e mortes aumentam de forma exponencial.

Este é o cenário concebido por cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Imperial College London, instituição acadêmica especializada em ciências, após analisar a evolução da epidemia.

Um dos resultados mais relevantes é que, se as medidas de controle do ebola não forem reforçadas imediatamente, haverá mais de 20 mil infectados entre o final de outubro e o início de novembro.

Ambas entidades publicam nesta terça-feira (23) na revista científica "New England Journal of Medicine" um estudo conjunto ao completar-se seis meses da primeira notificação à OMS de um caso de ebola da atual epidemia.

"Com medidas de controle parciais, o vírus do ebola na população humana pode se transformar em uma característica da vida na África Ocidental", disse o diretor de Estratégia da OMS, Christopher Dye.

Como coautor do estudo, Dye sustentou que esse cenário representa que a epidemia não se extinguirá em meses, mas provavelmente em anos, e que se transformará "em mais ou menos permanente na população humana".

A esse respeito, o artigo explica que no médio prazo o ebola pode se tornar endêmico entre os humanos, uma possibilidade que nunca tinha sido contemplada anteriormente.

"O risco que a expansão da epidemia continue e que o vírus se torne endêmico requer um maior esforço na implementação das medidas de controle e o rápido desenvolvimento e provisão de remédios e vacinas", indicam os especialistas em seu estudo.

Dye, que apresentou em entrevista coletiva as conclusões do artigo, reconheceu que em tais circunstâncias não se pode descartar a possibilidade de uma mutação do vírus do ebola que mude seu modo de contágio.

Os analistas de distintas instituições que participaram do estudo consideram que se, de maneira geral, uma pessoa infectada contagia outras duas nessa epidemia, isso ocorre porque a via de transmissão é unicamente através do contato direto com fluidos corporais (suor, sangue e saliva, entre outros).

Se houvesse uma mutação nesse sentido e o vírus se transmitisse pelo ar, como tantos outros, "estaríamos em problemas muito mais sérios", reconheceu Dye.

O pior cenário para a comunidade científica passa por um fracasso completo das estratégias de controle, o que pode dar lugar a "dezenas de milhares de infectados" e empurrar os países afetados à instabilidade social e política, considerou o representante da OMS.

Por outro lado, o êxito total das intervenções para a contenção do ebola representaria o desaparecimento do vírus nos humanos em questão de meses e seu retorno a seus portadores originais: os morcegos da fruta.

A análise detalhada e rigorosa das informações recopiladas sobre o atual surto do ebola indica que, embora o primeiro caso tenha sido notificado oficialmente em 23 de março, a primeira pessoa com o vírus adoeceu em dezembro do ano passado em Guiné, mas não foi identificado como ebola nesse momento.

Desde então, o surto passou por três momentos-chave: em janeiro, quando aconteceu um pequeno surto no sul da Guiné, o segundo, entre abril e maio, quando apareceram casos em sua capital, Conacri; e o pior, que prossegue, no início de junho, quando começou a observar-se "uma onda gigantesca da epidemia", declarou Dye.

Essa onda incluiu, com a maioria de casos acumulados, Libéria e Serra Leoa.

Dos 188 distritos que há no total nos três países, apenas 43 reportaram um ou mais casos de ebola, e 90% ocorreram em 14 distritos.

Por outra parte, se determinou que o período de incubação do vírus é, em média, de 11,4 dias nos três países e que, em todo caso, 95% dos infectados mostraram sintomas nos 21 dias que se seguiram à sua exposição ao vírus.

Um dos pilares da estratégia de controle do ebola é identificar os contatos dos doentes e garantir que estes estejam sob vigilância sanitária durante três semanas até descartar que estejam infectados.