Quinta-Feira, 2 de Outubro de 2025
Política
23/09/2025 15:13:00
Trump diz que Lula é um bom homem e fala sobre encontro semana que vem

BBC/PCS

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Foto: Reuters

O presidente americano Donald Trump afirmou em discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (23/9) que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é "um cara legal" e disse que os dois mandatários devem se encontrar na semana que vem.

O breve encontro entre os dois presidentes foi confirmado pela assessoria de Lula em seguida. Ocorreu logo após o discurso do brasileiro, que abriu a assembleia.

Segundo a BBC News Brasil apurou com fonte do governo brasileiro, Trump assistiu ao discurso de Lula pelo telão, e, após a fala do brasileiro, os dois se encontraram, se cumprimentaram e conversaram brevemente.

Não ficou claro para o governo brasileiro se a conversa ocorrerá pessoalmente ou por telefone, de acordo com a mesma fonte. Não houve ainda um convite formal para essa reunião.

"Nós o vimos, eu o vi. Ele me viu e nos abraçamos. E então eu disse: 'Você acredita que vou falar em apenas dois minutos?' Na verdade, combinamos de nos encontrar na semana que vem. Não tivemos muito tempo para conversar, uns vinte segundos e pouco, pensando bem", afirmou Trump.

"Tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na semana que vem, se isso for do interesse dele. Mas ele parece um cara muito legal. Na verdade, ele... Ele gostou de mim, eu gostei dele, mas... E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto, eu não faço [negócios] quando não gosto da pessoa. Quando não gosto, eu não gosto", seguiu o americano.

Trump afirmou que eles estiveram juntos por "30 segundos". "Tivemos uma química excelente."

Esse foi o primeiro encontro entre os dois presidentes desde que ambos voltaram ao poder, Lula em 2023, e Trump, em 2025.

A fala sobre Lula, a primeira de Trump se referindo textualmente ao brasileiro, ocorreu enquanto o republicano falava sobre o tema das tarifas.

"O Brasil agora enfrenta tarifas pesadas em resposta aos esforços sem precedentes para interferir nos direitos e liberdades de cidadãos americanos e de outros países, com censura, repressão, armamento, corrupção judicial e perseguição de críticos políticos nos Estados Unidos", afirmou Trump.

Analistas ouvidos pela BBC News Brasil veem o aceno de Trump como positivo, ao mesmo tempo em que lembram que o americano costuma ter comportamento errático até mesmo com aliados.

O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, disse em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, que uma conversa entre os dois poderia acontecer por meio de um telefonema ou videoconferência.

"O presidente Lula está sempre pronto para conversar com qualquer chefe de Estado que seja do interesse do Brasil e, neste caso, isso pode acontecer também por um telefonema ou videoconferência porque, infelizmente, o presidente está muito ocupado, tem uma agenda muito cheia. Talvez não seja possível se encontrar pessoalmente, mas eles encontrarão uma forma", disse Vieira.

Já o assessor internacional da Presidência, Celso Amorim, disse ao jornal O Globo que "é preciso esperar os próximos dias, ou semanas" para ver o desenrolar das negociações após o aceno de Trump.

"Falar em 'nice guy' [cara lega], é uma mudança de tom. Como isso vai repercutir nas pessoas que tomam decisões é outra coisa. Houve problemas graves com a mulher de [Alexandre] de Moraes, e vários outros. Não sei como isso vai se alastrar na política", seguiu Amorim.

Lula 'pronto para conversar'

A expectativa de uma conversa entre Trump e Lula ocorre desde o início de julho, quando Trump anunciou as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, citando como um dos motivos a investigação e posterior julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, seu aliado, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A poucos dias de embarcar para os EUA para a reunião da ONU, Lula afirmou em entrevista à BBC News Brasil que estava "pronto para conversar" caso o governo americano e seu presidente estivessem abertos a dialogar (leia a entrevista completa).

Lula afirmou não ter "problema pessoal com o presidente Donald Trump" e declarou que, caso cruzasse com o republicano nos corredores das Nações Unidas, iria cumprimentá-lo.

"Porque eu sou um cidadão civilizado. Eu converso com todo mundo, eu estendo a mão para todo mundo."

Questionado pela reportagem sobre o tarifaço dos EUA contra o Brasil, o presidente disse que a melhor alternativa "para qualquer conflito" é "sentar em torno de uma mesa e negociar".

Até o acendo de Trump nesta terça-feira, as negociações estavam praticamente paradas, com o próprio Lula reclamando da falta de conversas mesmo em nível ministerial ou técnico.

Para Paulo Velasco, professor de política internacional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a fala de Trump contém um aceno ao Lula, mas pode ser também perigosa.

"É uma fala perigosa, porque, mesmo dizendo que Lula é uma boa pessoa, essas bobagens assim, vazias de conteúdo significativo, ele joga a batata quente para o Brasil, mencionando que houve um combinado de se encontrarem na próxima semana, se o Lula quiser", diz Velasco.

No discurso na ONU, Lula criticou as ameaças de Trump direcionadas ao Brasil. Falou sobre "sanções arbitrárias e intervenções unilaterais", mas sem mencionar o presidente americano ou os Estados Unidos.

O presidente brasileiro afirmou também que "atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra".

"Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis", afirmou Lula, tendo citado antes a condenação de Bolsonaro pelo STF.

"Seguiremos como nação independente e como povo livre de qualquer tipo de tutela."

Os discursos de Lula e Trump ocorreram um dia depois de uma nova rodada de sanções dos Estados Unidos contra o Brasil.

Na segunda-feira (22/09), o Departamento de Estado americano incluiu a advogada Viviane Barci de Moraes, mulher do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, na Lei Magnitsky.

Moraes, relator da ação penal que condenou Bolsonaro, já havia sido submetido à Magnitsky no fim do julho.

A aplicação dessa lei é umas das punições mais severas disponíveis contra estrangeiros considerados pelos EUA autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.

Além de Viviane, também foi punida sob a Lei Magnitsky a empresa Lex - Instituto de Estudos Jurídicos, mantida por ela e pelos três filhos do casal: Gabriela, Alexandre e Giuliana Barci de Moraes.

Segundo o Departamento de Estado, a medida visa sancionar a "rede de apoio" a Moraes.

"Aqueles que protegem e permitem que atores estrangeiros malignos como Moraes ameaçam os interesses dos EUA e também serão responsabilizados", diz uma nota do órgão americano.

Também na segunda, o governo Trump revogou o visto do advogado-Geral da União, Jorge Messias, e de outros seis membros do Judiciário brasileiro, além de seus familiares diretos.

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