Mundo
23/02/2012 09:00:00
Argentina: analistas dizem que acidente foi tragédia anunciada
Um dia depois do acidente de trem que deixou 50 mortos e mais de 700 feridos em Buenos Aires, aumenta a indignação na Argentina pelas condições da rede ferroviária do país e pela falta de controle do governo sobre as empresas concessionárias do transporte.
Terra/LD
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\n \n Um dia depois do acidente de trem que deixou 50 mortos e mais de\n 700 feridos em Buenos\n Aires, aumenta a indignação na Argentina pelas condições da\n rede ferroviária do país e pela falta de controle do governo sobre as empresas\n concessionárias do transporte. \n \n O trem acidentado pertence à rede administrada pela TBA,\n propriedade dos irmãos Claudio e Mario Cirigliano, um dos grupos de transporte\n mais poderosos do país, relacionados pela imprensa local com o ex-secretário de\n Transporte Ricardo Jaime, investigado por corrupção. A justiça investiga as\n circunstâncias do acidente e as possíveis causas, enquanto aumenta a polêmica\n sobre a necessidade de apurar responsabilidades para evitar que a tragédia se\n repita no futuro. \n \n O comboio havia estado dois meses parado por problemas técnicos,\n segundo dirigentes sindicais, tinha entre 40 e 50 anos de uso, transportava\n cerca de 1.500 passageiros e, como é habitual na rede ferroviária de Buenos\n Aires, fazia seu percurso com várias portas abertas, segundo testemunhas. \n \n Uma situação comum para os usuários da ferrovia argentina,\n acostumados a trens desvencilhados, sem portas ou sem guichês, sujos, velhos e,\n com frequência, com deficiências técnicas. Nem sempre foi assim. A Argentina\n chegou a ter uma das melhores redes ferroviárias latino-americanas, mas as\n privatizações maciças do governo de Carlos Menem (1989-1999) desmantelaram o\n sistema público de transporte e deixaram a rede nas mãos de empresas privadas\n que recebem suculentas subvenções. \n \n "Nas privatizações está a essência desta tragédia",\n denunciou o economista Leopoldo Markus, partidário de apontar responsabilidades\n aos sucessivos governos argentinos pela falta de controle sobre as empresas\n privadas e os subsídios. "Sem investimentos colocamos o usuário em perigo. Não funciona o\n sistema de controle", ressaltou o dirigente da União Ferroviária, Rubén\n Sobrero. Sobrero divide a responsabilidade entre as empresas privadas e o\n Executivo porque "ninguém neste governo pode dizer que desconhece a\n realidade". \n \n "Desde o momento em que uma formação sai com as portas\n abertas, todos os dias milhares de pessoas viajam com risco de morte",\n alertou o ex-promotor Eduardo Mondino. Segundo sua opinião, "isto não é um\n acidente, tem responsabilidades políticas e funcionais". No meio da\n polêmica, Roque Cirigliano, da empresa TBA, afirmou hoje que o trem\n "estava em boas condições" e não descarta que o acidente tenha sido\n causado por um "erro humano" dado que "é pouco provável que\n fique sem freios". \n \n Cirigliano esteve na estação Once, local da tragédia, no coração\n de Buenos Aires, e teve que sair rapidamente no meio da indignação generalizada\n dos passageiros. Para o auditor geral da Nação, Leandro Despouy, "estão\n dadas as condições para que o Estado possa proceder a rescisão da\n concessão" da TBA, porque o acidente foi "consequência direta do\n descumprimento de normas básicas". \n \n Despouy, em declarações à Radio Continental, lembrou que a\n Auditoria Geral da Nação realizou em 2008 um relatório sobre "as\n deficiências que apresentava o serviço" nessa linha e afirmou que "a\n situação era desastrosa", especialmente as condições do sistema de freios.\n Desde então, denunciou, o estado dos trens da linha Sarmiento "não mudou\n mais para evitar este tipo de situações". \n \n As críticas atingiram também o governo de Cristina Fernández de\n Kirchner, e muito especialmente o secretário de Transportes, Juan Pablo\n Schiavi, que horas depois do acidente declarou que a tragédia foi mais grave\n pelo costume dos argentinos de viajarem nos primeiros vagões. "As pessoas\n não eram responsáveis por estarem ali, apertadas (...). A gravidade da tragédia\n é que ela estava anunciada", respondeu nesta quinta-feira o jornalista\n Ricardo Kirchbaum em um artigo no jornal Clarin.\n \n \n \n
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