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Mundo
25/06/2012 07:29:23
Crise no Paraguai gera tensão e esvazia comércio na fronteira com Brasil
Eles atribuem o fraco movimento, entre outros motivos, aos rumores de que o Brasil poderia fechar a fronteira com o Paraguai em resposta ao impeachment relâmpago de Lugo.

BBC/Brasil/PCS

\n \n A\n crise política que sucedeu a destituição do presidente paraguaio Fernando Lugo\n na sexta-feira (22), provocando ameaças de sanções ao Paraguai por nações\n vizinhas, já gera impactos na fronteira do país com o Brasil.\n \n Em\n Ciudad del Este, pólo comercial que atrai milhares de compradores brasileiros\n diariamente, ao menos dez lojistas consultados pela BBC Brasil calculam que\n houve queda de até 50% nas vendas neste fim de semana. Eles atribuem o fraco\n movimento, entre outros motivos, aos rumores de que o Brasil poderia fechar a\n fronteira com o Paraguai em resposta ao impeachment relâmpago de Lugo.\n \n O\n governo brasileiro, que considerou a destituição do presidente um "rito\n sumário" sem direito adequado de defesa, anunciou que sanções ao Paraguai\n por eventual quebra de compromisso com a democracia (previstas em acordos\n regionais) estão sendo avaliadas pelos membros do Mercosul e da Unasul.\n \n Questionado\n neste domingo (24)nbsp;pela BBC Brasil se as medidas poderiam incluir o\n fechamento de fronteiras, o Itamaraty afirmou que a ação está prevista em\n protocolos multilaterais e que ela está sob discussão, mas que até o momento\n não há definição sobre o assunto. Atualmente, o trânsito de pessoas entre\n Brasil e Paraguai ocorre livremente pela ponte da Amizade, sobre o rio Paraná.\n \n Corredores\n vazios\n \n Os\n rumores, no entanto, bastaram para que muitos brasileiros adiassem os planos de\n fazer compras no país vizinho. No shopping Corazón, o mais moderno de Ciudad\n del Este, a clientela era tão escassa que vendedores saíam para os corredores\n para conversar com colegas de lojas vizinhas.\n \n "Estamos\n todos muito preocupados", diz, sentada ao sofá, a vendedora paraguaia Luz\n Ruiz. "Para Ciudad del Este, fechar a fronteira seria a morte".\n \n Segundo\n Ruiz, que trabalha numa loja de lingeries, no sábado pós-impeachment os\n clientes só apareceram depois das 20h. No dia seguinte, diz ela, o movimento\n continuava bem abaixo do normal. "Como os domingos costumam ser mais\n fracos, só saberemos do impacto real durante a semana".\n \n Ao\n seu lado, a vendedora brasileira Marta de Paula, que mora em Foz do Iguaçu\n (PR), mas cruza a fronteira diariamente para trabalhar em Ciudad del Este, teme\n perder o emprego caso a divisa seja fechada.\n \n —\n Muitos brasileiros que trabalham em Ciudad del Este e paraguaios que trabalham\n em Foz seriam afetados. O desemprego nas duas cidades explodiria.\n \n Além\n disso, ela afirma que, assim como os brasileiros se abastecem de perfumes,\n brinquedos e eletrônicos no Paraguai, os paraguaios compram do Brasil máquinas\n agrícolas e automóveis, gerando receita para o país.\n \n As\n duas disseram crer, porém, que o Brasil não levará a cabo qualquer ação que\n possa prejudicar brasileiros.\n \n —\n Não faria sentido, eu acredito no bom senso dos governantes.\n \n Nem\n todos os vendedores, porém, consideram a crise política a principal razão para\n o fraco movimento. Segundo Mercedes Capdevilla, vendedora de uma loja de\n eletrônicos, nas últimas semanas o Brasil aumentou o controle na fronteira,\n para fazer valer o limite de US$ 300 (R$ 600) em compras por pessoa. Quem\n excede o valor deve pagar multa.\n \n A\n atitude, diz ela, tem prejudicado o comércio.\n \n —\n Quando voltar ao procedimento antigo, as vendas vão subir de novo.\n \n "Presa\n no Paraguai"\n \n Num\n dos raros grupos de turistas brasileiros que passeavam pelo shopping, a\n fotógrafa Soraya Reichert diz que teve de convencer uma tia de que não\n correriam riscos se cruzassem a fronteira.\n \n —\n Ela estava com medo de ficar presa no Paraguai, sem conseguir voltar para Foz.\n Acho que se forem mesmo fechar a fronteira, vão avisar com antecedência, para\n evitar o caos.\n \n Assim\n como os comerciantes, porém, ela espera que o governo brasileiro não tome essa\n decisão.\n \n —\n Foz do Iguaçu depende tanto daqui quanto eles dependem de nós.\n \n Reichert\n diz que muitos brasileiros de Foz têm negócios na cidade vizinha, como empresas\n de aluguel de veículos, lojas e construtoras. Ela afirma ainda que o bloqueio\n da fronteira seria um terrível golpe para o turismo que sustenta a cidade\n paranaense. Isso porque, segundo a fotógrafa, boa parte dos viajantes de várias\n regiões do Brasil que se hospedam em Foz o fazem para realizar compras no\n Paraguai.\n \n —\n As duas regiões estão tão conectadas que qualquer ruptura seria uma catástrofe,\n e para os dois lados.