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O acidente nesta quarta-feira envolvendo um helicóptero no Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema, em Naviraí, foi a sétima ocorrência com esse tipo de aeronave na mesma região em menos de três anos e as evidências apontam que todas estavam a serviço do tráfico de cocaína.
Nesta última ocorrência, em que os dois ocupantes saíram praticamente ilesos, ainda não existe comprovação de que os envolvidos estivessem a serviço do narcotráfico, mas nos demais, a polícia encontrou drogas ou evidências de que os helicópteros fossem usados para transportar cocaína.
Porém, no caso de quarta-feira, a polícia já confirmou que o voo era clandestino e que o piloto já havia sido detido por suposto envolvimento com a quadrilha comandada por Antônio Joaquim da Mota, conhecido como Motinha ou Dom, que foi alvo de duas grandes operações da Polícia Federal em maio e junho deste ano.
Depois de serem resgatados do meio das várzeas às margens do Rio Ivinhema, os dois sobreviventes, que estavam com R$ 32 mil em cédulas de cem reais, disseram que estavam a caminho de uma oficina para helicópteros em Fátima do Sul. A polícia, porém, não tem conhecimento sobre a existência desta suposta oficina para helicópteros na pequena cidade na região de Dourados.
A série de acidentes envolvendo helicópteros na região sul do Estado começou em 11 de setembro de 2020, quando uma aeronave foi encontrada incendiada em uma fazenda em Iguatemi. Os investigadores chegaram à conclusão de que os ocupantes colocaram fogo na aeronave depois de fazerem o pouso de emergência. Nenhum ferido foi localizado e os proprietários nunca comunicaram o incidente às autoridades.
Depois disso, em 16 de abril de 2021, um helicóptero fez um pouso forçado no assentamento Itamaraty, em Ponta Porã, depois de bater na fiação da rede de energia de alta tensão.
Antes de a polícia chegar, o piloto formatou o celular e destruiu o GPS do helicóptero para impedir que os investigadores encontrassem pistas sobre a origem e os proprietários da aeronave. A suspeita da polícia é de que ele voasse baixo para escapar dos radares da Força Aérea Brasileira e por isso atingir a fiação.
Depois disso, no dia 3 de junho de 2021, policiais da região de Nova Andradina e Batayporã apreenderam 250 quilos de cocaína que eram transportados num helicóptero que fez um pouso próximo ao Rio Paraná, já na divisa com o estado de São Paulo. Quatro pessoas foram presas em flagrante por envolvimento com o narcotráfico.
Meses depois, no dia 20 de outubro, um helicóptero que transportava 246 quilos de cocaína caiu e pegou fogo em uma lavoura em Ponta Porã, a cerca de 35 quilômetros da linha de fronteira com o Paraguai. Os dois ocupantes morreram. A aeronave não tinha plano de voo, o piloto não era habilitado e voava baixo para fugir dos radares. A mesma aeronave há havia feito pelo menos cinco outros voos na região.
Na semana seguinte, no dia 27, outro helicóptero fez um pouso forçado no município de Batayporã. Ele foi destruído pelo fogo e a investigação apontou que o incêndio foi criminoso para dificultar o trabalho da polícia. Partes da aeronave chegaram a ser desmontadas, indicando que os proprietários tivessem interesse em reutilizar algumas peças, mas depois desistiram e colocaram fogo em tudo. Nenhum ocupante procurou socorro médico ou fez registro sobre o acidente.
Por último, já neste ano, no dia 9 de fevereiro, dois ocupantes de um helicóptero morreram do lado paraguaio da fronteira, no departamento de Concepcion, a cerca de 85 quilômetros da fronteira. As vítimas eram um brasileiro e um paraguaio.
A suspeita é de que a fatalidade tenha ocorrido porque o piloto estava muito baixo e acabou atingindo a rede de energia. E, de acordo com a polícia, a baixa altitude é uma das características de atuação dos narcotraficantes.
O piloto e o helicóptero era brasileiros e os familiares da vítima não souberam informar com exatidão qual o tipo de trabalho ele fazia na região de fronteira entre Brasil e Paraguai.
MOTINHA
Em nenhuma das sete ocorrências elencadas acima os investigadores informaram os nomes dos proprietários destas aeronaves, que podem ter custo da ordem R$ 5 milhões. Porém, em operações da PF no dia 30 de junho e 11 de maio deste ano, a instituição informou que a quadrilha comandada pelo sul-mato-grossense Antônio Joaquim da Mota, o Motinha, é especializada no uso de helicópteros para o transporte de cocaína
Informou, ainda, que em menos de três anos apreendeu 12 aeronaves pertencentes ao grupo. E, nesta quinta-feira (03), em mais uma operação da PF, outro helicóptero foi apreendido. Ele estava em um hangar na cidade paulista de Americana.