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Polícia
19/07/2023 09:51:00
Jamilzinho acredita que filho de militar foi morto por engano, mas nega participação

CGNews/LD

Em depoimento no início da noite de ontem, Jamil Name Filho, o Jamilzinho, julgado por supostamente ter mandado matar o capitão reformado da Polícia Militar Paulo Xavier, o conhecido PX, e morrido no lugar dele o filho, o então acadêmico de Direito Matheus Coutinho Xavier, 19 anos, em 9 de abril de 2019, afirmou acreditar na tese de um “crime acidental”.

Ou seja, o réu acha que os pistoleiros tinham como intenção matar o militar, e não o rapaz, contudo, ele negou qualquer participação no caso.

Jamilzinho e dois supostos seguranças seus, Marcelo Rios, 46 anos, e o ex-policial civil Vladenilson Daniel Olmedo, o Vlade, 63 anos, presos desde setembro de 2019, têm sido julgados desde segunda-feira, sob a acusação de serem o mandante do assassinato e os contratantes dos pistoleiros, respectivamente.

Conforme o processo judicial, de 15 mil páginas, que aponta Jamilzinho como o mandante, os pistoleiros que teriam sido contratados para matar PX seriam, segundo a investigação, José Moreira Freire, o Zezinho, e Juanil Miranda Lima.

Zezinho foi morto em uma suposta troca de tiros com policiais, em dezembro de 2020, em Mossoró, cidade do Rio Grande do Norte. Juanil, desde o dia do crime, nunca mais foi visto, nem pela família dele.

DEPOIMENTO Jamilzinho, em vez de se limitar a responder o que o juiz, o Ministério Público ou sua defesa perguntasse, tentou conduzir o depoimento do início ao fim.

Ele comentou sobre a origem de sua família, libanesa, pai, avô, mãe, e que enfrentou problemas de saúde depois de se submeter a uma cirurgia bariátrica.

Quando questionado sobre o que achava sobre o crime do acadêmico, que foi morto por tiros de fuzil em frente à casa onde morava, na Rua dos Vendas, área nobre de Campo Grande, Jamilzinho fixou em “99%” a chance de o alvo do crime ter sido PX, que também já havia trabalhado como segurança da família do réu.

“Eu não fui mandante da morte do Paulo Xavier nem da morte de ninguém. Graças a Deus, doutor, eu não tenho essa índole, essa, como vou dizer para o senhor, essa maneira de lidar com as coisas”, respondeu Jamilzinho.

Antes de responder, ele fez elogios à vítima. “Ele era estudioso, conheci os três filhos de Paulo Xavier”, disse, acrescentando em seguida:

“Não fui mandante da morte do Paulo Xavier nem da morte de ninguém. Doutor, eu não tenha essa índole”.

Ainda de acordo com o processo que incriminou Jamilzinho, o policial reformado teria se tornado seu desafeto em um negócio envolvendo um advogado paulista e ele, por conta de um desentendimento financeiro acerca da compra de fazenda.

Jamilzinho brigou com o advogado e Paulo Xavier teria se aproximado do desafeto e, então, mandou executá-lo, conforme a denúncia do Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS).

Ainda conforme a denúncia contra Jamilzinho, Rios e Vlade, os dois pistoleiros que fuzilaram o acadêmico, eram conhecidos dos seguranças de Jamilzinho.

No depoimento, Jamilzinho disse que nunca havia “nem ouvido falar” de Zezinho ou Juanil. No entanto, antes do depoimento dele depôs Marcelo Rios, segurança de Jamilzinho antes de os dois ficarem encarcerados, em setembro de 2019.

Rios disse ter recebido R$ 2 mil de Juanil para “guardar” armamentos de grosso calibre. Ou seja, os dois fizeram negócio.

As armas em questão, entre as quais fuzis, foram apreendidas pela Polícia Civil em 19 de maio de 2019, no Jardim Monte Líbano, em uma propriedade da família Name.

Jamilzinho insistiu, no depoimento, que nunca “pôs o pé” no imóvel, que, para os investigadores da Omertà, operação policial que arruinou a organização supostamente chefiada por Name pai e Name filho, seria uma espécie de paiol, o mesmo que depósito de armas, de instrumentos de guerra.

Na Omertà, os investigadores prenderam Jamilzinho e também o pai dele, Jamil Name, que morreu em 2021 vítima de Covid-19. Os Name, para o MPMS, chefiavam uma milícia que matava desafetos dos dois. Outro ponto do depoimento de Jamilzinho surgiu com uma pergunta a ele sobre uma frase escrita e descoberta na Omertà: “De picolezeiro a governador”, sobre quem poderia ser assassinado.

O depoente confirmou ter sido o autor da frase, mas disse que “nem se lembrava”, porque isso teria ocorrido “sob efeito” de medicamento indicado para depressão.

Ele afirmou ainda que, depois de se submeter a uma cirurgia bariátrica, adoeceu e passou a beber. Contou, também, que sabe a razão de ter escrito e “por que havia guardado” consigo.

OUTROS DEPOIMENTOS Além de Jamil Name Filho, também foram ouvidos, durante a tarde de ontem, os outros dois réus, Vladenilson Daniel Olmedo e Marcelo Rios.

Além deles, pela manhã, falaram o delegado da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros (Garras), João Paulo Sartori, a mulher de Marcelo Rios, Eliane Benitez Batalha dos Santos, entre outras testemunhas de defesa dos acusados.

Com o fim das oitivas, na noite de ontem, o julgamento, que é considerado o maior dos últimos 10 anos, entra em sua reta final. A previsão é de que a sentença dos jurados, que condenará ou absolverá os réus, seja proferida ainda hoje.