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Política
10/07/2012 06:15:35
ONG usa faxineira para desviar verba do Ministério da Ciência e Tecnologia
O esquema de desvios abastecido com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) em convênios com o Instituto Muito Especial se valia de empresa registrada em nome de uma "laranja", moradora da favela Parque União, no Complexo da Maré, zona norte do Rio.

Estadão/LD

\n \n O\n esquema de desvios abastecido com recursos do Ministério da Ciência e\n Tecnologia (MCT) em convênios com o Instituto Muito Especial se valia de\n empresa registrada em nome de uma "laranja", moradora da favela Parque\n União, no Complexo da Maré, zona norte do Rio. \n \n Uma\n das cinco firmas contratadas nas parcerias entre a pasta e a entidade, a B.\n Loris Produções e Eventos, tem como sócia a faxineira Maria de Fátima Conrado\n Ferreira, 54 anos. Ela batalha diariamente fazendo limpeza num prédio no Centro\n do Rio e divide um sobrado com a mãe de 81 anos, duas filhas - uma delas\n beneficiária do programa Bolsa Família - e netos. \n \n Documentos\n obtidos pelo Estado mostram que Maria de Fátima consta como dona de 99% da B.\n Loris. A empresa tem capital social de R$ 150 mil e a atividade principal é a\n prestação de serviços de organização de feiras, congressos, exposições e\n festas. A sede da B. Loris está registrada no escritório de empresa em\n Saquarema, que empresta seu endereço a 500 pessoas jurídicas. \n \n O\n Estado entrou em contato com familiares de Maria de Fátima na sexta-feira.\n "Ela nunca teve e não tem (empresa). Trabalha no setor de limpeza e\n garanto que não tem empresa", disse Arizete Conrado, 81, mãe da suposta\n dona da B. Loris. "Minha mãe é faxineira. Trabalha com limpeza",\n indignou-se Glacilene Ferreira, uma das filhas dela. \n \n Maria\n de Fátima atendeu a telefonema do Estado à noite. "Só vou dizer que\n conheço a empresa", afirmou. Ao ser informada de que consta como dona de\n 99% da B. Loris, respondeu: "Tá bom. Eu tenho 99%." Ela não soube\n explicar quais eram as atividades da empresa. \n \n Questionada\n se fora orientada a dar aquelas respostas, alegou estar com pressa e dor de\n cabeça. "Não tem nada de estranho e não tem problema (se eu for\n prejudicada). Não fui orientada". A outra sócia, com 1% das cotas, é\n Silvana do Nascimento Mendes, que não foi localizada. \n \n A\n B. Loris e outras empresas são suspeitas de fraudes em convênios com o MCT,\n investigadas pela Controladoria-Geral da União (CGU). Como mostrou o Estado no\n domingo, cotações de preços eram forjadas e as mesmas fornecedoras, ligadas a\n dirigentes da entidade, contratadas para executar os convênios, todos aprovados\n na gestão do ex-ministro Sérgio Rezende (PSB-PE). Dos R$ 24,7 milhões repassados,\n 90% vieram de emendas de 11 parlamentares. \n \n Estranheza.\n Consultado, o ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp, não quis\n se pronunciar. O Muito Especial nega irregularidades. \n \n Rezende\n afirmou ontem que em 2010, de tanto receber e aprovar pleitos parlamentares\n para a entidade, estranhou e pediu a assessores para verificar. Descobriu que\n já havia assinado dez parcerias. "Achei estranho ter tanta emenda, de\n parlamentares de vários Estados diferentes, e não assinei mais. Uma entidade\n com essa articulação toda não é comum", afirmou, acrescentando que não\n pediu, contudo, nenhuma apuração a respeito, pois já estava saindo do governo. \n \n O\n ex-ministro ponderou que não havia informações sobre irregularidades na época e\n todas as aprovações seguiam pareceres técnicos e jurídicos. Ele negou\n influência de seu partido em favor da entidade: "Não há nenhuma\n orquestração do PSB e não conheço os envolvidos".