Quarta-Feira, 20 de Agosto de 2025
Meio Ambiente
18/08/2025 15:37:00
Pantanal tem o menor número de focos de calor e área queimada em quase 30 anos
Estiagem severa começou em 2019 no bioma e, desde então, o território não havia registrado níveis tão baixos de fogo

CE/PCS

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Serra do Amolar, no Pantanal de Mato Grosso do Sul (Foto: Arquivo)

No período mais crítico de estiagem no Pantanal em mais de 100 anos de monitoramento, este ano está apresentando números favoráveis em relação aos incêndios florestais. Neste ano, a área queimada no território, dividido entre Mato Grosso do Sul (65%) e Mato Grosso (35%), é a menor conforme os dados já disponíveis. Em relação aos focos de calor, houve a maior redução em quase 30 anos (desde 1998), e quase zerou as incidências.

Um período crítico de estiagem teve início em 2019, com pico em 2024. Como reflexo dessa situação de menos chuva e temperaturas altas, os incêndios florestais ocasionaram um cenário de crise no Pantanal em 2020 (26% do território queimado) e 2024 (17%).

Já este ano, o cenário mudou drasticamente e, conforme levantamentos do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), menos de 1% de área foi atingida pelo fogo.

Até agora, são 15.512 mil hectares atingidos. Desde o início do levantamento, o menor acumulado era de 2018, quando foram 198.842 mil hectares acometidos pelo fogo.

Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), desde 1998, quando inicia a série histórica de monitoramento, o bioma nunca teve tão poucos focos de calor ativos. Do início de janeiro até 16 de agosto, havia apenas 144 focos e, destes, 19 focos foram neste mês.

Em 2024, somente em agosto, o Inpe registrou 4.411 focos no Pantanal. O agosto com o menor número de focos até aqui era o de 2022, com 96.

CHUVA E FISCALIZAÇÃO

Um dos fatores que podem ter contribuído para esse cenário de, até agora, tranquilidade está relacionado ao nível do Rio Paraguai, que este ano foi favorecido com boa quantidade de chuva em sua cabeceira, e está acima do que geralmente ocorre neste período de seca.

“A régua de Ladário, que mede a altura do Rio Paraguai, começou a descer agora, no fim do mês de julho. Mesmo assim estabilizou em 3,30 metros por uns 20 dias. Normalmente, começa no fim do mês de junho e nesse período estaria com 0,50 centímetros. Ano passado também foi agravado pois o rio começou a descer em maio ainda, antecipando em quase um mês”, avaliou o coordenador estadual do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), Márcio Yule.

Além disso, por causa do forte incêndio que atingiu o bioma em 2024, este ano o Poder Público, incluindo governo do Estado e governo federal, tomaram medidas mais fortes em relação ao fogo no bioma.

Relatório do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS), com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) e o Corpo de Bombeiros aponta que ações em campo seguem sendo realizadas, mesmo com a ausência de fogo.

“Observa-se uma redução de 60% na área queimada do Cerrado em MS, e uma redução de 98,8% no bioma do Pantanal, em MS e MT, em relação ao ano passado. O Corpo de Bombeiros já está em atuação na região desde o dia 1º de janeiro e já foi empregado um efetivo de 676 bombeiros e bombeiras militares nas ações de prevenção, preparação e combate aos incêndios florestais”, observou o relatório, que analisa dados entre 1º de janeiro e 13 de agosto.

Para enfrentamento dos incêndios florestais, o governo federal também publicou a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF), que completou um ano de funcionamento. Já em Mato Grosso do Sul, o governo estadual instituiu a Lei do Pantanal,n. 6.160, de 18 de dezembro de 2023, mas que entrou em vigor em 19 de fevereiro de 2024.

Nela, constam determinações específicas para uso do solo e medidas de prevenção de incêndios florestais. Na prática, sua implantação segue realizada. Além da mobilização estadual, o governo federal também alterou sua atuação e passou a ter brigada permanente no Pantanal desde dezembro de 2024.

O Prevfogo/Ibama está com equipes mobilizadas a partir do Parque Marina Gattass, em Corumbá, e também em outras áreas, como na Aldeia Uberaba – Guató –, em área que fica entre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bolívia.

Os dados positivos identificados até agora enfrentam o desafio de prognóstico sobre as condições climáticas que favorecem os incêndios entre agosto e setembro.

“A previsão da probabilidade de fogo para o trimestre julho-agosto-setembro de 2025 mostra que grande parte do estado encontra-se em nível entre alerta alto e atenção. Em alguns municípios das regiões sul, sudoeste e pantaneira observa-se municípios em níveis de alerta”, informou o boletim mais recente do Cemtec-MS.

Resolução da Semadesc e Imasul n. 004/2025 suspendeu até 30 de novembro qualquer medida de queima prescrita e licenciamento de queima controlada em Mato Grosso do Sul para tentar evitar que algum foco de fogo perca o controle e se transforme em um incêndio.

PROTEÇÃO

Pesquisadora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Rita de Cássia Martins dos Santos analisa que o histórico grave de devastação exige que medidas mais eficazes sejam implantadas no Pantanal para proteção de sua biodiversidade e das populações que residem e dependem do território.

“Embora tenha sido protocolada uma petição requerendo a inscrição do sítio na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo, a Unesco não acatou a solicitação e manteve o Pantanal fora da lista elaborada em 2023. Conclui-se que o bioma permanece carente de proteção a nível nacional e internacional, ante a escassez de medidas eficazes para o controle dos incêndios”, alertou a pesquisadora em artigo científico.

O conselho nacional, que envolve um dos critérios para o Pantanal ter esse título de patrimônio, ficou desativado entre 2019 e início deste ano. Com o risco de haver a desclassificação, houve mobilização e o colegiado foi reativado.

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