Domingo, 4 de Maio de 2025
Política
18/02/2016 12:22:00
A vitória de Leonardo Picciani vai custar caro ao governo
O Palácio do Planalto venceu e recolocou seu aliado à frente da bancada do PMDB; mas terá problemas com uma bancada dividida, insatisfeita e imprevisível

Época/PCS

Imprimir
O deputado federal Leonardo Picciani (PMDB-RJ) comemora vitória no Congresso. Ele foi eleito líder do PMDB na Câmara (Foto: Aílton de Freitas/ Agência Oglobo)

Para quem está em uma situação tão ruim no Congresso, como o governo Dilma Rousseff, a vitória do deputado Leonardo Picciani para liderança do PMDB, nesta quarta, pode ser um alívio momentâneo. Aliado de Dilma desde o ano passado, Picciani, do Rio, derrotou Hugo Motta, da Paraíba, por 37 votos a 30. Sua presença na liderança segura um pouco o ímpeto da bancada do partido que, em tese, deveria ser o maior aliado do governo, mas por vezes é seu pior inimigo.

Picciani pode ajudar em manobras dentro da Câmara para retardar a tramitação do pedido de impeachment de Dilma. Pode ajudar a segurar alguns projetos incômodos para o governo e incentivar outros favoráveis, como a recriação da CPMF para reforçar o caixa com mais dinheiro do contribuinte. Entretanto, o custo da vitória de hoje será alto e cobrado a partir de agora, por muitos meses, pelo pior adversário de Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Trata-se do tipo de triunfo que prenuncia problemas.

Assim, o que se espera nos próximos meses é um comportamento errático da bancada do PMDB, bastante dividida entre os que estão com Picciani e os que estão com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, inimigo de Dilma. Hugo Motta era apenas o representante de Cunha na briga, assim como Picciani era e é o representante do governo – e o Palácio do Planalto se comprometeu bastante para conseguir interferir na disputa. O placar de 37 a 30 mostra que, nos próximos meses, o PMDB terá na Câmara uma bancada em que muitos não se entendem e se tratam como adversários; uma bancada na qual alguns tem cargos no governo, enquanto outros nada tem. Se é ruim lidar com um PMDB unido, é muito pior lidar com um PMDB desunido e dividido entre ajudar o governo ou avançar sobre ele.

A derrota desta quarta-feira é um sinal inequívoco do enfraquecimento político de Eduardo Cunha. Desde que foi engolfado pelas investigações da Operação Lava Jato, Cunha perde poder paulatinamente. Cunha se empenhou pessoalmente na candidatura de Motta e escalou seus principais aliados para impor um novo constrangimento ao Palácio do Planalto e, de quebra, fortalecer sua posição dentro do Legislativo.

Afinal, ele esperava contar com a influência direta de um líder do PMDB "amigo" para preencher as presidências de comissões importantes com aliados e manter sua até então incontestável autoridade no funcionamento da Câmara. Além do mais, Cunha contava com a solidariedade de um líder do PMDB alinhado aos seus interesses no Conselho de Ética, colegiado no qual responde a um processo de cassação de mandato por envolvimento no petrolão. Picciani nunca o defendeu no conselho e não há a menor indicação de que pretenda fazer qualquer aceno agora.

Mas a derrota não significa que Cunha não terá capacidade de atiçar parte do PMDB e da Câmara contra o governo. Cunha já provou ser uma espécie de Harry Houdini na política. Houdini, o ilusionista, ficou famoso na virada do século 19 para o 20 com números em que era acorrentado de diversas as formas e colocado em caixas ou num aquário - e, para surpresa de todos, sempre escapava. Quando parece que os adversários ou as forças da lei colocaram Eduardo Cunha em uma situação incontornável, ele encontra uma brecha regimental para escapar. Nada indica que Leonardo Picciani e o governo podem acreditar que venceram Cunha e têm o PMDB da Câmara ao seu lado.

COMENTÁRIO(S)
Últimas notícias