Domingo, 4 de Maio de 2025
Política
26/03/2015 17:40:00
Graça Foster diz que Operação Lava Jato muda Petrobras 'para melhor'
Ex-presidente da estatal presta depoimento à CPI que investiga a empresa. É a quinta vez que ela é ouvida pelo Congresso sobre as irregularidades.

G1/PCS

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Em depoimento à CPI da Petrobras, a ex-presidente da estatal Maria das Graças Foster afirmou nesta quinta-feira (26) que, na opinião dela, a Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), muda a estatal "para melhor".

Ela também disse ao colegiado que as suspeitas de corrupção envolvendo a petroleira vieram à tona devido ao trabalho da PF e do Ministério Público Federal (MPF). Segundo a ex-dirigente, mecanismos de controle interno e externo, como Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria Geral da União (CGU), não conseguiram detectar as irregularidades.

Funcionária de carreira da petroleira, Graça Foster deixou o comando da empresa em fevereiro desgastada pelo esquema de corrupção que atuava na estatal. Esta é a quinta vez que ela é ouvida no Congresso Nacional para dar explicações sobre as suspeitas de irregularidades na Petrobras, mas a primeira oportunidade em que é ouvida na situação de ex-presidente.

"Eu não tenho dúvida do bem que a Operação Lava Jato já vem causando à Petrobras. Existe uma série de marcas que vão ficar na nossa história eternamente. Nós não vamos esquecer nunca o ano de 2014, mas a Lava Jato realmente muda a Petrobras para melhor, não tenho dúvida disso", destacou a ex-presidente.

“Não foi a Petrobras que descobriu corrupção na Petrobras”, enfatizou. “Entendo que o descobridor foi a Polícia Federal, foi o Ministério Público Federal, que descobriram [o esquema], a ser confirmado o cartel e tudo posto na mídia. O grande descobridor foi a Polícia Federal”, reiterou Graça.

Apesar de admitir que o esquema de corrupção investigado pela Lava Jato se infiltrou na Petrobras, a ex-presidente ressalvou que os pagamentos de propina não eram "institucionalizados", ou seja, não eram uma prática adotada pela própria empresa. Conforme ela, apenas algumas pessoas eram responsáveis pelas irregularidades.

Ela afirmou ainda não haver evidência de que a formação de cartel e pagamento de propinas tenham ocorrido durante sua gestão como presidente da estatal, mas sim, antes de 2012.

“O esquema de corrupção se formou fora da Petrobras”, assegurou Graça Foster aos parlamentares.

No depoimento que concedeu na última semana à CPI, o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli já havia declarado que era “impossível” detectar corrupção na estatal pelos procedimentos e meios de controle da empresa.

Nesta quinta, Graça Foster explicou aos deputados que, após a deflagração da operação Lava Jato, em março do ano passado, a estatal tomou ações preventivas para não contratar empresas suspeitas de formação de cartel.

"A Operação Lava Jato levou a Petrobras a determinadas situações preventivas em relação à contratação de empresas que tivessem sido apontadas pelos órgãos de controle como parte de um cartel”, destacou a ex-dirigente.

Tesoureiro do PT

Questionada pelo deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) sobre se chegou a ver, em algum momento, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, circulando pela Petrobras, Graça Foster disse que nunca o viu “em lugar nenhum”. Apontado como operador do PT no esquema de corrupção, Vaccari foi denunciado pelo Ministério Público Federal e virou réu em um dos processos da Lava Jato.

“O senhor Vaccari eu nunca vi em lugar nenhum, [só] na televisão”, afirmou.

A ex-dirigente relatou que chegou ao cargo de diretora e depois de presidente da companhia por indicação da presidente Dilma Rousseff, mas negou saber quem teria indicado os ex-diretores Renato Duque [Serviços] e Nestor Cerveró [área internacional] para o alto escalão da companhia. Ela disse não saber se foi indicação política.

Em outro momento da sessão, o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) perguntou a Graça se ela gostava mais do PT ou da Petrobras, ao que ela respondeu: “A Petrobras, mil vezes a Petrobras”.

'Fernando Baiano'

Durante o depoimento de Graça Foster, o deputado Jorge Solla (PT-BA) acusou integrantes da comissão de terem feito um “acordo” para evitar a convocação de Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado pelo Ministério Público como operador do PMDB no esquema de corrupção que atuava na Petrobras. “Como é que essa comissão pode continuar sem convocar Fernando Soares?”, questionou o petista.

Na última terça (24), a CPI aprovou requerimento para convocar o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, para depor, mas não analisou pedido para chamar o suposto operador do PMDB.

O deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES) rebateu o deputado petista destacando que o próprio relator da CPI, deputado Luiz Sérgio, não incluiu a convocação de Baiano no plano de trabalho. “Isso é uma leviandade. Por acaso, a convocação de Fernando Soares consta do plano de trabalho apresentado pelo relator da CPI?”, ironizou.

Luiz Sérgio respondeu que não incluiu a convocação do suposto operador do PMDB, porque, segundo ele, seria impossível reproduzir no plano de trabalho todos os mais de 300 requerimentos que haviam sido apresentados até aquele momento à comissão. Ele negou ainda que tenha agido para "perseguir ou proteger quem quer que seja".

Pagamentos de propina

Em meio ao depoimento, a ex-presidente da Petrobras disse que, assim que veio à tona a revelação de que a empresa holandesa SBM Offshore pagou propina a funcionários da estatal, os contratos foram interrompidos. O ex-gerente Pedro Barusco confirmou o recebimento de suborno em depoimento à Polícia Federal.

Assim como já havia afirmado em depoimentos anteriores no Congresso Nacional, Graça Foster reiterou nesta quinta-feira que “nunca soube de propina na Petrobras”. Ela explicou aos parlamentares que tentou descobrir mais detalhes sobre esses subornos, mas, segundo a ex-presidente, a empresa não revelou valores nem quem seriam os beneficiários.

A ex-dirigente, contudo, reconheceu ser improvável que ninguém mais da empresa soubesse dos pagamentos de propina. “Eu tenho dificuldade em aceitar que um gerente no meio da linha hierárquica possa receber uma vantagem sem que outros soubessem”, declarou. (assista ao vídeo ao lado).

Ela ponderou que a SBM é uma das melhores empresas na área de aluguel de plataformas de petróleo e que a Petrobras tem interesse em esclarecer a denúncia para retomar contratos.

“Tão logo soubemos da propina, cancelamos qualquer relação comercial com a SBM”, disse. “Até hoje, não temos um retrato oficial dessa questão da propina da SBM. Até hoje, não há uma conversa com nomes e valores, e a Petrobras busca isso intensamente para que possa de fato voltar a contratar a SBM”, complementou.

Graça admitiu que se sente constrangida sobre as denúncias em torno da estatal. “Tenho realmente um constrangimento muito grande de tudo isso, de olhar para vocês, mas estou sendo muito sincera”.

Ao deixar o plenário da comissão, Graça Foster foi perguntada se o sentimento é de "alívio", após o depoimento. "Eu sou uma aposentada feliz", respondeu.

Cartel de empreiteiras

Ainda durante o depoimento, questionada sobre a suspeita de formação de cartel entre empresas fornecedoras da Petrobras, a ex-presidente garantiu que “jamais” soube de qualquer resultado de licitação antes da abertura dos envelopes com as propostas.

“Eu posso garantir, como diretora de gás e energia e como presidente da Petrobras, eu jamais soube de um resultado, quem seria o vencedor, até a hora em que os envelopes são abertos. Eu nunca soube de resultados antes da hora”, afirmou.

Graça Foster ainda negou ter mentido, no ano passado, à CPI mista da Petrobras sobre desconhecer o pagamento de propina na estatal. Parlamentares da oposição, incluindo o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), criticaram o seu depoimento após a revelação feita pela ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca de que ela alertou Graça sobre a corrupção na empresa.

“Eu recebi essa notícia e fiquei muito chateada, muito triste, porque respeito os parlamentares e não menti”, afirmou nesta quinta.

Ela justificou dizendo que, assim que veio à tona a declaração de Pedro Barusco de que recebeu dinheiro por fora, a Petrobras tentou identificar as irregularidades apontadas e cortou as relações comerciais com a empresa.

“Nossa comissão interna olhou contrato a contrato, aditivo a aditivo, num primeiro momento, e, num segundo momento, recebemos um telefonema de um senhor da SBM que dizia que havia sido, sim, pago propina. Perguntei para quem e ele dizia que não sabia. E avisei que não ia contratá-lo mais enquanto não dissesse o nome”, disse.

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