Mundo
01/09/2014 09:35:06
Ebola: a mais solitária das mortes, diz psicóloga da MSF
Débora fala rápido e é daquele tipo de pessoa que consegue transmitir aos montes suas emoções por telefone. Pensa para responder, mas pondera rápido.
Terra/LD
Débora\n fala rápido e é daquele tipo de pessoa que consegue transmitir aos \n montes suas emoções por telefone. Pensa para responder, mas pondera \n rápido. Eu pergunto: você voltaria para a África no atual surto de \n ebola? Ela responde, sem hesitar: sem sombra de dúvidas. \n Trabalhando para a organização dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) desde \n 2008, Débora Noal, 33 anos, é psicóloga e viajou para mais de quarenta \n países. Costuma dizer que seu escritório é o mundo. Cobrindo conflitos \n armados, guerras, desnutrição, terremotos e epidemias, já viu de tudo, \n mas, não tem dúvidas, a missão ebola foi a mais diferente que teve na \n vida. E define a morte causada pelo vírus como a pior e mais indigna de \n todas. \n Débora viajou, a convite da MSF, para a República Democrática do Congo \n em 2012, durante uma epidemia de ebola. Neste surto, foram registrados \n mais de 60 casos e pelo menos metade das pessoas morreu. Pergunto a ela \n por quanto tempo ficou no país e ela me conta que por quatro semanas ou \n um ano, se for contar o que eu senti. \n Com o olhar sensível e experiente, Débora relembrou sua missão numa \n comunidade daquele país pobre, em que algumas pessoas acreditem! \n nunca tinham visto um branco na vida. Sem TV, jornal, internet, \n celular, dezenas de pessoas tiveram de acreditar em Débora - e na equipe\n que trabalhava com ela naquela situação (outros 29 agentes nativos ou \n não)-, e seguir enfrentando a doença que ninguém podia ver, mas que \n existia. E matava rápido. \n Cheia de lembranças, a psicóloga conta como era seu trabalho com tantas \n roupas (cada agente usa 18 itens de proteção) em uma cidade onde fazia \n mais de 40 graus, sem poder tocar nas pessoas e nem nela mesma, \n praticamente. Durante a conversa, ela relembra o caso de uma paciente \n grávida e com malária, que ainda a faz emocionar, dois anos depois. Por \n fim, explica como é o processo de descompressão, como define, quando \n retorna de uma missão dessas dolorida, porém grandiosa.